Pensar nem sempre é estar doente dos olhos

O maravilhoso heterônimo de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro, diz em um dos poemas que amamos que " pensar é estar doente dos olhos", porque ele quer que seus leitores se ponham a sentir o mundo. Mas, como hoje poucas pessoas fazem qualquer uma das duas coisas ( pensar e sentir), permitimo-nos dizer que sentir é fundamental, mas pensar também. Exercite essas duas capacidades: leia mais, viaje mais, converse mais com gente interessante, gaste seu tempo discutindo ideias e não pessoas.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

República Dominicana: história e abandono

Gente, Santo Domingo, capital da República Dominicana, é um daqueles lugares que nos faz pensar como a falta de investimento em cultura contribui para a manutenção da pobreza. A cidade é, de acordo com eles, a segunda mais antiga das Américas, fundada por Colombo em 1496. Mas, infelizmente, está absolutamente descuidada, assim como muitos sítios históricos brasileiros. Museus fechados em virtude da chuva, monumentos necessitando de reparos, uma tristeza! Dá para ver que com um pouco de boa vontade e muito investimento se poderia ganhar dinheiro e gerar empregos, além de utlizar os monumentos como pontos para aulas de história interessantíssimas. Entretanto, a impressão que se tem é que o país está parado no periodo da Companhia das Índias: vive quase que da monucultura da cana colhida com mão de obra haitiana ( provavelmente semi escrava ou algo que o valha) e de um turismo que, embora crescente, criou pequenas ilhas da fantasia, como Punta Cana, fora das quais a vida não tem glamour algum, mas sim casas pequenas, abafadas, muitas ruas de terra, pouco esgoto e água encanada. É um país curioso! Pensamos muito, durante a viagem, no que foi e no que é o Brasil, sobretudo no interior nordestino. Quando nos perguntam sobre a viagem respondemos: qual país você quer conhecer? O paradisíaco país caribenho, com resorts suntuosos e muitos norteamericanos distribuindo "propinitas" ou o país da gente real, acima descrita? Fizemos as duas viagens, o triste é que a maioria dos turistas fez uma só, sem compreender que viajar, para além de ser uam atividade de relaxamento pode e deve ser um evento de reflexão e entendimento da nossa história.


Palácio do Governo: Santo Domingo

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A Constituição e a Igreja

Tem me incomodado muito recentes notícias que tenho lido com afirmações como " a bancada religiosa do Congresso não concorda com isso". Recentemente, tal alegação foi utilizada para abordar a adoção homoafetiva( assunto de que vou tratar em breve num artigo de opinião), com cardeais, padres e deputados fervorosos alegando motivos religiosos para a proibição deste tipo de adoção. Ora, nossa Constituição diz explicitamente que este país é Leigo, ou seja, as questões religiosas NÃO devem interferir nas questões legais, mas parece que os nossos ilustres congressistas não andam lendo a Carta Magna. Será que estamos destinados ao fundamentalismo?! Tenho medo até de pensar no que essa influência religiosa pode gerar no futuro.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Mia Couto e o sabor da literatura moçambicana

Gente, o vestibular me fez descobrir algo fantástico: o escritor moçambicano Mia Couto. Eu já havia lido vários escritores africanos de língua portuguesa nos tempos do mestrado ( e lá se vão 11 anos), mas confesso que não conhecia o Mia Couto. Estou termindo O outro pé da sereia , que é um romance, e já comprei um livro de contos dele, O fio das missangas, que vou levar em minha viagem, no próximo fim de semana. Alías, estou indo para República Dominicana e vou postar informações de lá sobre as coisas mais interessantes que encontrar. Aproveitem as férias para se divertir com essa saborosa leitura.

domingo, 11 de julho de 2010

Síndrome de Piquet por Giovana Fontes

É curioso como em tempos de grandes eventos esportivos, como a Copa do Mundo, nos obrigamos ( ou somos levados) a observar o comportamento patológico que o brasileiro apresenta diante das derrotas no esporte. Explico-me: enquanto “los hermanos” recebem suas seleções, igualmente derrotadas, com alegria e fogos, nós recebemos a nossa com críticas nada construtivas. Parece que acatamos, numa espécie de unanimidade burra, o que o arrogante Nelson Piquet dizia em seus tempos de Fórmula 1: “O segundo colocado é o primeiro perdedor”.


Em tempo, Piquet dizia isso até que seu filho, o brilhante lanterninha da Fórmula 1, passou a ocupar esse posto: estranhamente, papai mudou de idéia desde então. Mas, chega de elocubrações e vamos aos fatos: por que a nós, brasileiros, só a vitória interessa? Penso às vezes que desejá-la, e a ela somente, é uma forma de tentar dizimar nossas demais mazelas, ainda que seja por um único dia. A impressão que dá é que somos um povo sem autoestima, que precisa se vangloriar muito daquilo que pensa ser a sua única vocação─ ganhar no futebol─ com o intuito de se sobrepor aos demais.

Entretanto, um país que pretende estar no “primeiro mundo”, como se diz no jargão econômico, precisa ter algo a mais do que um bom PIB, uma balança comercial em superávit, um presidente respeitável (embora esse não seja bem o caso atual), uma política internacional organizada e uma seleção hexacampeã. Quem anseia ocupar este posto necessita, antes de mais nada, saber quem é e ter orgulho de si, em vez de tentar se tornar um simulacro de economia americana amalgamado com a atávica vergonha tupiniquim de quem somos.

O que colocou os países ricos no posto que ocupam, em primeiro lugar, foi o fato de que investiram maciçamente em educação pública de qualidade; em segundo, o orgulho patriótico que seus nativos possuem ─ e que não é bissexto, como nosso ─ e que os move a querer trabalhar em prol de sua nação, auxiliando, portanto, no combate à corrupção. Ademais, esses países também aprenderam, por mais senso comum que a afirmação pareça, que a derrota, quando bem digerida, ensina melhor e mais rápido do que a vitória. Thomas Edison produziu três mil inventos infecundos antes de conseguir, finalmente, criar a lâmpada elétrica, contudo quando questionado sobre o porquê não desistiu, já que havia errado tanto, respondeu singelamente: “Eu não errei, apenas descobri três mil maneiras de como não se faz uma lâmpada.”

Tomemos, portanto, o ensinamento de Edison na tentativa de abolirmos essa medíocre síndrome de Piquet que nos assola. Não perdemos a Copa do Mundo, apenas. Descobrimos, talvez, como não se conduzir uma seleção e por que não se pode concentrar todos os esforços em única tarefa: a de torcer; e, certamente, devemos também descobrir que nossos “ hermanos” têm razão: dar suporte a quem perde é uma forma digna de reconhecer que a falha faz parte do aprendizado e , sobretudo, devemos aprender que se todo o orgulho de uma nação está na ponta de onze chuteiras, então, definitivamente, esse lugar não tem como prosperar.