Pensar nem sempre é estar doente dos olhos

O maravilhoso heterônimo de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro, diz em um dos poemas que amamos que " pensar é estar doente dos olhos", porque ele quer que seus leitores se ponham a sentir o mundo. Mas, como hoje poucas pessoas fazem qualquer uma das duas coisas ( pensar e sentir), permitimo-nos dizer que sentir é fundamental, mas pensar também. Exercite essas duas capacidades: leia mais, viaje mais, converse mais com gente interessante, gaste seu tempo discutindo ideias e não pessoas.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Escola de Bernardo–poesia à Manoel–Fabiano Fontes

 

*

Tsunami é palavra espirro,

então,

Deus espirrou no Japão?

 

*

Manoel é poeta palavra

              enfeitiça natureza

                              encanta gente

                                          e queria ser Bernardo.

 

*

Hoje choveu o dia todo

e os meus olhos se sentiram enxutos

por alguns segundos

 

*

Para que tanta relógio?

se ainda não aprendi

a dobrar os ponteiros do tempo.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Sou meio burrinha....

Às vezes, em virtude de eu ser meio burrinha, tenho dificuldade de compreender algumas coisas, portanto estou pedindo ajuda: alguém pode me explicar por que, mesmo depois de todos os escândalos no DNIT, o governo federal acabou de liberar 500 milhões em verbas extras para obras justamente em estados investigados por desvios?????
Eu sou a única que fica indignada com isso?
Dificuldade número 2: CPMF de volta, depois de todas as promessas?????? Eu já assumi aqui que, embora não tenha votado nela, até agora estou gostando do governo Dilma, mas a presidente precisa garantir que esta barbárie da CPMF não retorne: NÃO precisamos de mais impostos, precisamos de HONESTIDADE, TRANSPARÊNCIA E BOM DESTINO DOS RECURSOS PÚBLICOS, isso, certamente, resolveria boa parte das mazelas da saúde sem a necessidade de mais cobranças. Já trabalhamos 4 meses do ano só para pagar impostos, não é possível que isso não seja suficiente!
Difuldade número 3: onde foram parar as notícias sobre o escândalo envolvendo a ministra chefe da Casa Civil e o marudo dela? Ouvi na CBN uma entrevista com ela tentando explicar o inexplicável. Embora o Sardenberg tenha feito de tudo para fazê-la admitir que ser despedida da Itaipu com direito a indenização(quando, na verdade, foi ela quem pediu demissão) era antiético, ela saiu com evasivas. Se o governo está realmente limpando a casa, como dizem, então a faxina tem de ser geral. É preciso cortar na própria carne.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

O ciume lançou sua flecha preta....

Tenho visto estes dias nos jornais notícias sobre um assunto que me deixou intrigada: Dilma não quer ouvir elogios demasiados a seu governo. Isso mesmo: NÃO QUER ELOGIOS! É a primeira vez que vejo isso na história desse país ( kkkk). Porém, logo compreendi o que estava acontecendo: o ex-presidente Luis Inácio Aparecidinho Mimado Egocêntrico Lula da Silva ficou de biquinho, magoadinho porque a criatura está fazendo mais sucesso do que o criador, não é curioso? Lula escolheu Dilma como sucessora, pensavam todos, porque confiava na capacidade administrativa dela ( coisa que ele próprio nunca teve), mas vejam só, ele queria mesmo era um sucessor impopular, que não suplantasse seu carisma. Ora faça-me um favor, o Brasil precisa de um(a) presidente competente e não de um galã ou queridinho do povo que seja populista. Até agora, aliás, eu estou pagando minha língua e espero pagar muito mais. Sim, porque todos sabem que não votei na Dilma porque não gosto dos governos do PT de um modo geral ( aqui em Maringá tinha sido péssimo e o de Lula dispensa cometários), entretanto até agora ela tem me surpreendido para o bem e eu quero mais é ter mesmo de pagar a minha língua, porque se isso acontecer é sinal de que o país tomou o rumo certo após 8 anos de viagens, palavrório, metáforas desgastadas sobre futebol e muitos escândalos de corrupção não resolvidos.
O que me espanta, diante do ciuminho de Lula, é pensar que ele pode ter imaginado colocar Dilma na presidência só para poder mandar nela e continuar sendo o cara. Até eu que  não sou do PT percebi, já na época da campanha, que a presidente poderia ter qualquer defeito, mas certamente não seria submissa: o histórico dela já demosntrava que era alguém de opinião forte. É, parafraseando Geraldo Azevedo:  O ciume lançou sua flecha preta e se viu ferido justo na garganta, quem nem alegre, nem triste, nem poeta, nem presidente, entre São Paulo e Brasília não mais encanta!

domingo, 7 de agosto de 2011

A arte de não dizer

Há semanas tento escrever um post que não sai. Palavra presa na garganta, recôndita em algum canto escuro do nada.Tenho pensado muito sobre o não dizer, sobre o calar proposital, vácuo de palavra que permite aos pensamentos se ordenarem. O problema é que o vazio verbal insiste em me perseguir: será que já gastei todas palavras a serem escritas? Será que o léxico que me sobrou é apenas uma junção non sense do nada? Nesse caso eu poderia pegar um jornal e uma tesoura e fazer um poema dadaísta, porém isso é gasto, vanguarda datada presa ao seu tempo. Bem, se não sou Verlaine, Mallarmé, Rosa, Lispector, Pessoa ou Espanca, se minhas palavras inúteis estão surradas - jeans velho esperando o dia da pescaria no fundo do armário - só me resta o consolo nas palavras de Emily Dickinson: "Uma palavra morre/quando é dita/dir-se-ia/ mas eu digo:/ ela apenas vive nesse dia." Tomara que ela tenha razão.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Reforma Política Urgente!

Acabo de ler no site de O Globo:"O Senado terá, com a morte de Itamar Franco e a possível posse de José Perrella , quase um quinto dos seus parlamentares em exercício "sem voto". Ao todo, dos 81 senadores, 15 parlamentares (18,5% do total) são suplentes que assumiram ou vão ocupar vaga na Casa ainda em 2011. Os motivos das substituições são variados, mas a maioria ocorreu quando os senadores renunciaram para disputar o cargo de governador (5 casos) ou pediram afastamento para chefiar um ministério (4 casos)." 
Isso é simplesmente vergonhoso! Já passou da hora de haver uma reforma polítca que, entre outras coisas, acabe com esses suplentes nomeados por partidos, afinal quando votamos em um senador quantas vezes vemos divulgados os nomes dos suplentes? Quem são eles? Por que foram escolhidos? O certo seria que a cadeira deixada vaga, por qualquer motivo que seja, fosse ocupada pelo senador que obtivera mais votos na sequência dos que foram eleitos, ou seja, se formaria uma espécie de "lista de espera para segunda chamada."
Além disso, é fundamental que a reforma polítca atinja também os municípios e estados. Aqui em Maringá, por exemplo, já que a lei teoricamente permite, os nossos ilustres vereadores estão querendo aumentar novamente o número de membros na Câmara de 15 para 21. A pergunta é para quê? O que têm feito os 15 vereadores que já existem?

 A verdade é que nossos políticos, de uma forma geral ( salvo raríssimas exceções) são pouco atuantes, muito discursivos e demasiadamente interessados nas benesse advindas de seus cargos. Resultado prático de seu trabalho vemos pouco, porém pedidos de aumentos de verbas, aumento de cargos comissionados, nepotismo e impunidade vemos muito. O que me espanta é que, apesar disso tudo, muitas pessoas ainda têm coragem de dizer que não querem saber de polítca. Ora, se com alguns cuidando muita "palhaçada" já acontece ( Tiririca Deputado e lutando pela Edução, vejam só o paradoxo) imaginem se abríssemos mão. O que precisamos é de voto facultativo, voto distrital misto, fim da suplência como está, redução de cargos comissionados e muita, mas muita, fiscalização popular para ver se este "País do futuro" se transforma em nação do presente algum dia.



segunda-feira, 27 de junho de 2011

Qual a extensão da ignorância e do preconceito

Desde que o STF aprovou a união civil entre pessoas do mesmo sexo tenho ouvido toda a sorte de barbaridades sobre a aprovação da lei . Compreendo que muitas pessoas sejam contra a lei por motivos religiosos, mas não aceito que tais motivos sejam excusa para atos intolerantes, homofóbicos e preconceituosos, afinal os gays querem apensa garantir direitos que já são concedidos aos heteros. Primeiramente, aos donso da verdade e da religião ( que pensam que só eles serão salvos) é preciso lembrar que Jesus Cristo tomou como seu principal mandamento "amai-vos uns aos outros como eu vos amei", então, para os que se dizem tão cristãos seria razoável pensar que discriminar o outro por sua orientação sexual não é algo Cristão. Mas a bíblia condena o homossexualismo, diriam os mais afoitos. É verdade, mas a mesma bíblia também condena usar o nome de Cristo em vão ou para tirar proveito próprio, coisa que temos visto frequentemente em igrejas de várias orientações. De mais a mais, os tais preconceituosos, se leem mesmo a bíblia deveriam saber que no Evangelho de São Lucas está escrito: "Não julgueis para não ser julgado; não condeneis para não ser condenado" e "Mais vale um pecador arrependido do que 99 justos que adentrem o reino dos céus" e mais, Jesus Cristo, diante do iminente apedrejamento de Maria Madalena proclamou: " aquele que dentre vós não tendes um pecado que atire a primeira pedra." Acho curioso como esses religiosos fervorosos se acham no direito de serem mais realistas que o rei, sim porque se Jesus, em pessoa, perdoaria qualquer ser humano, quem esses humanos pensam que são para condenar alguém? Ainda é bom lembrá-los de que soberba é pecado capital e nada mais soberbo do que se achar o próprio Deus ( o erro de Lúcifer foi esse!).
Em seu maravilhoso conto " A Igreja do Diabo", Machado de Assis nos conta que o Diabo resolveu montar uma igreja na terra, porém antes resolveu comunicar o fato a Deus, imaginando que Ele fosse ficar furioso. Deus, ao contrário, deu apoio ao Diabo. Este, por sua vez, achou que todos iriam para a Igreja dele, porque lá poderiam pecar e mentir à vontade: sua tese era a de que os fiés de Deus tinham mantos de seda com franjas de algodão e por elas( que simbolizam o pecado) ele os pegaria. No início, de fato, a igreja do Diabo lotou, mas com o passar do tempo as pessoas passaram a sair da igreja do diabo e fazer caridade escondidas. Indignado, ele foi falar com Deus para compreender o fato, ao que Deus retrucou: "Os meus fiés têm mantos de seda com franjas de algodão e os seus mantos de algodão com franjas de seda. É a eterna contradição humana." Ou seja, duvido que estes pastores, padres e religiosos fervorosos que apontam agora seus dedinhos para os gays e lésbicas não tenham eles próprios suas franjas de algodão. Fiquei pasmada ao ler no Yahoo hoje que Miriam Rios, ex atriz e  agora deputada, associou gays a pedofilia dizendo: "Imagine que eu contrato um motrista gay e ele resolve bolinar meu filho, eu não posso demiti-lo porque a lei não permite." Santa ignorânica, dona Miriam, se algum motorista bolinar seu filho ele vai sim ser preso por pedofilia, mas duvido que ele faça isso apenas por ser gay. Pela sua lógica um motorista heterossexual jamais teria coragem de bolinar uma filha sua. Meus Deus, só mesmo o senhor em sua infinita sabedoria e paciência para compreender tanta burrice e tanto preconceito. Espero que dona Miriam e seus comparsas tenham tempo de se arrepender antes do juízo final!

terça-feira, 14 de junho de 2011

Datas comemorativas: adendo

 Como o post anterior rendeu comentários interessantes, gostaria de completá-lo. Na verdade, gente, concordo com o André sobre o Natal ( embora me sinta depre por motivos pessoais nessa época)porque este é uma festa que tem um sentido religioso, só a olha como comércio quem quer. Já o dia dos namorados, dia das mães, dia dos pais, dia das crianças são datas puramente comerciais, por isso acho que não têm sentido. Acho tenebroso comemoração de dia dos pais e mães nas escolas: o que fazer com quem é órfão? Com aqueles cujos pais abandoram? Ah, você não tem pai, mãe? Então fica aí no cantinho brincando de fantasma! É cruel e quando somos crianças não podemos nos defender dos comentários maldosos alheios. Acho que o Ian está certo em dizer que temos o direito de ser um pouco egoístas quando amamos ( e todos somos mesmo), só não concordo com o bombardeio a que as pessoas são expostas, visto que muitos, sem compreender o real significado do que fazem, endividam-se e apostam nos presentes para resolver problemas existenciais, que apenas serão minorados enquanto o efeito do presente durar. Posso até ser ingênua e sentimentalista, mas ainda prefiro lembranças singelas( bombons, uma comida preferida, um café na cama) que aparecem de supresa, porque assim sabemos que aquela pessoa realmente pensou em nós e não foi compelida a fazê-lo porque as propagandas na tv não param de alerta-la. Que venham os novos comentários. Adoro querelas!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

As datas comemorativas, a frustração e as possibilidades do amor

É curioso como essas datas comemorativas, tais como o Dia dos Namorados, apesar de puramente comerciais, mexem com as pessoas. Desde quarta -feira tenho acompanhado pelo meu Facebook dezenas de posts frustantes, de bons amigos e amigas que, por estarem solteiros temporariamente, têm se sentido deprimidos nestes dias. Alguns, para esconder este fato, desdenham do amor e suas pieguices deliciosas, outros derramam-se em citações tristonhas acerca de amores que se foram.
Amar, meus amigos, é muito mais do que mandar flores ou comprar presentes ( muitas vezes inúteis) forçados por uma data. Sim, porque várias pessoas presenteiam, saem para jantares em que serão mal atendidas, em lugares lotados, apenas porque se sentem coagidas  a fazê-lo. Amar é estar junto no dia a dia, é fazer pequenas delicadezas ao longo de toda a vida - e não apenas no dia 12 de junho- é rir de bobagens, é compartilhar momentos de silêncio e, também, ser compreensivo nas horas em que estamos chatos. Além disso, ter ou não um parceiro é algo que pode ser passageiro e que só diz respeito a cada um de nós. Não gosto de datas comemorativas, justamente, porque elas pressionam as pessoas a se sentirem felizes, realizadas e, quem não está assim naquele momento, sente-se pior, desmerecido. A questão é que devemos tentar ser felizes porque isso faz bem à alma. Preferencialmente devemos ter uma compania porque envelhecer só é muito triste ( e que me desculpem os que têm filhos, não contem com eles, porque mesmo que estejam lá na sua velhice, não poderão oferecer o mesmo amor, carinho e companheirismo de um parceiro).
Diz a lenda de Eros e Psique que o amor é cego, justamente porque está baseado na confiança- ou deveria estar- e na capacidade de os amantes se arriscarem. Na lenda, o deus Eros(cupido) é enviado por sua mãe, Vênus, para flechar Psique e fazê-la se apaixonar por um monstro. Ocorre que Eros acaba de ferindo com a flecha quando a atira, ficando, assim, ele mesmo apaixonado por Psique. Como ele é a personificação do amor, a ele é vedado viver o amor, mas comoa paixão despertada é avassaladora, ele rapta Psique, venda-a e a leva para um castelo longínquo. Ainda vendada ele lhe diz que ela creia nele, que ele a ama muito e que virá ve-la todas as noites, período em que ambos viverão intensamente seu amor. Porém, ela jamais poderá tirar a venda, terá de confiar nele, porque se tentar fazê-lo ele terá de abandoná-la para sempre. Assim eles vivem felizes durante um bom tempo, entretanto as irmãs invejosas de Psique começam a impingir-lhe ideias: dizem que se o parceiro da irmã se esconde é porque deve ser monstruoso e que talvez até a mate um dia. Finalmente, com a dúvida plantada no coração pela inveja das irmãs, Psique resolve trair a promessa que fizera a Eros. Uma noite, quando ele chega no escuro como sempre, ela espera que ele adentre os aposentos e acende uma vela descobrindo, então, que desposara o próprio Deus do Amor e que ele era lindo! Eros, desapontado, ferido, acusa-a de traição e sai errando pelo mundo.
Pois bem, meus queridos amigos, esse mito explica por que devemos confiar em quem amamos e desconfiar daqueles que falam de nossa relação. É bem verdade que o ser humano é imperfeito e às vezes trai e fere, mas isso não é regra ( e também jamais saberemos sem correr o risco). Além do mais, se dividimos nossa vida com alguém porém confiamos mais nos outros do que me nosso parceiro(a), então nossa relação é realmente problemática. Portanto, sugiro que confiem mais, arrisquem-se mais, amem mais. Arrependam-se, se for o caso, apenas de ter vivido intensamente. "O amor tem feito coisas/que até mesmo Deus duvida/já curou desenganados/já fechou tanta ferida/o amor junta os pedaços/quando um coração se quebra/mesmo que seja de aço, mesmo que seja de pedra/fica tão cicatrizado que ninguém diz que é colado." Ivan Lins

terça-feira, 31 de maio de 2011

Redenção com Murilo Mendes

Minha Dissertação de Mestrado concluída a long, long time ago ( mais precisamente defendida em junho de 1999), para quem não sabe, foi um estudo comparado entre a poesia surrealista do poeta mineiro Murilo Mendes e as pinturas de Salvador Dali. Pois bem, ocorre que até hoje eu nunca postei algo sobre o Murilo e, para piorar, dia 13 de maio ele teria feito 110 anos e eu falhei de novo em não postar algo, então resolvi me redimir hoje. A seguir, vou colocar uma parte da biografia dele ( que eu adaptei do texto de minha dissertação) e alguns poemas para instigar um pouco a curiosidade de vocês em conhecer este poeta que tem cadeiras de estudo dedicadas a ele em várias universidades europeias( em Roma, em Madri, em Sevilha, em Berlim, em Lisboa), porém é quase um ilustre desconhecido por aqui. Aproveitem!
Murilo Mendes - breve biografia e poemas
“Aluno da Escola de Farmácia de Juiz de Fora, telegrafista, prático de farmácia, guarda-livros, funcionário de cartório, professor de francês em Palmira, arquivista do Ministério da Fazenda” eis uma parte da biografia trabalhista de Murilo Mendes, elencada por Luciana Stegagno Picchio . Biografia esta que revela um pouco da inquietude deste menino de Juiz de Fora - MG, nascido a 13 de maio de 1901, filho de Onofre Mendes e Elisa Valentina Monteiro de Barros Mendes.


Tendo ficado órfão de mãe com apenas um ano e meio, Murilo foi criado por Maria José Monteiro Mendes, segunda esposa de seu pai por quem ele nutria grande ternura e gratidão: “minha segunda mãe, Maria José, grande dama de cozinha e salão, resume a ternura brasileira. Risquei do vocabulário a palavra madrasta”. Assim refere-se o poeta à “mãe” em seu livro de memórias A Idade do Serrote.

Desde muito jovem, Murilo Mendes já mostrava suas aptidões para as artes, seu gosto pela música que advinha das canções que a madrasta “pianolava” e também da flauta de Isidoro: “Nasci coisando, nasci com a música. Recordo-me perfeitamente de ouvir o nosso Orfeu nº 1, Isidoro, flauteando na casa de meu pai”, define-se o poeta em suas memórias. Já em carta a Laís Corrêa de Araújo Ávila, Murilo define Juiz de Fora como “um trecho de terra cercado de pianos por todos os lados”(Ávila, 1972:10). Esta paixão pela música o levaria a eleger, mais tarde, como seu mentor musical, o compositor Mozart, a quem Murilo dedicou seu livro As Metamorfoses e por quem quase cometeu a seguinte loucura: telegrafar a Hitler em sinal de protesto. O motivo? O grande amor de Murilo por Mozart que o fez sentir-se agredido quando o ditador alemão invadiu Salsburg na Áustria, terra natal de Mozart. Munido da seguinte mensagem: “Em nome de Wolfgang Amadeus Mozart protesto contra a ocupação de Salsburg”(idem: 15), Murilo dirigiu-se aos correios que, felizmente, não a enviaram.

Quanto à infância do poeta, ele viveu-a em Minas, sob o jugo dos pais que pretendiam fazer dele um moço bom e trabalhador como os demais que conheciam. No entanto, o menino inquieto não se sentia bem nos bancos de escola, vendo contas e números o tempo todo, quando preferia ler e viajar em sua própria imaginação. Também em carta a Laís Ávila, a irmã de Murilo confessa: “era ótimo aluno de suas matérias preferidas, português e francês, e péssimo das que não gostava, principalmente matemática”(idem:10).

Aos dezesseis anos Murilo Mendes é encaminhado para um internato em Niterói, onde não ficaria por muito tempo devido à sua natureza insubordinada. É neste tempo que começa a escrever mais freqüentemente, já seguro de que deseja ser poeta, embora o pai achasse que este não fosse um ofício capaz de sustentar alguém. É justamente devido a este sentimento do pai, que Murilo tentou exercer tantos ofícios, percorrendo uma trajetória incessante de troca de empregos, já que não se adaptava a nenhum.

Como o poeta acabou por abandonar o internato, o pai, preocupado com o futuro do filho, resolve mandá-lo para o Rio de Janeiro, para trabalhar com o irmão mais velho. A partir daí começa mais solidamente a formação do poeta. No Rio, Murilo tem a possibilidade de entrar em contato com os ecos da Semana de Arte Moderna, ou seja, com os rumos da nova poesia brasileira. Além disso, ele conhece alguns artistas que seriam imprescindíveis em sua formação futura, dentre os quais podemos destacar Jorge de Lima e, fundamentalmente, Ismael Néri.
Com Ismael Néri, Murilo aprendeu a aprimorar seu gosto pelas artes plásticas e passou a incorporar este plasticismo em suas obras poéticas, característica que, aliás, foi utilizada por ele ao longo de toda a sua produção. Vejam isso nos poemas:

“Soltaram os pianos na planície deserta

Onde as sombras dos pássaros vêm beber.
Eu sou o pastor pianista,
Vejo ao longe com alegria meus pianos
Recortarem os vultos monumentais
Contra a lua.


Acompanhado pelas rosas migradoras
Apascento os pianos: gritam
E transmitem o antigo clamor do homem


Que reclamando a contemplação,
Sonha e provoca harmonia, trabalha mesmo à força,
E pelo vento nas folhagens,
Pelos planetas, pelo andar das mulheres,
Pelo amor e seus contrastes,
Comunica-se com os deuses.”
(“O Pastor Pianista” in: As Metamosfoses)


“Eu quis acender o espírito da vida,

Quis fundir meu próprio molde
Quis conhecer a verdade dos seres, dos elementos;
Me rebelei contra Deus[...]


Então o ditador do mundo
Mandou-me prender no Pão de Açúcar
Vêm esquadrilhas de aviões
Bicar o meu podre fígado.”
(“O Novíssimo Prometeu” in: O Visionário)



"Tua cabeça é uma dália gigante que se desfolha nos meus braços.
 Nas tuas unhas se escondem algas vermelhas,
 E da árvore de tuas pestanas
 Nascem luzes atraídas pelas abelhas.
 Caminharei esta manhã para teus seios:
 Virei ciumento do orvalho da madrugada,
 Do tecelão que tece o fio para teu vestido.
 Virei, tendo aplacado uma a uma as estrelas,
 E, depois de rolarmos pela escadaria de tapetes submarinos,
 Voltaremos, deixando madréporas e conchas,
 Obedecendo aos sinais precursores da morte,
 Para a grande pedra que as idades balançam à beira-nuvem."

(Estudo nº 6  in: As Metamorfoses)

quarta-feira, 25 de maio de 2011

E o Mundo não se acabou


Pela milionésima vez, os " sem ter o que fazer" de plantão sairam por aí dizendo que o mundo ia acabar sábado passado. De fato, com o perdão do comentário mórbido, para todos os que figuraram nos obituários o mundo se acabou mesmo, pelo menos este! Entretanto, o resto de nós, felizmente, ainda está aqui. Bem, essa bobagem toda me recordou de um ótimo samba de Assis Valente, afinal no tempo dele (1911-1958) já se faziam prenúncios dessa natureza. Assis era um sujeito melancólico, tentou duas vezes o suicídio, antes de finalmente conseguir se matar tomando formicida. O motivo alegado foram as imensas dívidas que possuía, mas certamente essa não foi a única razão. Desgraças à parte, Assis Valente é um importante ícone da música brasileira e escreveu o samba ótimo cuja letra eu coloco a seguir, junto com o video da música na interpretação de Carmem Miranda. Gostaria de ter posto a interpretação do Ney Matogrosso, mas não encontrei o vídeo, se puderem, ouçam!




Anunciaram e garantiram

Que o mundo ia se acabar

Por causa disso

Minha gente lá de casa

Começou a rezar...

E até disseram que o sol

Ia nascer antes da madrugada

Por causa disso nessa noite

Lá no morro

Não se fez batucada...

Acreditei nessa conversa mole

Pensei que o mundo ia se acabar

E fui tratando de me despedir

E sem demora fui tratando

De aproveitar...

Beijei a bôca

De quem não devia

Peguei na mão

De quem não conhecia

Dancei um samba

Em traje de maiô

E o tal do mundo

Não se acabou...

Anunciaram e garantiram

Que o mundo ia se acabar

Por causa disso

Minha gente lá de casa

Começou a rezar...

E até disseram que o sol

Ia nascer antes da madrugada

Por causa disso nessa noite

Lá no morro

Não se fez batucada...

Chamei um gajo

Com quem não me dava

E perdoei a sua ingratidão

E festejando o acontecimento

Gastei com ele

Mais de quinhentão...

Agora eu soube

Que o gajo anda

Dizendo coisa

Que não se passou

E, vai ter barulho

E vai ter confusão

Porque o mundo não se acabou...

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Exercício da alma

"Ele me deu um beijo na boca e me disse/a vida é oca como a touca de um bebê sem cabeça/ e eu ri a beça", já não rio mais. Em meio às ausências, os vazios. Solidão de gente muita entre os espaços. Saudade insistente daquilo que não vi e não sei se verei. Os calafrios e tremores da ansiedade ecoam pela casa vazia. O relógio na parede marca sempre a mesma hora: tempo infinito, não cíclico, disperso. Cheiro de fotos antigas nas paredes, o retrato da vó e do vô no alpendre. Apenas sombras, a cadeira de balanço tilintando com o vento. Passado, futuro, não-tempo? Hoje acordei sem alma. Se alguém a encontrar vagando por aí, devolva por email. Muitas vezes ela sai, menina mimada, quer autonomia, o problema é que, acostumada a ser carregada, nem sempre sabe para onde deve voltar. Aí, tenho de por anúncios nos jornais, cartazes nas ruas: procura-se por uma alma lavada e desbotada,  provavelmente encolhida num canto qualquer, ouvindo Pink Floyd. Em caso de resistência, ofereçam champagne que ela volta. Sempre que cansa de existir é assim, ela se sente lama, um anagrama de si, mas depois ela entende que está pregada a mim e que enquanto meu corpo estiver sendo, ela também terá de ser, mesmo que não que queira.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Arnaldo Antunes: "Ao vivo lá em casa" - Bárbaro

Compramos ontem o DVD "Ao vivo lá em casa", do Arnaldo Antunes: simplesmente fantástico!!! O projeto é muito inusitado: ele realmente fez o show no quintal da casa dele. Desmontou tudo: tirou telhas do telhado para passar cabos, montou centrais de video nos quartos dos filhos...um projeto altamente despojado, porém muito bem cuidado e produzido. As canções cujas letras são dele estão magníficas e as regravações ficaram curiosas. Há participações especiais do Benjor, do Erasmo Carlos, do Demônios da Garoa e Fernado Catatau. 
O DVD tem um clima afetuoso e delicioso de família lá em casa mesmo, muito bem traduzido para o público, a gente se sente meio parte da festa. Eu já conhecia algumas das canções, até porque muitas delas estão estouradas nas rádios alternativas e em trilhas do canal Multishow. " A casa é sua" e´genial, mas o DVD tem muitas outras músicas fantásticas, com arranjos simples e cuidados e execuções primorosas, com direito a Edgar Scandurra em uma das guitarras e tudo. Se eu fosse vocês ia correndo comprar. Foi uma saborosa surpresa.

domingo, 1 de maio de 2011

Ecologia ou Economia?

A recente proibição do uso de sacolas plásticas nos supermercados de Minas Gerais e a tentativa do estado de São Paulo de seguir o mesmo caminho me fizeram refletir sobre os reais motivos de tais leis. É óbvio que, à primeira vista, tudo reside numa preocupação ecológica, afinal tais sacolas levam centenas de anos para se decompor no meio ambiente. Entretanto, eu receio que os motivos reais sejam menos nobres. Pensem comigo, se objetivo é proteger a natureza, então bastaria substituir as atuais sacolas pelas biodegradáveis ou pelas antigas embalagens de papel craft usadas na minha infância. Mas estas também são poluentes, dizens uns, será? E, se forem, por que então as biodegradáveis serão vendidas pelos mercados? Parece-me lógico que quase a maioria dos consumidores reutiliza as sacolinhas de mercado para acondicionar lixo e, caso estas deixem de ser distribuídas, obrigarão os cidadãos a comprar outros saquinhos para depositar o lixo, sim, porque ele continuará tendo de ser descaratado, logo os plásticos serão utlizados da mesma forma. Porém, os mercados e afins, ao deixar de distribuir as sacolinhas não só vão economizar milhares de reais por ano como ainda vão lucrar com a venda de sacolas retornáveis e de sacolas biodegradáveis. Aliás, vi no jornal que estas últimas custarão ao consumidor R$ 0,19 a unidade, um absurdo para um produto que deve custar a esses mesmos mercados algo em torno de R$ 0,03, ou seja, o consumidor novamente pagará a conta. Por isso, sinto que a lei tem um fim muito mais econômico do que ecológico. Ademais há que se pensar ainda na falta de praticidade: como levar para casa as compras de mês? Como vai se virar o consumidor que não tem carro? Ah, esse poderá contratar as entregas dos mercados que também ganharão mais com esse serviço. A pergunta é: se não vão oferecer sacolas para proteger o meio ambiente, vão fazer entregas com carros elétricos, já que são pouco poluentes? Enfim, não sei se estamos diante de uma dúvida cruel ou de mais uma dívida cruel.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Vamos polemizar um pouco, pois isso ajuda a aprender a pensar!

Esse blog anda muito calmo, por isso escrevi um artigo para acirrar um pouco os ânimos. Leiam e emitam suas opiniões, só por favor não tomem como críticas pessoiais: são exercícos de pensamento necessários em um mundo tão cheio de gente que só repete o que ouve ou vê.
                              
                            OS DEMÔNIOS DA AREZZO — Giovana Marques Fontes

O recente repúdio de consumidores exaltados à nova coleção Pelemania, da Arezzo, fabricada com tiras de peles de animais “exóticos” ( raposas e coelhos) me faz crer que o mundo, definitivamente, tornou-se um lugar muito chato com a politicamentecorretomania. Ecoam por todos os lados vozes muito indignadas, apregoando maldições contra a morte de animais para a fabricação de calçados e acessórios. Porém, parece-me que muitos dos reclamantes sequer pensaram com o devido carinho se eles próprios colocam em prática aquilo que pregam.


Eu nem ao menos vi a coleção( que já foi retirada das lojas da Arezzo), só fiquei sabendo das manifestações pela internet, mesmo assim me ressenti pela marca, não porque seja uma consumidora assídua, mas porque detesto pessoas inflamadas discutindo questões sem argumentos plausíveis. É óbvio que eu não sou contrária a manifestações de defesa dos animais, o que sou contra é a hipocrisia, a discursos vazios.

Muitos dos consumidores que sugeriram “ arrancar a pele dos donos da Arezzo para fabricar sapatos” certamente utilizam caçados feitos de couro de boi, de avestruz( chiquérrimo e caríssimo), de peixe...então, vejamos: pelo brilhante raciocínio desses indivíduos matar boi pode, porque tem muito, mas coelho é bonitinho, logo é crime. Ora, Aristóteles estaria se revirando no túmulo se acompanhasse uma lógica tão estapafúrdia. Se não querem peles nas coleções, porque não querem vítimas inocentes, senhores e senhoras, passem a usar calçados feitos de pano e fabricados por pessoas que ganham salários honestos. Sim, afinal nossos tênis de couro da Nike, além de requererem a morte dos bois para a sua produção ainda são feitos em países como a China em fábricas que se utilizam de mão de obra semiescrava, mas isso está certo, não é?

E tem mais: querem uma boa causa para brigar de verdade? Então parem de consumir as baratíssimas roupas fabricadas no Brás e no Bom Retiro, em São Paulo, à custa da escravidão de bolivianos clandestinos. Lutem contra a máfia coreana que infesta a 25 de março e aproveitem e parem de consumir produtos falsificados e cds piratas vendidos no mesmo local. Façam o mesmo em relação a produtos sem nota vindos do Paraguai, ou sonegar imposto impedindo que o dinheiro seja aplicado em escolas e educação e melhor do que usar peles animais? E por favor me poupem do aforismo casuísta: mas é que imposto não vai mesmo para o fim devido porque os políticos roubam. Então sejamos mais espertos ao votar em alguém. Um erro nunca deve justificar o outro!

Por fim, reafirmo: acredito nos direitos dos animais, contudo só aceito esse discurso radical de punição contra a Arezzo vindo de pessoas que realmente creem na causa. Acharia muito aceitável que um vegetariano participante de ONGs de defesa dos animais tivesse esse repúdio à coleção da marca. Já quanto aos muitos internautas que li falando do caso, creio que não passa de puro sensacionalismo internético. Gente que descobriu a liberdade de expressão e pensa que é a versão moderna de São Francisco de Assis, não expulsando os demônios da cidade de Arezzo, na Itália, mas expulsando os demônios da Arezzo. Infelizmente, boa parte dessas pessoas escolhe se expressar emitindo opiniões infundadas e/ou hipócritas. Se precisam de alívio de consciência seria melhor fazer terapia e, em tempo, lembrarem-se do célebre conselho de Nelson Rodrigues: “ Toda unanimidade é burra.”

terça-feira, 19 de abril de 2011

70 Million by Hold Your Horses ! MUSIC VIDEO) É genial, muito criativo.



Gente, essa eu recebi da minha amiga ( e rock star mineira) Érika. É muito bom. Assistam e depois cliquem no link abaixo no qual, quem não conhece as pinturas, pode saber o nome da cada uma delas.
http://www.youtube.com/watch?v=wMUyR6KSRbQ&feature=related

terça-feira, 12 de abril de 2011

Poemas muiiiiito bons, mas pouco conhecidos.

Meu querido amigo Roberto Martins é um daqueles poetas que quando as pessoas leem, não acreditam. Ele transfere para sua poesia ( hoje totalmente abandonada por ele) toda a simplicidade do modo de vida que le escolheu. Tenho  certeza de que vocês vão gostar, por isso resolvi postar. O que é bom deve ser compartilhado. Deixo a vocês três poemas dos meus preferidos.

A garota protestante

A garota protestante me disse
que a vida era bela
eu disse que mais bela era ela
ela me disse que Jesus ia voltar
e eu disse que os olhos dela
eram lindos como os olhos de Jesus
ela me beijou
e eu disse: Jesus existe!
.......................................................

A poesia que grita em mim
não grita em você,
mas grita você.
A vida que me vive é a sua
e, por você, sou até capaz de amar.

.....................................................
Hoje a solidão vai ser uma festa
abro meu melhor vinho
e invento palavras para dizer a ela o que sinto
na hora H a palavra não sai: minto!

segunda-feira, 4 de abril de 2011

ASTROLOGIA- MARIO QUINTANA E LUI COIMBRA


Ouvi esta canção na Rádio UEM e amei.Descobri ao final que a letra era um poema do Quintana e resolvi, então, postar aqui um video do you tube com a canção. Espero que apreciem.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Seriam as trombetas anunciando o apocalipse? Giovana Marques Fontes

Quem me conhece um mínimo sabe que não sou dada a frases de efeito, muito menos a clichês. Contudo: Lula recebendo o título de Doutor Honoris Causa em duas universidades no mesmo ano e Tiririca no Conselho de Educação da Câmara me fazem crer que os Maias talvez estivessem certos e o fim esteja próximo, por mais lugar comum que a constatação possa ser!


Vamos aos fatos: no dia 28/01 deste ano Lula recebeu o título de Doutor Honoris Causa na Universidade de Viçosa-MG. Não bastasse isso, a renomadíssima Universidade de Coimbra, em Portugal ( uma das melhores escolas de Direito do mundo durante dezenas de anos) também concedeu ao ex-presidente o mesmo título no dia 30/03. De acordo com a Universidade de Brasília "Doutor Honoris Causa é o titulo atribuído à personalidade que se tenha distinguido pelo saber ou pela atuação em prol das artes, das ciências, da filosofia, das letras ou do melhor entendimento entre os povos." Esse definitivamente não parece ser o caso de nosso ex-presidente: Artes? Letras? Filosofia?... Entendimento entre os povos? Talvez, mesmo assim creio que a comunidade internacional “viu” mais ações do que as que realmente ocorreram e agiu em interesse próprio motivada por fins políticos. É bem verdade que desde a criação de tal título, em meados do séc XV— ao que se sabe— vários chefes de Estado já o receberam devido a interesses escusos: é caso de Jaime I da Inglaterra.

Ainda assim acho tudo isso uma afronta à dedicação de pesquisadores que ficam anos nos bancos acadêmicos para merecerem um real título de doutoramento. Pode até ser que eu esteja sendo purista ou preconceituosa ou ambos. E é possível que esteja mesmo, mas a questão é que passei os últimos 20 anos de minha vida tentando fazer crer a meus alunos que o estudo formal os distingue no mundo. Procurei e procuro mostrar-lhes que o saber não advém apenas dos bancos escolares , porém a passagem por eles é necessária para que o conhecimento se fixe e se aprofunde. Infelizmente, títulos como esse põem a perder anos de exemplo e discurso porque corroboram a ideia de que não importa o esforço na obtenção do conhecimento, mas sim o destaque social que um indivíduo alcança, pois isso é que lhe garantirá honrarias às quais nem sempre fez por merecer, enquanto os demais trabalham anonimamente para o real progresso dos saberes humanos.

Quanto à Tiririca na Comissão de Educação, creio não passar de mais uma troça dos políticos conosco, contribuintes e eleitores. Uma piada de extremo mau gosto como se eles nos dissessem implicitamente: “ reclamem com quem votou em um palhaço semi-alfabetizado para ocupar uma cadeira na Câmara.” Enquanto isso, a educação pública continua numa situação lamentável, o IDEB ( Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) atinge a impressionante marca de 4,6 na média, com uma previsão otimista de chegarmos à média 6,0 em 2022(!?). Nos testes internacionais é melhor nem pensar, pois nossas colocações têm sido invariavelmente inexpressivas.

Enfim, ou definitivamente deixamos os discursos hipócritas e eleitoreiros de lado e assumimos uma postura firme para recuperar a educação do país ou seremos eternamente conhecidos como a nação que melhorou sua economia, mas que não merece o devido respeito intelectual porque legitima uma educação representada por palhaços políticos e doutores de coisa nenhuma. É ou não um prenúncio de apocalipse , ao menos intelectual?

segunda-feira, 21 de março de 2011

Olhar de um Deus – Fabiano Fontes

Ah! Teu olhar acusa
Um compasso ternário
Difícil de enquadrar

Ah! Mistério, *Yakuza
Um serviço secreto
Em teu globo ocular

Ah! De íris um arco
Que dissipa o cristal
Luminoso do luar

Ah! Me tomou de assalto
E se fez em forma
De um Deus milenar

A seta no alvo
me tomou de assalto
Um Deus com seu olhar

Distante e do alto
Me tomou de assalto
Um Deus milenar

quarta-feira, 16 de março de 2011

A desgraça definitivamente não tem limites!

Acabei de ler no Portal de Notícias R7 que a Geisy Arruda ( aquela ilustre desconhecida que quase foi linchada na Faculdade por causa do vestidinho rosa) publicou uma foto de seu bumbum( para ser educada com o termo) na internet. A publicação diz que ela fez um tratamento novo para redução de gorduras e celulite e, então, resolveu exibir o resultado na rede. Quando essa criatura quase foi espancada na Faculdade eu fui uma das primeiras a dizer a meus alunos e, principalmente alunas, enfurecidos, que não importava qual fosse o comportamento da moça nada justificava aquele tipo de violência. Mas ao ler hoje as provocações que a agora empresária ( pasmem! É assim que ela é tratada agora, após seus 15 min de fama) fez às mulheres em seu twitter percebi que a natureza da moça é a de chamar a atenção a qualquer custo e, em virtude disso, certamente o triste episódio do vestidinho foi uma culminação em barbárie de algo que a própria moçoila provocou. O que eu imagino é que nem nos sonhos mais delirantes dela ela pensou que pudesse ser agredida daquela forma.( em tempo: eu continuo achando que nem atitudes deploráveis como a dela justificam violência) Entretanto, vejam como o mundo é injusto: os agressores, ao se sentirem vingados, não perceberem que propociaram a Geisy justamente o que ela buscava e não teria alcançado sem a ajuda deles: notoriedade!  Agora, vejam só, ela está espalhada pela rede divulgando suas extravagâncias e angariando seguidores. Terá uma fama duradoura? Não creio, mas conseguiu um meio de vida a partir dos escândalos. Certa estava Clarice Lispector: a desgraça não tem limites!

terça-feira, 15 de março de 2011

Imagens da Toscana

Já que comentei o filme que se passa na Toscana, resolvi postar umas fotos de dois lugares que o filme mostra e que são belíssimos: quando ela chega a Toscana, a personagem Frances desembarca em Florença e sai do ônibus bem próxima da Catedral, cujo magnífico e inexplicável Domo ( tem uma estrtura que nenhum engenheiro moderno compreende como se sustenta) foi projetado por Bruneleschi, um dos maiores engenheiros e arquitetos da renascença. Observem uma vista lateral em que ve o Domo.
Depois, quando a vizinha adolescente de Frances quer se casar com o rapaz polonês, o jovem decide participar de uma tradicional festa das Bandeiras para provar que pode ser um legítimo italiano. A festividade se passa em Montepulciano, uma cidadezinha charmosa, que remonta ao tempo dos etruscos ( como tudo na Toscana) conhecida por seus bons vinhos. Vejam a seguir duas lindas fotos. É uma pena que poucos visitantes da Itália vão até lá. A primeira é de uma adega construída sobre uma antiga tumba etrusca a segunda é uma vista local.



domingo, 13 de março de 2011

Sob o sol da Toscana

Revi esta semana esse filme que eu havia assistido a long time ago...rsss. Gostei mais dessa vez e também aproveitei melhor o cenário. Gosto de filmes de aprendizagem, como esse e acho que o cinema cumpre bem esse papel de mexer conosco, nos obrigando a pensar um pouco nas escolhas que fazemos e, também, naquelas que fazem por nós, como no caso da história desse filme, afinal: viver é fazer escolhas. fica aí a dica para quem não viu e se conseguirem encontrar algum dia ( principalmente as mulheres) vejam um filme chamado Shirley Valentine, a produção é simples, mas o roteiro é genial!

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Bucólica – Fabiano Fontes

Toda relação é  distância :

espaço infinito entre dois pontos.

o eu refletido nos aros de meus óculos

o eu retraído nos aros de seus ósculos

 

(Descobri os meus pais no portão ao lado

dos meus 36 anos)

 

Toda relação é confiança:

um ponto seguro na menor distância

do espaço entre nós

no limite da cama

delimitado em estados lençois

 

Toda relação é infinita

no momento feliz

que se defaz

já passado.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Coleção de arte!

Achei um site fantástico ( na verdade foi o Fabiano que achou e me mostrou hehe) e criei minha própria coleção de arte Renascentista. Visitem no link  a seguir.

http://goo.gl/vQe77

Epifania!

Veja que coisa legal:

"...mas a Grande Mensagem, quem diria?

Era mesmo a daquele profeta que todos pensavam fosse louco

Só porque saiu desfilando nu pelas ruas,

Com um enorme cartaz inteiramente em branco..."

Mário Quintana

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Happy Valentine´s day!

Eu acho Dia dos Namorados uma data bacana de se comemorar, mesmo após 15 anos de casamento, por isso aproveito para celebrá-lo tanto na data brasileira ( 12/06) quando na data em que é comumente comemorado, na maior parte do mundo: 14 de fevereiro. Mas por que essa data?
O imperador romano Cláudio II, no séc III,  havia proibido o casamento durante as guerras acreditando que os solteiros eram melhores combatentes. Porém, o Bispo Valentim continuou celebrando casamentos , a prática foi descoberta e Valentim foi preso e condenado à morte. Enquanto estava preso, muitos jovens lhe mandavam flores e bilhetes dizendo que os jovens ainda acreditavam no amor. Enquanto aguardava na prisão o cumprimento da sua sentença, ele se apaixonou pela filha cega de um carcereiro e, milagrosamente, devolveu-lhe a visão. Antes de partir, Valentim escreveu uma mensagem de adeus para ela, na qual assinava como “Seu Namorado” ou “De seu Valentim”.Considerado mártir pela Igreja Católica, a data de sua morte - 14 de fevereiro, tornou-se oficialmente Dia dos Namorados em muitos países pelo mundo, sobretudo após a Idade Média. 
Para finalizar, um belíssimo poema de amor de Florbela Espanca:
Fanatismo

Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!


Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, vivo de rastros:
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!..."

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Cantiga para não morrer!

Quando  eu era adolescente, curti muito o Fagner e, antes que algum leitor diga, quem? Vou afirmar que até o início dos anos 90 ele gravou coisas primorosas: poemas de Florbela Espanca ( Fanatismo e Fumo), Fernado Pessoa (Qualquer música), letras lindas de Fausto Nilo, que o próprio Fagner musicou. É verdade que a carreira dele nos últimos anos anda meio apagada, mas ele é um músico que merece respeito e deve ser ouvido. Hoje me lembrei de algo no repertório de Fagner que amo:  o poema Cantiga para não morrer, de Ferreira Gullar. Eu queria ter colocado o video, mas o youtube estava de mau humor e não fez o upload. Deixo o link http://www.youtube.com/watch?v=y8qklMDTnco e a letra.


Quando Você for-se embora


Moça branca como a neve

Me leve, me leve


Se acaso você não possa

Me carregar pela mão

Menina branca de neve

Me leve no coração

Se no coração não possa por acaso me levar

Moça de sonho e de neve

Me leve no seu lembrar


E se aí também não possa

Por tanta coisa que leve

Já viva em seu pensamento

Moça branca como a neve

Me leve no esquecimento

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Casamento!

Hoje faz quinze anos que eu e o Fa estamos casados. E, apesar de antes de nossa união eu nunca haver pensado em me casar ( achava que casamento era coisa de mulher atrasada rsss), não tenho dúvidas de  que a melhor decisão que tomei em minha vida foi essa. E, para celebrar, deixo a vocês o singelo poema Casamento, da Adélia Prado.




"Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.

É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,

de vez em quando os cotovelos se esbarram,

ele fala coisas como "este foi difícil"

"prateou no ar dando rabanadas"

e faz o gesto com a mão.

O silêncio de quando nos vimos a primeira vez

atravessa a cozinha como um rio profundo.

Por fim, os peixes na travessa,

vamos dormir.

Coisas prateadas espocam:

somos noivo e noiva. "

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

poemas instantes – Fabiano Fontes

 

I

Todo reverso do verso

é fato

concreto

 

II

Em noites de insônia

tagarela o meu pensar

 

III

não sei se o tempo

é vento de tormento

ou se tem cabimento

filosofar em português

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Tudo é uma questão do se.- Fabiano Fontes

Quem nunca acordou ponderando os caminhos escolhidos como forma de aplacar a fúria da insatisfação humana. Escolher uma ou outra opção não define o sucesso, apenas aumenta a importância do Se nessas manhãs de reflexão.E se o italiano Baggio tivesse marcado aquele gol no Tafarel, e se Tolima perdesse o ônibus e o Corinthians ganhasse por W.O.( só assim mesmo!!), e se, e se, e se………Meu Deus! não significaria nada!

Pensando nisso lembrei de um poema do grande Cacaso (um dos maiores poetas da trangressão da década de 70) e coloquei para vocês refletirem comigo.

se porém fosse portanto
Se trezentos fosse trinta
o fracasso era um portento
se bobeira fosse finta
e o pecado sacramento
se cuíca fosse banjo
água fresca era absinto
se centauro fosse anjo
e atalho labirinto
Se pernil fosse presunto
armadilha era ornamento
se rochedo fosse vento
cabra vivo era defunto
se porém fosse portanto
vinho branco era tinto
se marreco fosse pinto
alegria era quebranto
se projeto fosse planta
simpatia era instrumento
se almoço fosse janta
e descuido fosse tento
se punhado fosse penca
se duzentos fosse vinte
se tulipa fosse avenca
e assistente fosse ouvinte
se pudim fosse polenta
se São Bento fosse santo
dona Benta fosse benta
e o capeta sacrossanto
se a dezena fosse um cento
se cutia fosse anta
se São Bento fosse bento
e dona Benta fosse santa

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Aprendendo com Quintana

Mario Quintana é um poeta a quem o Brasil deu pouca notoriedade ( ou pelo menos, muito menos do que ele merecia), mas que merece, sem dúvida, ser lido. Ai vai um poema que dialoga com nossos assuntos mais recentes, sobre viagens. Espero que gostem.

A VERDADEIRA ARTE DE VIAJAR - Mário Quintana



A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,

Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo.

Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali...

Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A arte de viajar

Bem, nos últimos posts basicamente tenho falado sobre viagens, portanto hoje gostaria de sugerir a todos que, como eu, o Fabiano, minha amiga do Rio, Carol, e tantos outros, amam viajar ( aliás eu também conheci a Carol em viagens, que como eu disse antes, nos trazem sempre boas surpresas) que leiam A Arte de Viajar do filósofo Alain de Botton. De Botton é uma pessoa extremamente culta que tomou como missão mostrar que a filosofia está nas coisas do mundo e pode ser aproveitada por qualquer um , sem que para isso se precise ser um erudito. Nem preciso dizer que os acadêmicos o acham uma fraude, mas acho também que com o volume de leituras que fiz em minha vida ( inclusive muitos textos de filósofos) posso defendê-lo dizendo que tudo o que ele faz é sério, não tem nada de autoajuda: o problema dos acadêmicos é chatice mesmo. Pois bem, feitas as defesas, vamos ao livro: Alain de Botton afirma em A Arte de Viajar que  "Poucos segundos na vida são mais libertadores do que aqueles em que um avião levanta vôo para o céu", entretanto o autor afirma também que, embora as viagens possam nos trazer felicidade, quem leva a tristeza consigo não encontrará a felicidade apenas porque deixou seu espaço de origem. O livro é dividido por temas e cada capítulo tem um guia, que sempre é um escritor ou pintor. O capítulo 1, sobre a expectativa do viajante, é ótimo para aqueles que programam tudo com detalhes antes de viajar e não abrem espaço para o novo. Para estes, De Botton mostra que nada destrói mais o prazer da viajar do que a expectativa, porque por melhor que seja o destino ele jamais superará as expectativas. O capítulo cujo guia é Van Gogh é sensacional ... Mas não vou vontar mais, leiam, divirtam-se, aproveitem, tenho certeza de que muitos de vocês irão adorar.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Viajar é revigorante e traz muitas coisas boas!

Qualquer um que me conheça um pouquinho sabe que não há coisa de que eu goste mais do que viajar ( A não ser do Fabiano, é claro rsss). O Fá sempre diz que para me fazer feliz não é preciso jóias caras ou grandes presentes, basta uma passagem aérea: ele tem razão rsss. Não me importa se a viagem é para fora ou dentro do Brasil, eu gosto é de ir aos lugares, caminhar, provar novos sabores, atentar para as cores e os cheiros do lugar, entender a cultura pela ótica dos nativos. E, somado a tudo isso, há sempre a boa surpresa de se conhecer pessoas legais e que, muitas vezes, ficam para sempre. Nessa viagem à Itália, por exemplo, conhecemos a Agda e o André duas figuras carinhosíssimas, divertidas e amáveis que eu tenho certeza de que serão nossos amigos para sempre. Também conhecemos os minerinhos Érika e Bruno, que com seu jeitinho nos conquistaram e estarão conosco daqui por diante. É assim que nascem os relacionamentos, espontaneamente, num papo despretensioso e as viagens, minha segunda paixão, também nos proporcianm isso se estivermos abertos.
Na primeira fotos estamos eu, Bruno, Érika, Agda e André. Na segunda o André está batendo a foto para que o Fabiano ( que tirou a outra ) apareça.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A Itália são 20 países em um só!!!

Desde o primeiro dia de nossa viagem com o guia na Itália ( o que ocorreu após três dias que estávamos em Roma) ele insistiu que a Itália era unificada apenas no papel, mas que as diferentes regiões eram muito distintas entre si. No começo, pensamos: ok, e daí? o Brasil também tem disparidades entre o sul e o nordeste, por exemplo. Porém, na Itália essas diferenças são gritantes, há casos em que sequer uma determinada comida de certa região existe na outra, exemplo: pizza napolitana só se come em Nápoli ( ah, e até as pizzassão diferentes em formato, recheio e espessura da massa,. Não há uma pizza italiana, mas várias, os barsileiros que foram esperando encontrar a tal pizza italiana se deram mal, porque, na verdade, queriam mesmo era pizza brasileira kkkk). Milanesa? praticamente só na região de Milão. Parmegianna... como não fomos a Parma, não encontramos em nenhum lugar e olha que rodamos a Itália de norte a sul!
Enfim, como dizia o guia Samuel: viajar é uam aventura e o bom viajante sabe curtir as diferenças e aprender com elas.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Pompéia, o Vesúvio e as chuvas no Rio

Um dos locais que mais me impressionou na Itália foi Pompéia, cidade da região da Campanha ( próxima a Nápoles) e que foi devastada pelas cinzas do Vulcão Vesúvio em 24/08 do ano 79 d.C. A visão daquele sítio arqueológico que ironicamente ficou tão preservado por ter sido soterrado é muito impactante: pode-se ver claramente como a cidade era organizada e, aliás, muito mais do que muitas cidades modernas. Quando chegamos a Pompéia chovia forte e a primeira parte da visita foi cumprida mesmo embaixo de chuva, no frio. O curioso é que o guia ( historiador local e pesquisador autorizado deste sítio arquelógico) nos explicava como era a organização da cidade: água encanada, estrutura das ruas com calçadas, sistema de escoamento da água, sistema de esgoto, lojas comerciais com toldos, para que os clientes não se  molhassem à chuva ou se aborrecessem com o sol, enfim uma organização fantástica. Porém, o mais curioso foi que tão logo a chuva torrencial parou, cerca de dez minutos depois, as ruas ( que antes estavam cheias de água) estavam completamente drenadas, coisa que jamais se vê no Brasil atual: qualquer chuva em Sampa alaga tudo e no Rio... bem do Rio vou falar adiante.
Pois bem, mas com todo esse avanço ainda assim os pompeianos foram devastados pelo Vesúvio e é aí que entra minha comparação: de acordo com o historiador Plínio, o jovem, que foi testemunha ocular da tragédia, cerca de duas mil pessoas foram mortas na explosão do vulcão, muitas dela tentando fugir ( modo como foram encontradas, a partir das escavações de 1748, petrificadas); entretanto, é preciso compreender que muitos dos habitantes locais sequer fugiram porque acharam que se protegeriam em suas casas. Em Pompéia isso se justifica, afinal fazia 1500 anos que o Vesúvio não entrava em erupção e ninguém ali sabia que aquela montanha era um vulcão, essa palavra sequer existe no Latim antigo, ou seja, é impossível proteger-se daquilo que não se conhece. As fotos a seguir retratam o horror:

Mas então, por que tragédias como a da região serrana do Rio ocorrem, se TODOS sabem que as chuvas só pioram ao longo dos anos e que regiões de encostas são locais perigosos? Por FALTA DE PLANEJAMENTO E VONTADE POLÍTICA. É tão difícil assim organizar treinamentos para a população ao longo do ano, ensinando-a como proceder em situações como essa? Meu Deus! na guerra já se usava sirene para avisar que haveria bombardeio e, desse modo, a população deveria agir imediatmente da forma como fora instruída, pois então que se coloque as sirenes, que se faça o treinamento, que se escolham locais seguros para onde os moradores de áreas de risco pudessem se dirigir em situações de perigo. E, por fim, que se redesenhe urgentemente o espaço urbano, assentando os moradores pobres em locais dignos( com condições de moradia, saúde, transporte e trabalho) e que se proíba, de uma vez por todas, que os ricos excêntricos construam suas mansões em encostas igualmente irregulares, afinal tragédias não escolhem classe social: que o digam os mortos do Rio e os de Pompéia, já que muitos dos corpos petrificados nessa cidade traziam consigo imensas riquezas e foram junto a elas eternizados.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Chegamosss!!!!! E com muitas novidades!

E aí, meu povo? Espero que todos estejam se divertindo, sobretudo os que, como nós, estão em férias kkkk, para os que não estão...sinto muito hahaha. No final do ano demos um giro pela Europa, estivemos no Natal em Berlim, depois fomos a Praga e chegamos a Roma dia 28/12, ficamos por lá até dia 01/01 e saimos em giro pela Itália de norte a sul até dia 12. Vimos coisas fabulosas sobre a cultura, a gastronomia e a arte locais e, nos próximos dias, vamos postar fotos e comentários sobre curiosidades. Eu descobri informações geniais sobre arte italiana que os livros não costumam abordar e pretendo dividi-las com vocês. Por hoje, deixo uma foto de Praga, com neve, chegamos a pegar 13 graus negativos lá, foi muito diferente. O visual é a frente da Catedral de São Vitus, obra gótica que faz parte do complexo do Antigo Palácio do Rei Carlos.