Pensar nem sempre é estar doente dos olhos

O maravilhoso heterônimo de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro, diz em um dos poemas que amamos que " pensar é estar doente dos olhos", porque ele quer que seus leitores se ponham a sentir o mundo. Mas, como hoje poucas pessoas fazem qualquer uma das duas coisas ( pensar e sentir), permitimo-nos dizer que sentir é fundamental, mas pensar também. Exercite essas duas capacidades: leia mais, viaje mais, converse mais com gente interessante, gaste seu tempo discutindo ideias e não pessoas.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Qual a extensão da ignorância e do preconceito

Desde que o STF aprovou a união civil entre pessoas do mesmo sexo tenho ouvido toda a sorte de barbaridades sobre a aprovação da lei . Compreendo que muitas pessoas sejam contra a lei por motivos religiosos, mas não aceito que tais motivos sejam excusa para atos intolerantes, homofóbicos e preconceituosos, afinal os gays querem apensa garantir direitos que já são concedidos aos heteros. Primeiramente, aos donso da verdade e da religião ( que pensam que só eles serão salvos) é preciso lembrar que Jesus Cristo tomou como seu principal mandamento "amai-vos uns aos outros como eu vos amei", então, para os que se dizem tão cristãos seria razoável pensar que discriminar o outro por sua orientação sexual não é algo Cristão. Mas a bíblia condena o homossexualismo, diriam os mais afoitos. É verdade, mas a mesma bíblia também condena usar o nome de Cristo em vão ou para tirar proveito próprio, coisa que temos visto frequentemente em igrejas de várias orientações. De mais a mais, os tais preconceituosos, se leem mesmo a bíblia deveriam saber que no Evangelho de São Lucas está escrito: "Não julgueis para não ser julgado; não condeneis para não ser condenado" e "Mais vale um pecador arrependido do que 99 justos que adentrem o reino dos céus" e mais, Jesus Cristo, diante do iminente apedrejamento de Maria Madalena proclamou: " aquele que dentre vós não tendes um pecado que atire a primeira pedra." Acho curioso como esses religiosos fervorosos se acham no direito de serem mais realistas que o rei, sim porque se Jesus, em pessoa, perdoaria qualquer ser humano, quem esses humanos pensam que são para condenar alguém? Ainda é bom lembrá-los de que soberba é pecado capital e nada mais soberbo do que se achar o próprio Deus ( o erro de Lúcifer foi esse!).
Em seu maravilhoso conto " A Igreja do Diabo", Machado de Assis nos conta que o Diabo resolveu montar uma igreja na terra, porém antes resolveu comunicar o fato a Deus, imaginando que Ele fosse ficar furioso. Deus, ao contrário, deu apoio ao Diabo. Este, por sua vez, achou que todos iriam para a Igreja dele, porque lá poderiam pecar e mentir à vontade: sua tese era a de que os fiés de Deus tinham mantos de seda com franjas de algodão e por elas( que simbolizam o pecado) ele os pegaria. No início, de fato, a igreja do Diabo lotou, mas com o passar do tempo as pessoas passaram a sair da igreja do diabo e fazer caridade escondidas. Indignado, ele foi falar com Deus para compreender o fato, ao que Deus retrucou: "Os meus fiés têm mantos de seda com franjas de algodão e os seus mantos de algodão com franjas de seda. É a eterna contradição humana." Ou seja, duvido que estes pastores, padres e religiosos fervorosos que apontam agora seus dedinhos para os gays e lésbicas não tenham eles próprios suas franjas de algodão. Fiquei pasmada ao ler no Yahoo hoje que Miriam Rios, ex atriz e  agora deputada, associou gays a pedofilia dizendo: "Imagine que eu contrato um motrista gay e ele resolve bolinar meu filho, eu não posso demiti-lo porque a lei não permite." Santa ignorânica, dona Miriam, se algum motorista bolinar seu filho ele vai sim ser preso por pedofilia, mas duvido que ele faça isso apenas por ser gay. Pela sua lógica um motorista heterossexual jamais teria coragem de bolinar uma filha sua. Meus Deus, só mesmo o senhor em sua infinita sabedoria e paciência para compreender tanta burrice e tanto preconceito. Espero que dona Miriam e seus comparsas tenham tempo de se arrepender antes do juízo final!

terça-feira, 14 de junho de 2011

Datas comemorativas: adendo

 Como o post anterior rendeu comentários interessantes, gostaria de completá-lo. Na verdade, gente, concordo com o André sobre o Natal ( embora me sinta depre por motivos pessoais nessa época)porque este é uma festa que tem um sentido religioso, só a olha como comércio quem quer. Já o dia dos namorados, dia das mães, dia dos pais, dia das crianças são datas puramente comerciais, por isso acho que não têm sentido. Acho tenebroso comemoração de dia dos pais e mães nas escolas: o que fazer com quem é órfão? Com aqueles cujos pais abandoram? Ah, você não tem pai, mãe? Então fica aí no cantinho brincando de fantasma! É cruel e quando somos crianças não podemos nos defender dos comentários maldosos alheios. Acho que o Ian está certo em dizer que temos o direito de ser um pouco egoístas quando amamos ( e todos somos mesmo), só não concordo com o bombardeio a que as pessoas são expostas, visto que muitos, sem compreender o real significado do que fazem, endividam-se e apostam nos presentes para resolver problemas existenciais, que apenas serão minorados enquanto o efeito do presente durar. Posso até ser ingênua e sentimentalista, mas ainda prefiro lembranças singelas( bombons, uma comida preferida, um café na cama) que aparecem de supresa, porque assim sabemos que aquela pessoa realmente pensou em nós e não foi compelida a fazê-lo porque as propagandas na tv não param de alerta-la. Que venham os novos comentários. Adoro querelas!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

As datas comemorativas, a frustração e as possibilidades do amor

É curioso como essas datas comemorativas, tais como o Dia dos Namorados, apesar de puramente comerciais, mexem com as pessoas. Desde quarta -feira tenho acompanhado pelo meu Facebook dezenas de posts frustantes, de bons amigos e amigas que, por estarem solteiros temporariamente, têm se sentido deprimidos nestes dias. Alguns, para esconder este fato, desdenham do amor e suas pieguices deliciosas, outros derramam-se em citações tristonhas acerca de amores que se foram.
Amar, meus amigos, é muito mais do que mandar flores ou comprar presentes ( muitas vezes inúteis) forçados por uma data. Sim, porque várias pessoas presenteiam, saem para jantares em que serão mal atendidas, em lugares lotados, apenas porque se sentem coagidas  a fazê-lo. Amar é estar junto no dia a dia, é fazer pequenas delicadezas ao longo de toda a vida - e não apenas no dia 12 de junho- é rir de bobagens, é compartilhar momentos de silêncio e, também, ser compreensivo nas horas em que estamos chatos. Além disso, ter ou não um parceiro é algo que pode ser passageiro e que só diz respeito a cada um de nós. Não gosto de datas comemorativas, justamente, porque elas pressionam as pessoas a se sentirem felizes, realizadas e, quem não está assim naquele momento, sente-se pior, desmerecido. A questão é que devemos tentar ser felizes porque isso faz bem à alma. Preferencialmente devemos ter uma compania porque envelhecer só é muito triste ( e que me desculpem os que têm filhos, não contem com eles, porque mesmo que estejam lá na sua velhice, não poderão oferecer o mesmo amor, carinho e companheirismo de um parceiro).
Diz a lenda de Eros e Psique que o amor é cego, justamente porque está baseado na confiança- ou deveria estar- e na capacidade de os amantes se arriscarem. Na lenda, o deus Eros(cupido) é enviado por sua mãe, Vênus, para flechar Psique e fazê-la se apaixonar por um monstro. Ocorre que Eros acaba de ferindo com a flecha quando a atira, ficando, assim, ele mesmo apaixonado por Psique. Como ele é a personificação do amor, a ele é vedado viver o amor, mas comoa paixão despertada é avassaladora, ele rapta Psique, venda-a e a leva para um castelo longínquo. Ainda vendada ele lhe diz que ela creia nele, que ele a ama muito e que virá ve-la todas as noites, período em que ambos viverão intensamente seu amor. Porém, ela jamais poderá tirar a venda, terá de confiar nele, porque se tentar fazê-lo ele terá de abandoná-la para sempre. Assim eles vivem felizes durante um bom tempo, entretanto as irmãs invejosas de Psique começam a impingir-lhe ideias: dizem que se o parceiro da irmã se esconde é porque deve ser monstruoso e que talvez até a mate um dia. Finalmente, com a dúvida plantada no coração pela inveja das irmãs, Psique resolve trair a promessa que fizera a Eros. Uma noite, quando ele chega no escuro como sempre, ela espera que ele adentre os aposentos e acende uma vela descobrindo, então, que desposara o próprio Deus do Amor e que ele era lindo! Eros, desapontado, ferido, acusa-a de traição e sai errando pelo mundo.
Pois bem, meus queridos amigos, esse mito explica por que devemos confiar em quem amamos e desconfiar daqueles que falam de nossa relação. É bem verdade que o ser humano é imperfeito e às vezes trai e fere, mas isso não é regra ( e também jamais saberemos sem correr o risco). Além do mais, se dividimos nossa vida com alguém porém confiamos mais nos outros do que me nosso parceiro(a), então nossa relação é realmente problemática. Portanto, sugiro que confiem mais, arrisquem-se mais, amem mais. Arrependam-se, se for o caso, apenas de ter vivido intensamente. "O amor tem feito coisas/que até mesmo Deus duvida/já curou desenganados/já fechou tanta ferida/o amor junta os pedaços/quando um coração se quebra/mesmo que seja de aço, mesmo que seja de pedra/fica tão cicatrizado que ninguém diz que é colado." Ivan Lins