Pensar nem sempre é estar doente dos olhos

O maravilhoso heterônimo de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro, diz em um dos poemas que amamos que " pensar é estar doente dos olhos", porque ele quer que seus leitores se ponham a sentir o mundo. Mas, como hoje poucas pessoas fazem qualquer uma das duas coisas ( pensar e sentir), permitimo-nos dizer que sentir é fundamental, mas pensar também. Exercite essas duas capacidades: leia mais, viaje mais, converse mais com gente interessante, gaste seu tempo discutindo ideias e não pessoas.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Bucólica – Fabiano Fontes

Toda relação é  distância :

espaço infinito entre dois pontos.

o eu refletido nos aros de meus óculos

o eu retraído nos aros de seus ósculos

 

(Descobri os meus pais no portão ao lado

dos meus 36 anos)

 

Toda relação é confiança:

um ponto seguro na menor distância

do espaço entre nós

no limite da cama

delimitado em estados lençois

 

Toda relação é infinita

no momento feliz

que se defaz

já passado.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Coleção de arte!

Achei um site fantástico ( na verdade foi o Fabiano que achou e me mostrou hehe) e criei minha própria coleção de arte Renascentista. Visitem no link  a seguir.

http://goo.gl/vQe77

Epifania!

Veja que coisa legal:

"...mas a Grande Mensagem, quem diria?

Era mesmo a daquele profeta que todos pensavam fosse louco

Só porque saiu desfilando nu pelas ruas,

Com um enorme cartaz inteiramente em branco..."

Mário Quintana

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Happy Valentine´s day!

Eu acho Dia dos Namorados uma data bacana de se comemorar, mesmo após 15 anos de casamento, por isso aproveito para celebrá-lo tanto na data brasileira ( 12/06) quando na data em que é comumente comemorado, na maior parte do mundo: 14 de fevereiro. Mas por que essa data?
O imperador romano Cláudio II, no séc III,  havia proibido o casamento durante as guerras acreditando que os solteiros eram melhores combatentes. Porém, o Bispo Valentim continuou celebrando casamentos , a prática foi descoberta e Valentim foi preso e condenado à morte. Enquanto estava preso, muitos jovens lhe mandavam flores e bilhetes dizendo que os jovens ainda acreditavam no amor. Enquanto aguardava na prisão o cumprimento da sua sentença, ele se apaixonou pela filha cega de um carcereiro e, milagrosamente, devolveu-lhe a visão. Antes de partir, Valentim escreveu uma mensagem de adeus para ela, na qual assinava como “Seu Namorado” ou “De seu Valentim”.Considerado mártir pela Igreja Católica, a data de sua morte - 14 de fevereiro, tornou-se oficialmente Dia dos Namorados em muitos países pelo mundo, sobretudo após a Idade Média. 
Para finalizar, um belíssimo poema de amor de Florbela Espanca:
Fanatismo

Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!


Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, vivo de rastros:
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!..."

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Cantiga para não morrer!

Quando  eu era adolescente, curti muito o Fagner e, antes que algum leitor diga, quem? Vou afirmar que até o início dos anos 90 ele gravou coisas primorosas: poemas de Florbela Espanca ( Fanatismo e Fumo), Fernado Pessoa (Qualquer música), letras lindas de Fausto Nilo, que o próprio Fagner musicou. É verdade que a carreira dele nos últimos anos anda meio apagada, mas ele é um músico que merece respeito e deve ser ouvido. Hoje me lembrei de algo no repertório de Fagner que amo:  o poema Cantiga para não morrer, de Ferreira Gullar. Eu queria ter colocado o video, mas o youtube estava de mau humor e não fez o upload. Deixo o link http://www.youtube.com/watch?v=y8qklMDTnco e a letra.


Quando Você for-se embora


Moça branca como a neve

Me leve, me leve


Se acaso você não possa

Me carregar pela mão

Menina branca de neve

Me leve no coração

Se no coração não possa por acaso me levar

Moça de sonho e de neve

Me leve no seu lembrar


E se aí também não possa

Por tanta coisa que leve

Já viva em seu pensamento

Moça branca como a neve

Me leve no esquecimento

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Casamento!

Hoje faz quinze anos que eu e o Fa estamos casados. E, apesar de antes de nossa união eu nunca haver pensado em me casar ( achava que casamento era coisa de mulher atrasada rsss), não tenho dúvidas de  que a melhor decisão que tomei em minha vida foi essa. E, para celebrar, deixo a vocês o singelo poema Casamento, da Adélia Prado.




"Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.

É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,

de vez em quando os cotovelos se esbarram,

ele fala coisas como "este foi difícil"

"prateou no ar dando rabanadas"

e faz o gesto com a mão.

O silêncio de quando nos vimos a primeira vez

atravessa a cozinha como um rio profundo.

Por fim, os peixes na travessa,

vamos dormir.

Coisas prateadas espocam:

somos noivo e noiva. "

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

poemas instantes – Fabiano Fontes

 

I

Todo reverso do verso

é fato

concreto

 

II

Em noites de insônia

tagarela o meu pensar

 

III

não sei se o tempo

é vento de tormento

ou se tem cabimento

filosofar em português

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Tudo é uma questão do se.- Fabiano Fontes

Quem nunca acordou ponderando os caminhos escolhidos como forma de aplacar a fúria da insatisfação humana. Escolher uma ou outra opção não define o sucesso, apenas aumenta a importância do Se nessas manhãs de reflexão.E se o italiano Baggio tivesse marcado aquele gol no Tafarel, e se Tolima perdesse o ônibus e o Corinthians ganhasse por W.O.( só assim mesmo!!), e se, e se, e se………Meu Deus! não significaria nada!

Pensando nisso lembrei de um poema do grande Cacaso (um dos maiores poetas da trangressão da década de 70) e coloquei para vocês refletirem comigo.

se porém fosse portanto
Se trezentos fosse trinta
o fracasso era um portento
se bobeira fosse finta
e o pecado sacramento
se cuíca fosse banjo
água fresca era absinto
se centauro fosse anjo
e atalho labirinto
Se pernil fosse presunto
armadilha era ornamento
se rochedo fosse vento
cabra vivo era defunto
se porém fosse portanto
vinho branco era tinto
se marreco fosse pinto
alegria era quebranto
se projeto fosse planta
simpatia era instrumento
se almoço fosse janta
e descuido fosse tento
se punhado fosse penca
se duzentos fosse vinte
se tulipa fosse avenca
e assistente fosse ouvinte
se pudim fosse polenta
se São Bento fosse santo
dona Benta fosse benta
e o capeta sacrossanto
se a dezena fosse um cento
se cutia fosse anta
se São Bento fosse bento
e dona Benta fosse santa

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Aprendendo com Quintana

Mario Quintana é um poeta a quem o Brasil deu pouca notoriedade ( ou pelo menos, muito menos do que ele merecia), mas que merece, sem dúvida, ser lido. Ai vai um poema que dialoga com nossos assuntos mais recentes, sobre viagens. Espero que gostem.

A VERDADEIRA ARTE DE VIAJAR - Mário Quintana



A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,

Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo.

Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali...

Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!