Pensar nem sempre é estar doente dos olhos

O maravilhoso heterônimo de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro, diz em um dos poemas que amamos que " pensar é estar doente dos olhos", porque ele quer que seus leitores se ponham a sentir o mundo. Mas, como hoje poucas pessoas fazem qualquer uma das duas coisas ( pensar e sentir), permitimo-nos dizer que sentir é fundamental, mas pensar também. Exercite essas duas capacidades: leia mais, viaje mais, converse mais com gente interessante, gaste seu tempo discutindo ideias e não pessoas.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Férias!!!!!!!!!

Bom galera, como têm visto andamos meio sumidos. Isso se deve ao fato de que as duas últimas semanas de trabalho foram muito pesadas, eu estava praticamente em regime disciplinar diferenciado, sem direito a visitas e banho de sol kkkk. Agora, porém, férias!!!!!! Partimos em viagem e, quando voltar, certamente terei muitas novidades, afinal vou conhecer Berlim, Praga e Roma, além de outros lugares na Itália. Minhas aulas des história da arte estarão um pouquinho mais ricas ano que vem. Espero que todos aproveitem o fim de ano, divirtam-se, descansem: faço minhas as palavras de Ferreira Gullar. Até a volta!

"Dois e Dois são Quatro" Ferreira Gullar




Como dois e dois são quatro

Sei que a vida vale a pena

Embora o pão seja caro

E a liberdade pequena

Como teus olhos são claros

E a tua pele, morena

como é azul o oceano

E a lagoa, serena



Como um tempo de alegria

Por trás do terror me acena

E a noite carrega o dia

No seu colo de açucena



- sei que dois e dois são quatro

sei que a vida vale a pena

mesmo que o pão seja caro

e a liberdade pequena.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

John Lennon se foi há 30 anos!

Hoje faz 30 anos que Lennon foi estupidamente assassinado pelo fanático Mark Chapmann. Recebu o fã na porta de seu apartamento em NY quando saia do estudio e levou um tiro, tudo porque Chapmann acreditava que Lennon traira os deias que el emso pregava tudo bobagem. Após os Beatles, Lennon destinou sua carreira a falar em favor da paz, a pregar a igualdade, a disseminar ideais humanitários, asm infelizmente o mundo não está preparado para isso. Ele próprio tinha uma frase que dizia: " Um rei sempre acaba sendo morto por seus cortesãos." Logo após a morte de Lennon, Beto Guedes fez uma canção lindíssima para ele Canção do Novo Mundo e uma parte da letra diz o seguinte:
"Quem souber dizer a exata explicação


Me diz como pode acontecer

Um simples canalha mata um rei

Em menos de um segundo

Oh! Minha estrela amiga

Porque você não fez a bala parar

Oh! Nem o tempo amigo

Nem a força bruta

Pode um sonho apagar."

Ou seja, remete-nos ao fato de que a arte não morre mesmo que algum estúpido destrua o artista. Fica a dica: procurem a canção do Beto Guedes e conheçam melhor a obra do Lennon, vale muito a pena.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A amizade realmente não tem preço!

Se tem uma coisa sobre a qual jamais pude me queixar é de amigos. Sempre os tive aos montes. É claro que quando amadurecemos aprendemos a separar colegas de amigos, mas, mesmo assim, eu e o Fabiano ( que além de nutrirmos um profundo amor um pelo outro também somos grandes amigos e creio que isso seja o sucesso de nosso casamento de 15 anos ser tão bem sucedido) nos pegamos o tempo todo falando sobre como somos afortunados, porque não é comum, na maturidade, as pessoas congregarem tantos amigos como nós, sem nenhum interesse. Caetano Velos disse em sua canção "Língua" que " a poesia está para a prosa, assim como amor está para a amizade e quem há de negar que esta lhe é superior?", pois bem, pensei em falar sobre isso hoje porque tenho tido tantas manifestações de carinho e proteção de meus amigos que só posso mesmo agradecê-los. Nisso incluo também vários alunos que tenho como amigos. E mais, sugiro a todos, como exercício de melhora espiritual: cultivem a amizade, sejam siNceros com as pessoas, demonstrem afeto e desconfiem sempre de quem não tem amigos: ISSO NÃO PODE SER NORMAL! Enfim, como diz uma das muitas canções que eu amo do Pink Floyd: " Together we stand, divided we fall!"

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Traduzir-me em Álvaro de Campos

Para aqueles que,por ventura, não saibam Álvaro de Campos é um dos heterônimos do poeta Fernando Pessoa. Cresci lendo Pessoa e seus heterônimos. Quando meu irmão retornou de seus estudos em Portugal, trouxe uma coleção completa que eu, aos doze anos, transformei em meus livros de cabeceira. Especialmente os de poemas de Alberto Caeiro ( para os dias em que eu estava doce) e os de Álvaro de Campos, para os dias em que a agressividade e o inconformismo diante da maldade e da mesquinhez humana me assolam. Há vezes que sinto que só ele é capaz de me traduzir. Pois bem, algumas atitudes que presenciei neste fim de semana me fizeram sentir como no poema a seguir. Aproveitem!

Bicarbonato de Soda - Álvaro de Campos




Súbita, uma angústia...

Ah, que angústia, que náusea do estômago à alma!

Que amigos que tenho tido!

Que vazias de tudo as cidades que tenho percorrido!

Que esterco metafísico os meus propósitos todos!

Uma angústia,

Uma desconsolação da epiderme da alma,

Um deixar cair os braços ao sol-pôr do esforço...

Renego.

Renego tudo.

Renego mais do que tudo.

Renego a gládio e fim todos os Deuses e a negação deles.

Mas o que é que me falta, que o sinto faltar-me no estômago e na

circulação do sangue?

Que atordoamento vazio me esfalfa no cérebro?



Devo tomar qualquer coisa ou suicidar-me?

Não: vou existir. Arre! Vou existir.

E-xis-tir...

E--xis--tir ...



Meu Deus! Que budismo me esfria no sangue!

Renunciar de portas todas abertas,

Perante a paisagem todas as paisagens,



Sem esperança, em liberdade,

Sem nexo,

Acidente da inconseqüência da superfície das coisas,

Monótono mas dorminhoco,

E que brisas quando as portas e as janelas estão todas abertas!

Que verão agradável dos outros!



Dêem-me de beber, que não tenho sede!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Diga não à volta da CPMF

Gente, a CPMF foi extinta porque o dinheiro nunca foi destinado corretamente à saúde. Além disso, o governo tem recursos suficientes para investir nessa área, se quiser. De mais a mais, um combate à corrupção mais severo também pouparia dinheiro aos cofres públicos e, portanto, sobraria mais não só para a saúde, mas para a educação, infraestrutura... Bem, a OAB do RS está provendo um abaixo assinado virtual para evitar a volta da CPMF. Preencham, deu certo com o Ficha Limpa e com muitas outras leis que tiveram apoio popular. Precisamos fazer o nosso papel como Sociedade Civil Organizada. Não à CPMF, entre no link http://www.agorachegacpmfnao.com.br/index.php e inscreva-se.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Violência gratuita, homofobia, intolerância...

Os garotos que agrediram os rapazes na Avenida Paulista, em São Paulo, foram mandados para a Fundação Casa, pela Promotoria responsável pelo caso. Espero sinceramente que o desfecho dessa questão culmine com uma condenação do jovem de 19 anos e dos quatro menores. É inaceitável que atitudes de intolerância e homofobia sejam tomadas dessa forma e mais inaceitável ainda ver a mãe de um dos meninos agressores tentar justificar a atitude covarde e preconceituosa do filho.Adolescentes erram, fazem bobagens, ok! Mas  o papel dos pais é orientá-los e puni-los, caso seja necessário, para que possam aprender a discernir o certo do errado. Mais absurdo do que a mãe de um dos garotos afirmar que o filho foi agredido e revidou ( quando as imagnes mostram que  os ataques foran feitos pelas costas dos agredidos) é só o novo advogado do caso ter a pachorra de alegar que as imagens  mostrando a cena são inconclusivas. Felizmente, ainda há muitas pessoas éticas no mundo, como o primeiro advogado dos garotos que, ao ver as imagens da agressão covarde e verificar que seus clientes eram culpados e mentiram para ele, recusou o caso.

domingo, 21 de novembro de 2010

Placas Bizarras!


Essa placa encontrada na China vem gerando muitas polêmicas acerca do significado que encerra. Alguns dizem que ela se refere a um provérbio chinês, mas eu acho que os organizadores do trânsito tentaram tirar uma onda com quem atravessa fora da faixa, alertando com uma mensagem do tipo: " até um macaco sabe que deve usar a faixa, seu tonto!". Rss. Sugiram suas interpretações...

Pasmem! Essa placa fica no shopping Bourbon em São Paulo. Como o estabelecimento faz divisa com o Parque Antárctica, estádio do Palmeiras, a administração do shopping teve a brilhante ideia de por a placa para evitar confusões em dias de jogos. Pode?!

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Pintura Mural - Muito bom!


Gente minha querida ex- aluna Michelle, que hoje está cursando Direito, me mandou este vídeo e eu resolvi compartilhá-lo. Espero que gostem tanto quanto eu.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Poesia – Fabiano Fontes

o cavalo de minha torre

feriu sua princesa

e o rei equivocado

cantou uma nota dó

a si mesmo.

Poesia – Fabiano Fontes

No sol do meio dia

Os gatos cantam mais

Se pássaros habitam minha túnica,

foi do verão passado

que passei

Só.

Animações geniais!!!



A animação anterior é fantástica e eu a descobri porque minha aluna Katerin me mandou um link http://www.youtube.com/watch?v=aee0s7gddnw que eu adorei, sobre o Mondrian. Então postei o video acima aqui e deixo o link enviado para que vejam o outro no youtube. A propósito o quadro dessa animação é do Kandinski.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Iman Maleki, um pintor iraniano

Gente estas telas são do iraniano Iman Maleki, pouco conhecido por aqui, mas considerado pelos críticos um dos melhores pintores realistas da atua
lidade, comparado por muitos a grandes mestres. A técnica dele é impressionante! Vejam:
Luz do Sol, 2004.

Compondo música secretamente, 1996.

Apreciem mais em http://imanmaleki.com/

domingo, 7 de novembro de 2010

ENEM 2010 e Ministério da (des) Educação!

Acho que o início deste post merece uma exclamação da sabedoria popular: EU MORRO E NÃO VEJO TUDO! Minha mãe costumava dizer isso toda as vezes em que se encontrava diante de uma barbaridade. Haver erros na prova do ENEM 2010 já é mais do que inacreditável, afinal o INEP organiza uma prova por ano. Meu Deus! Agora o MEC postar ameacinhas mal redigidas no twitter...é o que se vê na frase a seguir, entre aspas, retirada do twitter oficial do órgão:"Alunos que já 'dançaram' no Enem tentam tumultuar com msgs nas redes sociais. Estão sendo monitorados e acompanhados. Inep pode processá-los".
Há momentos em que não só me sinto impotente como muda! Quando o órgão oficial responsável pela Educação se comporta dessa forma, o que esperar dos estudantes? Quanto à temeridade do gabarito trocado, dispensa muitos comentários. Os alunos se preparam, dedicam seu tempo e depois são surpreendidos com erros grotescos. Como diria Boris Casoy: "É uma vergonha!"

sábado, 6 de novembro de 2010

Xenofobia é deplorável!!!!

Ao ver a notícia sobre a jovem paulistana, Mayara Petruso, que queria matar todos os nordestinos afogados e conclamou outros a fazê-lo, fiquei chocada. Esse ano já discuti com meus alunos tanto o tema Intolerância ( quando falei da xenofobia, da homofobia, da intolerância religiosa) quanto outros como leis anti-imigrantes e a Copa e o racismo na África tentando alertá-los para o perigo de uma sociedade que caminha para o extremismo. Tenho muito medo dessa parcela de juventude neonazista, neofacista( mesmo que eles não saibam que estão agindo de acordo com essas ideologias) e radical, pois muitos jovens desses logo serão empresários, porfessores, políticos, medicos...O que podemos esperar de alguém que pensa assim? Que seja uma versão 2010 do personagem Justo Veríssimo, político criado por Chico Anísio que queria colocar os pobres na vala? Que seja um médico que se recusa atender pobres, negros, imigrantes, gays? Ou pior, que seja professor e saia por aí disseminando seu preconceito. Nossa Mayara não queria Dilma no poder porque ela é a continuidade do atual governo? Eu também não queria, mas isso não tem a ver com disseminar intolerância. Se não queremos a perpetuação do empreguismo e do populismo devemos votar melhor, ser mais conscientes de nossa função social, ajudar a educar os pobres para que entendam que ao se manterem eternamente dependentes de políticas assistencialistas estão sendo, na verdade, mantidos na conformidade com a "pobreza controlada". Trabalhar para que todos tenham educação de qualidade e aprendam a votar direito é uma boa forma de mudar a situação política que nso desagrada. Radicalismo, ódio e intolerância, ao contrário, jamais produziram resultados históricos satisfatórios, que o digam todos os conflitos por eles motivados e os países e populações por eles assolados. Faço minhas as palavras de Lennon ( assassinado por um maluco radical): " Deem uma chance à paz". Aliás, segue uma tradução livre da canção Criplled Inside ( aleijado internamente) de Lennon, só para refletir:

you can shine you're shoes você pode polir seus sapatos


and wear a suit e usar um terno

you can comb your hair você pode pentear o cabelo

and look quite cute e ficar bem bonitinho

you can hide your face você pode esconder sua cara

behind a smile atrás de um sorriso

one thing you can't hide uma coisa que você não pode esconder

is when you're crippled inside é quando você é aleijado internamente

you wear a mask você usa uma máscara

and paint your face e pinta o rosto

you can call yourself  pode se chamar

the human race de raça humana

you can wear a collar pode usar um colarinho

and a tie e uma gravata

but the one thing you mas a úncia coisa

can't hide is when you're que não pode esconder

crippled inside é quando é aleijado internamente

well now you know that your  bom agora você sabe que

cat has nine lives babe seu gato tem nove vidas

nine loves to itself nove amores

but you only got one mas você só tem um

and a dog life ain't no fun e uma vida de cachorro não tem graça

mamma take a look outside. mamãe olhe ao seu redor

you can go to church você pode ir à igreja

and sing a hymn e cantar um hino

judge me by the color julgar-me pela cor

of my skin da minha pele

you can live a lie until you die pode viver uma mentira até morrer

one thing you can't hide uma coisa que não pode esconder

is when you're crippled inside. é quando é aleijado internamente

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

poesia sílaba II

 

Equili

Brada

na corda                                                                                                bamba

o

fio

da

vi

da

se

te

ce

no

es

cu

ro

Ima

Culada

dois corpos                                                                                     no espaço

atrai ação

o

filho

á

vi

da

a

luz

no

es

cu

ro

Equa

Cionada

O binômio de Newton

e o poema que é sujo.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

poesia sílaba – Fabiano Fontes

 

sem

        sou

                 comum

      se

            me

                                esquece.

Manifesto da Poesia Sílaba – Fabiano Fontes

 

poesia sílaba não é concreta mesmo sendo.Gullar pulverizou a poesia, restou apenas a sílaba.a sílaba é o fotoelétron do organismo palavra de Chamie.

poesia sílaba = criogenia poética.

o manifesto não é autêntico, é SÍ – Lábia.o poema Si basta diminuto. desconstrução do acorde-nota pura sem artifício- o limite poético é a ausência do traste.A música é som e silêncio, a poesia é sílaba Joãobosqueada.

Multifacetada pangeia urbem.o semáforo é sí-

                                                                         la-

                                                                         ba - o pedestre pede passagem cantarolando a música já existente: Abbey Road.Beatles.Beat.Beat it.Na essência a pop art é sílaba.Bas Qui At é sílaba parede do metrô poesia.O edifício é sílaba andar.

Hai cai  é fotografia Sí -

                                  Lábi

                                  ca.

poesia sílaba acaso do menos.encontro de dois Si-Lá:escala de notas poéticas.

sílaba ; bala missíl perdida.tiro cultural.(poesia sílaba não é vanguarda é retaguarda).trilha caminhos explorados – minas palavras – campo minado – palavra explosão.

domingo, 31 de outubro de 2010

Agora é oficial!

Bem, sempre pensei como seria ter uma mulher presidente, só não esperava que fosse assim. Mas como não sou de desejar minha própria desgraça, espero que ela realmente faça algo e não apenas discursos. Agora é pra valer, vamos ver do que ela e seus comparsas são capazes. Tomara que invistam em educação pública de qualidade, pois isso não foi feito nesses últimos 8 anos. Quero menos escândalos no ENEM e discurso sobre as faculdades e mais ação. O problema é que povo educado vota melhor. Eles querem isso?

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Eleições no Halloween


Hoje tive um insight! Acho que entendi porque o segundo turno foi marcado para o dia 31/10. Presumo que o PT imaginou: se houver segundo turno, pelo menos o Dia das Bruxas pode favorecer nossa candidata, afinal as irmãzinhas dela poderão contribuir como cabos eleitorais na boca de urna, assombrando os eleitores do Serra. Uhauhauha!

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Um imbecil incomoda muita gente, dois imbecis...


Acho que nós merecemos mesmo! Um país  de gente que enxerga só o que quer tem mesmo de dar continuidade a um governo corrupto "como nunca se viu antes na história desse país". O mais triste e inconsolável  é ver tantas cabeças intelectuais apoiando essa temeridade.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2 - Uma obra imperdível

Por favor, quem ainda não viu o Tropa de Elite 2, veja. O filme 1 era ótimo, mas o 2 me pareceu ainda melhor, caso raro no cinema no que diz respeito a continuações. Na verdade, como disse o Fabiano, o Tropa 1 era um filme de ação, o 2 é um filme de ideia. É claro que o primeiro fez muita gente pensar sobre o BOPE e suas ações, mas a adrenalina dos procedimentos do Capitão Nascimento e sua tropa era o que regia o filme. Na continuação os roteiristas foram ainda mais brilhantes ao retratar o universo sórdido por trás da segurança pública e de suas alianças com a política. Sinceramente, para mim é um  documetário disfarçado de ficção: o retrato da corrupção política, dos bastidres das negociatas com as milícias, da cretinice de políticos que tirem proveito de figuras com veradeiros ideais (  embora muitos não concordem com os métodos dele, o perosnagem age por convicção, ainda que seja violento) como Coronel Nascimento ( nesse filme ele está mais velho e é  coronel). Graças a Deus o público brasileiro está correspondendo a altura e lotando as salas de cinema. Só é uma pena que o filme não tenha sido lançado antes do primeiro turno das eleições, acho que se isso tivesse acontecido muita gente teria repensado seu voto em deputados e senadores. Quanto às atuações, dispensam comentários: Wagner Moura continua brilhante como sempre, Andre Mattos está impagável no papel do deputado, enfim o elenco todo é magnífico, não  há atuações distoantes, a produção toda é um primor.

sábado, 9 de outubro de 2010

Um bom texto de uma aluna

Uma aluna minha, figura muito inteligente e também bastante resguardada, me mostrou o texto a seguir. Gostei muito da construção e pedi a ela que me permitisse publicá-lo aqui. Eis o texto, resguardado o anonimato da autora, conforme ela me pediu. Aproveitem!

Passei um fio imaginário, costurando as duas metades do corpo onde podia sentir as costelas. Já tinha esfarelado os ossos da mão direita contra a parede novamente, num relâmpago lúcido e ardido. E a dor vinha. Tirei a camiseta que vestia para, num abraço, rasgar o corpo todo com as unhas. Da coluna até os seios, eu ia desenhando estradas avermelhadas, rabiscando o braço. Só me deixei em paz quando as unhas já não aguentavam se dobrar a carne macia e mal-tratada. Mas queria a dor. Queria a dor para me sentir menos miserável, menos ridícula. Com uma caneta preta escrevi "dor" nas costelas esquerdas. A tinta falhava, entao risquei só com a pressao da ponta. As letras saltaram em relevo, concretas enfim em alguma parte de mim. Aí achei um lápis para continuar escrevendo o que sentia ali, intervalos de razão bem conduzidos. Recoloquei a camiseta preta e fui buscar algo para passar nas feridas enquanto forjava uma cara de normal para caminhar pela sala sem ser notada. Álcool. Despejei, apagando a mal-feita palavra e sentindo o líquido queimando as paralelas dos braços. Quando percebi que doía mais isso do que espalhar pelo corpo, encharquei as mãos e deixei que o ar gelado após a evaporação me desse um prazer ilhado nesses momentos. E me descobri novamente sem blusa e, sentada no chão do quarto, puxei o cobertor para me cobrir do frio que chegava. Nada no quarto justificava aquela garrafa de álcool ali. Nada no dia justificava essa tristeza. Tudo havia corrido bem e, mesmo assim, terminava rompendo as cordas da sanidade. Ainda não aprendi a desenhar diários e confissões sem ter destinatário, um grito de socorro que seja. Dei voltas e mais voltas na agenda do celular para ligar para alguém, dizer que as coisas não estavam legais, mas os nomes que eu via não atenderiam. Não entenderiam. As pessoas vêm e vão, vêm em vão. Mas meu otimismo de armário, infantil, não me deixa em paz durante o dia. E é nas horas claras em que eu me confesso, em sons e notas, em verso e prosa.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Um ótimo poema, infelizmente pouco lido!

O texto a seguir é da magnífica poeta portuguesa Florbela Espanca. Já foi até musicado por Fagner, nos tempos em que ele fazia coisas assim, maravilhosas. Espero que se deliciem com ele assim como eu sempre o fiz, desde que o conheci em minha adolescência.

FUMO - Florbela Espanca

Longe de ti são ermos os caminhos,


Longe de ti não há luar nem rosas,

Longe de ti há noites silenciosas,

Há dias sem calor, beirais sem ninhos!



Meus olhos são dois velhos pobrezinhos

Perdidos pelas noites invernosas...

Abertos, sonham mãos cariciosas,

Tuas mãos doces, plenas de carinhos!



Os dias são Outonos: choram... choram...

Há crisântemos roxos que descoram...

Há murmúrios dolentes de segredos...



Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!

E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,

Fumo leve que foge entre os meus dedos!...

domingo, 3 de outubro de 2010

Eleições 2010 – A farsa das pesquisas

Parafraseando Shakespeare, há algo de podre nos Institutos de Pesquisa brasileiros. Mais uma vez o resultado das urnas comprova que as pesquisas eleitorais estavam erradas. Não estaria então mais do que em tempo de se  revisar como é que IBOPE, DATAFOLHA e os demais ainda colhendo seus resultados? Não é possível que eleição após eleição esses números sejam falhos e tudo continue como está. É preciso que, urgentemente, os métodos destas pesquisas sejam não só alterados, para que os resultados divulgados sejam mais coerentes, como é necessário que o eleitor saiba EXATAMENTE como são realizados  este levantamentos, afinal os tais pesquisadores são como cabeça de bacalhau, cabelo de freira e Roberto Carlos de bermuda, existe, mas nunca se viu! Mais transparência, é só que queremos.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

De quando a boa educação se torna uma falha

 

Os recentes episódios envolvendo o abusadinho Neymar, jogador do Santos Futebol Clube, me levam a crer que os valores educacionais estão realmente sendo substituídos por interesses comerciais, por mais que isto seja óbvio. Como pode um garoto mimado, sem educação, grosseiro, que se acha melhor do que os demais porque enriqueceu, conseguir derrubar um técnico que, corretamente, o puniu para educá-lo? Desde quando impor limites é crime?

Casos como este, ao contrário do que pensam muitos, não dizem respeito apenas ao universo do futebol: eles ilustram a incapacidade de muitos pais de darem limites e valores morais a seus filhos. A demissão de Dorival Dias, por ter punido Neymar, da ao protegidinho projeto de craque a sensação de que a vida correrá sempre de acordo com aquilo que ele quiser e mais: que ele tinha razão, como é rico, pode tudo. E eu ainda vejo pessoas defendo o garoto: ele é adolescente, são coisas da idade. Sim e daí? Errou, tem de ser punido, precisa saber que o mundo tem regras que não são as dele, que respeito é bom e todos gostam. Além disso, precisa saber que existe algo chamado hierarquia , respeito àqueles que são nossos superiores em cargos; além de entender uma lição que deveria ter trazido de casa: se não respeitou o técnico por ser seu superior hieráquico que pelo menos o respeitasse por ser mais velho, assim manda a boa educação. Eu realmente temo viver num mundo povoado por esses reizinhos mandões intocáveis, “umbigocêntricos”, sem poder de frustração. Quando magoados, eles liberam uma agressividade difícil de conter.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Um conto novo

 O texto a seguir foi terminado hoje, após alguns dias de trabalho. É um pouco longo, espero que tenham paciência para ele.
AT LAST – GIOVANA MARQUES FONTES
Já passava das seis da tarde quando ela entrou no taxi. Nova Iorque naquela época do ano costumava ser um pouco abafada ou talvez, nem isso, sufocante mesmo. Exageros de turistas deslumbrados transitando na quinta avenida, loucos por fotos do Rockefeller Center, da Catedral St. Patrick. Gente barulhenta! Nova Iorque definitivamente não era mais a mesma. Quando Beatriz chegara ali, no início dos anos 90, a cidade tinha mais glamour, embora fosse também menos segura. Não que a Big Aplle perdera todo o seu charme, mas aquela avalanche de novos ricos a incomodava. Uma gente sem modos, que gargalhava alto, chamando a atenção das pessoas. Umas mulherzinhas magras, de voz estridente, desfilando suas recém aquisições de Louis Vuitton e Prada, alardeando sua riqueza insignificante ( sim, porque perto dos verdadeiros ricos de Manhattan, não passavam de pobres metidinhas a besta, as quais mal falavam português, que dirá inglês), tendo espasmos em frente à vitrine da Tiffanny & CO, sonhando com “diamond rings”, crendo que Marilyn Monroe tinha razão: “ Diamonds are a girl’s best friend”. Gente tonta!
Quando o taxi dirigido pelo mesmo homem indiano habitual, muito atencioso, a deixou na esquina da quinta com a 42 ela se sentiu aliviada. Já via a Grand Central Station, certamente um metrô bem menos barulhento e cheio de turistas a levaria para casa. Mas onde afinal estava o aviso da linha que ela queria pegar? Estranho não haver informação sobre ele, fazia dias que ela não encontrava o Metrô e acabava rumando a pé para Lower Manhattan, a caminho da Liberty St com a Church St. Quando deixou o Brasil para estudar música na Julliard School, Beatriz pensava em voltar, ela gosta de ser brasileira, tem orgulho do seu país, com todos os defeitos que ele possui, mas com o tempo ela foi se sentindo tão local que já não tinha mais como retroceder. De mais a mais a família dela vivia no interior de São Paulo, num local onde não poderia viver de sua arte – violoncelista em Pirapozinho? Nem como piada tinha graça. Bem, isso a obrigaria a mudar para a capital do estado ou pro Rio. O que ocorre é que do Rio, como toda boa paulista, ela não gostava, não iria para lá nem morta! E Sampa, o que dizer de Sampa, é um superlugar, porém NY também era e ela já estava estabelecida lá, tocava com grandes músicos, enfim... o sacrifício não valeria a pena, por isso foi ficando.
Agora, 11 anos depois, certamente não haveria retrocesso, ela conseguira o Green Card e já aprendera a amar Manhattan, sentia-se quase uma personagem do Sex and the City, não fosse pela ausência do sex, afinal namorados e afins tinham passado longe dela pelo menos nos últimos seis meses ou mais, já perdera a conta. Ou talvez, ela até fosse mesmo como a Charlotte, a mais romântica das quatro amigas. Acho que precisava de um pouco de Samantha, às vezes, mas suas incucações com o próprio corpo a impediam de ser tão impetuosa e segura de si como a personagem ninfomaníaca.
Tudo naquele dia corria como de costume: o mesmo taxista, o mesmo trem que não vinha, porém algo a incomodava sobremaneira, embora Bia não tivesse percebido que o taxista indiano observava de longe, há dias, o ritual cumprido por ela. Ela que sempre fora tão solícita, que sempre se interessara pelas pessoas e seus costumes, ela percebeu, pela primeira vez, que havia meses era levada à estação pelo mesmo taxista, só que nada sabia dele, a não ser que era indiano. Por que estaria ele em NYC? Pobreza em sua terra natal? Desilusão amorosa, seria ele um assassino procurado? Às vezes a cabeça de Bia pensava como os seriados de policiais que ela adorava: CSI, Criminal Minds, Law and Order... quando criança ela era aficcionada pelos livros de mistério da série vaga-lume, deliciou-se várias vezes com a releitura de O mistério do Cinco Estrelas, O rapto do garoto de ouro e Spharion, dentre outros. Já adolescente, devorou os livros de Agatha Christie, os romances e contos de Rubem Fonseca, também gostava de Maupassant, Conan Doyle e até Stephen King, lido no original nos tempos de curso de inglês. Claro que suas leituras iam muito além disso, Beatriz era uma mulher notável, com uma vasta cultura geral e um especial interesse pela música e as demais artes. É que esse passado todo ligado aos livros de mistério, somado aos seriados atuais, a tornavam investigativa e, por vezes, meio paranóica (teria ficado ainda mais se percebesse que o homem a observa constantemente). Fora isso precisamente que a fizera pensar no taxista: ele sabia todos os seus hábitos, ouvira diversas vezes suas conversas ao celular com os amigos, horários de encontros marcados. Pela primeira vez ela pensara que poderia ser ele o homem que vinha insistentemente tentando abordá-la sem se mostrar.
No primeiro dia em que recebeu as tulipas brancas ficou feliz, pensou que podiam ser de Jurgen, um alemão belíssimo, muito discreto, que dividira o palco com ela em diversas ocasiões. Havia tempo que ela o paquerava, mas não sabia como marcar um encontro, ele era tão reservado... só quando aquelas flores vieram seu lado adolescente sonhou que o príncipe a percebera, porém não havia cartão. Ela então esperou um sinal, mas nada. Eis que três dias depois, no mesmo horário, mais um buquê de tulipas brancas chegava, desta vez acompanhado por uma caixa. Bia teve medo abri-la. Depois do 11 de setembro todos ficaram um pouco paranóicos. E se fosse uma bomba? Sabe-se lá que tipo de malucos estão por aí. A curiosidade feminina, contudo, a consumia e ela arriscou: bem, dentro da caixa havia apenas um cd de Etta James, cujo encarte trazia grifada a música At Last. É claro que ela gostava tanto de Etta quando da canção e por isso a conhecia bem, mesmo assim resolveu ouvi-la novamente, atentando com cuidado para a letra: “ Enfim meu amor apareceu/ meus dias de solidão acabaram/e a vida é como uma canção/ enfim o céu acima está azul...” Era óbvio que o remetente das flores a amava, mas o que queria ele com tanto mistério? Por que não se apresentava ( ou se revelava)?
Como adorava simbologia, resolveu ver se encontrava um significado para as tulipas brancas. Encontrou um site que afirmava serem estas flores símbolo da declaração de amor e, como o branco é símbolo de pureza e paz, ela pressupôs estar diante de um admirador recatado e um pouco estranho, entretanto inofensivo. Contudo, ao fim de um mês de ritual, ela começou a se preocupar. Falou sobre isso com as amigas, que a aconselharam a ir à polícia. Para dizer o quê? O que eles poderiam fazer? Estariam interessados em um caso como esse tendo tantos crimes graves para resolver? Decidiu bancar Sherlock e descobrir por si mesma. Mas, até aquele fatídico dia, não havia suspeitado do taxista indiano. No dia seguinte, levou ao ensaio uma das tulipas e resolveu exibi-la consigo ao pegar o táxi: queria investigar a reação do homem ao ver a flor. Na verdade, como o trabalho acabara mais cedo, Bia ficou 25 minutos esperando até que aquele taxista passasse pela quinta avenida. Ninguém espera tanto por um veículo em NY, a menos que tenha um motivo: a cidade tem uma frota imensa de táxis. Mas eis que quando passavam cinco minutos das seis da tarde ele apareceu. “Good afterrrrnoon”, disse ele com seu sotaque inconfundível. Só que dessa vez ela perguntara algo a ele, em vez de simplesmente responder. Num misto de felicidade e pasmo ele respondeu: “vim para cá porque perdi minha família num acidente de avião. O choque me fez querer mudar de vida, abandonei minhas empresas em Kalyan, região metropolitana de Mumbai, e sai sem rumo pelo mundo. Após dois anos viajando cheguei a NYC: esse era o sonho de Shobba, porém eu não tinha coragem de concretizá-lo sozinho, por fim entendi que devia isso a ela.” “Ah, sim, ainda recebo dinheiro todos os meses e dividendos no final do ano, o taxi é apenas uma distração, achei que seria uma forma de conhecer pessoas longe das convenções sociais com que fui criado. Trabalho poucas horas por dia, só que gosto de estar aqui quando a senhorita passa”. Ao ouvir isso Bia estremeceu, seu sexto sentido a fez pensar que não sairia viva do táxi, contudo sua razão lhe disse que ela era tola e raciocinava como personagem de filme B .
Quando chegaram à rua 42, a pergunta de Anando ( esse era o nome dele) surpreendeu Beatriz: por que a senhorita nunca me pede que a deixe em seu destino final? Levaríamos menos tempo daqui até a Liberty com a Church St de táxi do que a senhorita leva a pé. Se sua preocupação é o preço eu cobro o mesmo, assim a senhorita não tem desgastes nem custos adicionais. Desculpe-me se a assustei, mas é que ouço tantas ligações suas que já intui para qual direção vai, porém não quis ser invasivo, só que tenho pena de vê-la caminhar tanto. Beatriz pagou a tarifa usual e desceu do taxi muda, atônita. Ao sair da Grand Central a pé, em direção ao 10006 Lower Manhattan, cuidou para ver se não era seguida. E era, mas o indiano se disfarçava bem na multidão, ela não pode percebê-lo. Naquela noite, sonhou que era seqüestrada e que sofria muito nas mãos de Anando antes que ele a matasse. Na manhã seguinte, ela foi diretamente à delegacia e reportou à autoridade de plantão tudo o que sucedera no último mês. O delegado ficou muito bravo com Bia, disse que ela deveria tê-los procurado antes, porque o perfil descrito por ela combinava com o de serial killers. Decidiu, então, sair da cidade sem deixar muitos vestígios. Bia ligou para o maestro com quem ensaiava para um novo concerto e disse que estava doente e se ausentaria por uns dias. Pegou apenas uma mala pequena, sua imensa nécessaire, o violoncelo e foi para o aeroporto. Já que teria de “fugir” iria para a praia, não havia nada de que ela gostasse mais do que o mar.
Chegando ao Maine, ligou para o Agente Hills, encarregado do caso dela. Ele disse que localizara Anando e que o estava seguindo, porém era impossível prendê-lo apenas por suspeita, a história dele sobre a família e as empresas era real. Além disso, Anando jamais tivera passagem pela polícia: que ela ficasse calma ─ lhe pediu Hills ─ longe de NYC Bia estaria a salvo. Ela então vagou despreocupadamente pela orla, tomou um pouco de sol, coisa que não fazia há mais de um ano e, finalmente, sorveu vagarosamente uma Heineken, gostava de cerveja, porém só no Brasil se costumava conseguir uma realmente gelada. Aquela estava como de costume, fresca, da maneira como preferem os americanos. Cansada, voltou ao hotel para um descanso, mas sequer teve coragem de entrar no quarto: a visão das tulipas na porta do 288, seu aposento, lhe provocou arrepios e uma crise de choro. Sem saber a quem recorrer, saiu desorientada: os faróis dos carros naquele lusco-fusco a entorpeciam ainda mais, sua cabeça pesava, ouvia as gargalhadas estridentes das turistas da quinta avenida ecoarem. Quando deu por si estava rodeada de pedestres, não sabia dizer quem era, de onde viera. Então os paramédicos do 911 chegaram, a examinaram e a encaminharam para a delegacia. Lá, pelo número do social security, conseguiram identificar a procedência dela. Como Beatriz estivesse sozinha em Harbor Beach, os policiais a acompanharam ao hotel, pegaram as coisas dela, fizeram o check out e a mandaram novamente para NYC.
Ao chegar à Big Apple, Bia reconheceu o Agente Hills: ele a esperava no aeroporto para conduzi-la para casa. Quando lá chegaram, a senhoria, aos prantos, a abraçou soluçando muito. O Agente Hills ajudou a dona da casa em que Bia alugava um quarto a fazer as malas dela e eles a levaram ao St. James Hospital. Desde a morte do noivo, no 11 de setembro, essa era sua nona internação psiquiátrica. Pensando em Jurgen estirado no chão, em frente o World Trade Center, na esquina da Liberty com a Church St. ela rememorava seu desespero. E, carregando as tulipas brancas bem junto ao corpo, ela repetia as últimas coisas que Jurgen, seu noivo, lhe dissera ao celular, pouco antes que os paramédicos o declarassem morto: “ eu estou bem querida. O susto foi grande, há muita agitação aqui e a poeira dificulta a respiração, mas tenho apenas ferimentos leves, só a dor de cabeça me incomoda. Serei encaminhado para o hospital e em uma semana estarei pronto para nos casarmos. Ache as mais bonitas tulipas brancas, como as que sempre lhe dou, e mantenha-as com você, onde elas estiverem eu estarei. I Love you, at last my Love has come along, my lonely days are over and life is like a song...

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Algarismar - Fabiano Fontes

Algarismar
              Algo ali a rimar
                           Algo ri além mar  
                                        All Gagarin a   na             gar
                                                                          ve                   
                                                       Algo vi e pus-me a chorar
                                                                     Algo em mim quer matar
                                                                                                    Algo.

Ode Urbem - Fabiano Fontes

Hoje não quero nada
que me molhe a garganta.
Não quero o certo,
nem o errado,
nem tão pouco a medida
exata do ser.

Quero sim:
a fumaça das narinas
dos carros apressados
vomitando restos de cinzas
 pelas janelas.

E a estupidez racional
dos pontos de ônibus.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Essa é boa! Divirtam-se

Quando Deus fez o mundo, para que os homens prosperassem decidiu dar-lhes apenas duas virtudes. Assim:

- Aos Suíços os fez estudiosos e respeitadores da lei.
- Aos Ingleses, organizados e pontuais..
- Aos argentinos, chatos e arrogantes.
- Aos Japoneses, trabalhadores e disciplinados.
- Aos Italianos, alegres e românticos.

- Aos Franceses, cultos e finos.
- Aos Brasileiros, inteligentes, honestos e petistas.
O anjo anotou, mas logo em seguida, cheio de humildade e de medo, indagou:
- Senhor, a todos os povos do mundo foram dadas duas virtudes, porém, aos brasileiros foram dadas três! Isto não os fará soberbos em relação aos demais povos da terra?
- Muito bem observado, bom anjo! exclamou o Senhor.
- Isto é verdade!
- Façamos então uma correção! De agora em diante, os brasileiros, povo do meu coração, manterão estas três virtudes, mas nenhum deles poderá utilizar mais de duas simultaneamente, como os demais povos!
- Assim, o que for petista e honesto, não pode ser inteligente.
- O que for petista e inteligente , não pode ser honesto.
- E o que for inteligente e honesto, não pode ser petista.!!!!!!
Palavras do Senhor !!!.

Nota de esclarecimento
Fico triste quando usam a Internet para espalhar informações que não procedem! Enviaram-me hoje um e-mail dizendo que o sangue do nosso presidente é do tipo A-peritivo, e o dos que votaram nele dele é do tipo O-tário.
É muita sacanagem e falta de ética passar esse tipo de coisa.... Temos que divulgar informações corretas! O sangue do presidente é do tipo B-bum e o dos eleitores AB-estalhados.
Não esqueça:
A mentira tem perna curta, língua presa, barba branca e um dedo a menos...
P.S. - NÃO VOTEI NO "CARA" E NÃO VOU VOTAR NA "COROA".

terça-feira, 14 de setembro de 2010

PROFESSOR ESTÁ SEMPRE ERRADO Jô Soares

Não sei se o etxtoa seguir é realmente do Jô, recebi por e-mail, mas de qualquer forma achei curioso, por isso resolvi postar. Boa leitura!

O material escolar mais barato que existe na praça é o professor!
É jovem, não tem experiência.
É velho, está superado.
Não tem automóvel, é um pobre coitado.
Tem automóvel, chora de "barriga cheia'.
Fala em voz alta, vive gritando.
Fala em tom normal, ninguém escuta.
Não falta ao colégio, é um 'caxias'.
Precisa faltar, é um 'turista'.
Conversa com os outros professores, está 'malhando' os alunos.
Não conversa, é um desligado.
Dá muita matéria, não tem dó do aluno.
Dá pouca matéria, não prepara os alunos.
Brinca com a turma, é metido a engraçado.
Não brinca com a turma, é um chato.
Chama a atenção, é um grosso.
Não chama a atenção, não sabe se impor.
A prova é longa, não dá tempo.
A prova é curta, tira as chances do aluno.
Escreve muito, não explica.
Explica muito, o caderno não tem nada.
Fala corretamente, ninguém entende.
Fala a 'língua' do aluno, não tem vocabulário.
Exige, é rude.
Elogia, é debochado.
O aluno é reprovado, é perseguição.
O aluno é aprovado, deu 'mole'.
É, o professor está sempre errado, mas, se conseguiu ler até aqui,
agradeça a ele!
Esta é para ser repassada mesmo.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Eleições chegando

Vi, na semana passada, a ótima Lucia Hypolito ( jornalista e comentarista da CBN) explicando ao eleitores um dúvida que, creio, seja de muitos, por isso resolvi repassar os ensinamentos dela aqui: Corre, sempre que há eleições, um boato de que se mais de 50% dos eleitores votarem branco ou nulo a eleição é anulada. Porém, só o TSE tem o poder de anular uma eleição caso algo nela tenha saído em desconformidade com a lei, por exemplo: compra de votos, transporte ilegal de eleitores, alimentação de eleitores paga pelo candidato, dentre outros. Quanto aos votos brancos e nulos, eles não são válidos e, por isso, não entram na contagem, ou seja, o cadidato eleito terá de ter percentual adequado apenas dos votos válidos. Portanto, meus amigos, VOTEM CORRETAMENTE, ESCOLHAM SEUS CANDIDATOS COM BASE EM PESQUISAS FEITAS POR VOCÊS MESMOS. NÃO CONFIEM CEGAMENTE NOS INSTITUTOS DE PESQUISA E, MUITO MENOS, VOTEM EM ALGUÉM PORQUE ACHAM QUE A CRIATURA VAI GANHAR.  A FIM DE NÃO PERDER O VOTO. Lembrem-se de que o Brasil até pagou o FMI, mas nossa dívida interna está pelas alturas e os cargos comissionados, no governo Lula, aumentaram para 64000, contra 11000 no período de FHC, o que já era uma exorbitância.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Vestígios do Nada- Giovana Fontes

O texto a seguir é, antes de mais nada, um exercício de escrita. Trata-se de um conto que eu creio que ainda esteja inacabado, mesmo assim resolvi dividi-lo com os nossos leitores ( nossa parece tão pedante isso ,né?), pelo menos com os 33 aqui cadastrados rssss, que têm coragem de palpitar sobre minhas loucuras. Leiam e comentem, se tiverem paciência.
Vestígios do nada
São definitivamente tortuosos os caminhos pelos quais a vida nos conduz. A pequena cidade de Sezelândia ainda não havia percebido algo de diferente naquela manhã. Mas eu, como sempre, esperava que uma coisa qualquer fantástica acontecesse e nos tirasse daquele marasmo em que vivíamos, eterno finados em dia de chuva!
Quando os moradores se reuniram diante da praça, espantados, falando muito, tergiversando sobre as possibilidades do ocorrido, ninguém de fato tinha idéia do que havia realmente se passado ali. Era treze de janeiro, um calor africano, sem vento, que desanimava até os refrigeradores de ar, havia se instaurado na cidade. Fato típico do período, porém dessa vez viera ainda mais intenso, como se uma caldeira imensa aquecesse o local sem que nada pudesse refrescá-lo.
Em meio à balburdia, seu Nicolino gritou que o neto dele havia desaparecido sem deixar rastros. Na mesma melodia monocórdica, em tom de ladainha, vieram os demais lamentos: D. Juvelina e D. Natalina também haviam perdido os netos; D. Suzana gritava pela filha; Até o bebê de 8 meses havia estranhamente desaparecido do ventre de Ernestina sem deixar rastros, como diabos isso era possível? Parto sem corte, sem dor, sem ser percebido pela mãe? Só podia mesmo ser coisa do demo, do tinhoso, do três dedos, dizia D. Juvelina se benzendo com galhos de arruda e guiné e fazendo o sinal da cruz.
Enquanto isso, Ernestina estava sentada na sarjeta, catatônica, repetindo sempre a mesma história: saíra de casa às 7 da noite com o marido para ir ao circo. A lona havia sido montada no dia anterior, aquela era a estréia, nenhuma alma da cidade havia faltado, estavam todos lá: inclusive os futuros desaparecidos. Quando ela e Geraldo voltaram para casa, por volta das 11 da noite tudo estava como de costume, mas eis que na manhã seguinte, ela, que dormira grávida, acordara como o ventre seco, como se o Augusto ( seu agora ex-futuro filho) nunca tivesse existido!
Num lampejo, Sezefredo – o Sherlock Holmes local,como era conhecido – teve a brilhante idéia: vamos refazer os passos de todos, nesse processo de reconstituição do acontecido não era possível que não encontrassem uma falha, um fato despercebido até então, um detalhe qualquer que os conduzisse a uma explicação!
O curioso era que nenhum dos envolvidos se via capaz de reproduzir seus próprios passos, parecia que houvera uma amnésia coletiva: lembravam-se de ter ido ao circo, porém esqueceram-se de todo o resto. Por mais que se esforçassem, nada vinha à memória, nem mesmo Sezefredo, cuja memória era de elefante, conseguia se recordar do que fizera. Salomão, o único que se mantinha calmo, pacientemente começou a proferir sua teoria, ouvida atentamente por todos, já que sua sapiência era notória. “Eu”, disse ele, “creio que estamos diante da mais pura manifestação sobrenatural. Muitos aqui devem se recordar do que aconteceu na cidade vizinha, Torvelinho, quando estranhos fenômenos levaram toda a cidade a mudar de atitude em relação à vida. Talvez seja isso que precisemos, quem sabe alguém não nos está dando uma oportunidade de repensarmos quem somos e como vivemos.”
As sábias palavras de Salomão ecoaram fundo nos moradores de Sezelândia, ninguém sabia o que dizer. Fazia sentido, mas por que eles? Era o que todos silenciosamente se perguntavam! Apenas Ernestina, ainda em transe, não ouvira nada do que foi dito. Ela só fazia repetir o nome de Augusto e depois fazia murmúrios incompreensíveis. Só muito mais tarde Salomão compreendeu que ela entoava versos de Castro Alves, que ele lhe ensinara, repetindo sempre a mesma triste parte: “todas têm os seus amores/eu não tenho mãe nem filhos/nem irmão, nem lar, nem flores”.
Por aquelas paragens era comum se ouvirem histórias de acontecidos misteriosos. Eu me lembro que quando era pequena minha avó costumava contar a história de Rosalva, uma menina que, de um dia para o outro, desapareceu sem deixar rastros. Ela me punha medo, dizia que moça direita não dava trela a qualquer rapaz, que aquela menina, a desaparecida, tinha sido levada pelo demo, porque ele ( o capeta) em noites de lua cheia aparecia todo vestido de branco, alinhado em seu terno, com um bonito chapéu, cortejando as moças namoradeiras. Depois, ele as tomava nos braços e saía rodopiando pela praça, valsando, gargalhando. Quando a moça estava completamente seduzida, ele retirava a alma dela e desaparecia com o corpo da pobre coitada, assim havia sido com Rosalva, repetia a vó. Mas depois que cresci, eu descobri que, na verdade, muitas dessas “sumidas”, inclusive a Rosalva, tinham era fugido com algum vendedor, acreditando que levariam uma vida melhor longe de Sezelândia, porém no fundo, na maioria das vezes, acabavam em algum prostíbulo de Belo Horizonte, abandonadas pelos “ noivos” que as deixavam lá com a promessa de vi-las buscar depois, o que jamais acontecia. No fundo, era esse o temor de minha avó. Só que comigo isso não se daria, estava para nascer o homem que me poria numa situação dessa, eu quero me casar sim, mas com alguém que me respeite. Vou sair desse fim de mundo, mas meu destino é o estudo. Quero ser normalista. Vou dedicar minha vida a desemburrecer as pessoas.
Bem enquanto eu me perdia nesses devaneios, a cidade se organizava para as buscas. Todos sabiam que o ocorrido de agora nada tinha a ver com essas memórias que eu evoquei e que muitos ali conheciam. O caso era completamente outro, até porque todos os desaparecidos eram crianças - e ainda tinha o Augusto...esse era o maior mistério, sumido do ventre da mãe...nem Salomão tinha resposta para isso, ainda!
De repente, em meio à multidão, ouviu-se Ernestina gritando: foi ele, eu sabia que aquele malabarista tinha algo de estranho, aqueles olhos fundos, as mãos alongadas demais, ele tocou minha barriga antes do espetáculo, disse que sempre sonhara em ser pai, mas que Deus não lhe dera essa graça. “Desgraçado”, bradava ela, “aquele maldito levou meu filho”. Porém, apesar de compadecidos com a dor de Ernestina, nenhum dos moradores dava crédito às palavras dela: como diabos o homem teria tirado Augusto de seu ventre sem deixar rastros...Muitos já começavam a pensar que a gravidez dela fosse falsa, psicológica, coisa de gente louca, porque bebê não some assim. Só que o Dr. Fausto, homem muito respeitado, afirmou que acompanhara a gravidez e que a criança estava sim no ventre dela, ele próprio ouvira o coração do bebê bater. A única sandice de tudo isso era Ernestina insistir em chamar a criança de Augusto, como se ela pudesse mesmo saber o sexo, coisa que era impossível naquele tempo, por aquelas bandas. Mas todos já estavam tão acostumados com isso que nem mesmo se davam conta dessa barbaridade.
Enquanto todos se desesperavam, afinal nada haviam lembrado, Salomão sugeriu uma nova tentativa: deveriam todos voltar ao circo naquela noite, iriam atentos não ao espetáculo, mas sim ao que acontecia na platéia durante a apresentação. Vieram os cães amestrados, o macaco com os palhaços e seu carro de bombeiro, o homem-cobra, os trapezistas... e nada, tudo parecia normal. Enfim, surgiu o malabarista: olhos fundos, pálpebras pintadas de negro e, em vez de trazer os tradicionais malabares, nesta noite ele trazia três ursos de pelúcia falantes. Todos ficaram espantados, jamais tinham visto coisa semelhante, apenas Sezefredo afirmou que vira numa fita de cinema algo parecido, segundo ele era coisa de americano, só podia ser. O malabarista então começou suas evoluções com os ursos, que gritavam e riam ( como se fossem animados) durante a apresentação. Ao final, ele passou os bichinhos de mão em mão e qual não foi o espanto quando as pessoas perceberam que eram bonecos comuns, como quaisquer outros, não possuiam orifícios muito menos algum equipamento que lhes possibilitasse falar. Assim absortos com os brinquedos nenhum dos moradores de Sezelândia percebeu que o tempo passara e que a noite se tornara dia. Quando saíram daquela espécie de transe, nada podiam dizer sobre o ocorrido. Quanto ao circo, desaparecera como que por encanto e nunca mais se soube se ele realmente estivera ali naquelas paragens ou não: a mente de todos estava esvaziada dos acontecimentos referentes àquele período, apenas uma estranha melodia ecoava na cabeça dos moradores quando os esforços se voltavam para as lembranças.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Duas bolas, por favor! Danuza Leão

Quem le este blog sabe que os textos aqui publicados via de regra são meus ou do Fabiano. Mas, resolvi abrir uma exceção, porque recebi este texto da Danuza Leão e o achei muito pertinente e curioso e, por isso, quis dividi-lo com nossos leitores. Espero que gostem.

Duas bolas, por favor!

Não há nada que me deixe mais frustrada do que pedir sorvete de sobremesa, contar os minutos até ele chegar e aí ver o garçom colocar na minha frente uma bolinha minúscula do meu sorvete preferido.


Uma só? Quanto mais sofisticado o restaurante, menor a porção da sobremesa.

Aí a vontade que dá é de passar numa loja de conveniência, comprar um litro de sorvete bem cremoso e saborear em casa com direito a repetir quantas vezes a gente quiser, sem pensar em calorias, boas maneiras ou moderação.

O sorvete é só um exemplo do que tem sido nosso cotidiano.

A vida anda cheia de meias porções, de prazeres meia-boca, de aventuras pela metade. A gente sai pra jantar, mas come pouco.

Vai à festa de casamento, mas resiste aos bombons.

Conquista a chamada liberdade sexual, mas tem que fingir que é difícil (a imensa maioria das mulheres continua com pavor de ser rotulada de 'fácil').

Adora tomar um banho demorado, mas se contém pra não desperdiçar os recursos do planeta.

Quer beijar aquele cara 20 anos mais novo, mas tem medo de fazer papel ridículo.

Tem vontade de ficar em casa vendo um DVD, esparramada no sofá, mas se obriga a ir malhar. E por aí vai.

Tantos deveres, tanta preocupação em 'acertar', tanto empenho em passar na vida sem pegar recuperação...

Aí a vida vai ficando sem tempero, politicamente correta e existencialmente sem-graça, enquanto a gente vai ficando melancolicamente sem tesão...

Às vezes dá vontade de fazer tudo 'errado'. Deixar de lado a régua, o compasso, a bússola, a balança e os 10 mandamentos.

Ser ridícula, inadequada, incoerente e não estar nem aí pro que dizem e o que pensam a nosso respeito. Recusar prazeres incompletos e meias porções.

Até Santo Agostinho, que foi santo, uma vez se rebelou e disse uma frase mais ou menos assim: 'Deus, dai-me continência e castidade, mas não agora'...

Nós, que não aspiramos à santidade e estamos aqui de passagem, podemos (devemos?) desejar várias bolas de sorvete, bombons de muitos sabores, vários beijos bem dados, a água batendo sem pressa no corpo, o coração saciado.

Um dia a gente cria juízo. Um dia. Não tem que ser agora!

Por isso, garçom, por favor, me traga: cinco bolas de sorvete de chocolate, um sofá pra eu ver 10 episódios do 'Law and Order', uma caixa de trufas bem macias e o Richard Gere, nu, embrulhado pra presente. OK? Não necessariamente nessa ordem!

Depois a gente vê como é que faz pra consertar o estrago...

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A música e o moedor de carnes - Fabiano Fontes

Em agosto de 2010 os telespectadores foram massacrados por um moedor de carnes chamado mercado fonográfico, ao assistir a premiação do prêmio Multishow.Um dia ( em um tempo remoto) os festivais reuniam o melhor da produção artística musical no país, presenciávamos o nascimento de estrelas da grandeza de Caetano Veloso, Gil, Edu Lobo dentre outros, a organização de movimentos lítero-musicais, os debates sócio-econômicos também coloriam os momentos decisivos nos bastidores das apresentações.
Muita coisa mudou, e para pior!!Não quero acreditar(nem ser saudosista) que o ouvinte piorou ou extinguiu o bom gosto musical.O resultado da premiação e a falta de preparo para apresentações ao vivo beirou o vexatório.Foi constragedor olhar as expressões de Arnaldo Antunes e Nando Reis ouvindo a banda feminina( e não por ser composta por mulheres) executar clássicos dos Titãs perdidas no palco procurando a vocalista ou um roteiro para se seguido.Fui obrigado  a aceitar que os melhores são : Cine, Restart, Luan Santana ou Rodrigo Tavares(baixista do Fresno).
É certo o fim está próximo, a música morreu.O pouco que restava de música foi moída pela indústria e embalada com calças coloridas e riffs chicletes.A culpa é do Dadaísmo mal compreendido!isso mesmo, que gerou tardiamente na nova geração a sensação que para fazer arte não é preciso entendê la.Que sofrimento!

sábado, 28 de agosto de 2010

Otário Eleitoral 2 : A missão

Pensou que já ouviu todos os absurdos? Prepare-se: tem um candidato a senador cuja plataforma de campanha é acabar com o senado, alegando que este não serve para nada. Não sei o que é mais cômico: um sujeito se candidatar ao senado achando que ele precisa acabar( por que não se candidatou ao outro cargo então?) ou um candidato ao senado que nem sabe o papel que essa casa possui no processo democrático. È deprimente! Certo mesmo está Manuel de Barros: " O que não acaba no mundo é gente besta e pau seco."!

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Otário Eleitoral Gratuito

É incrível como o Horário Eleitoral consegue ser mais cômico a cada ano. E o mais interessante é os candidatos não querem ser ridicularizados nos programas de humor, como se eles realmente precisassem que alguém, além deles próprios, os tornasse ridículos. Será que eles não veem as propostas que fazem? Será que eles não pensam que falar português corretamente é o mínimo que se espera de alguém que quer ocupar um cargo público? E os que têm slogans estúpidos, com trocadilhos de péssimo gosto? A política neste país tem se tornado piada sozinha, os coitados dos humoristas sequer têm com o que gracejar, visto que as próprias apresentações dos candidatos são a essência do paradoxo eleitoral: comédias que, após 3 de outubro, se transformam em tragédias.

domingo, 22 de agosto de 2010

E nós que temíamos Hitler - Giovana Marques Fontes

Recebi, via internet, um dia desses, uma antiga matéria atribuída a Arnaldo Jabor que versava sobre a solidão das musas da TV. Em seu artigo, Jabor ( ou alguém se passando por ele, já que o próprio Jabor disse que não escreveu metade dos textos “dele” que rodam na rede) alegava que os homens não estavam preparados para tanto silicone, tanta malhação, tanto poderio sexual. Então, sentindo-se diminuídos, preferiam mulheres normais àquelas “deusas bombadas”. Tal reflexão levou-me a pensar no seguinte: durante muito tempo nos deixamos amedrontar pelos grandes ditadores e suas forças bélicas, temendo destruições em massa; a maioria deles, porém, já está morta, portanto não oferece mais perigo. Entretanto, a modernidade nos legou tiranos muito mais nocivos: o apego à estética e a necessidade de aceitação pelo outro, são sem dúvida, os mais cruéis.

É claro que o apreço pela beleza faz parte da existência, desde os clássicos greco-romanos ela é colocada num patamar de excelência (vide as esculturas daquele período que retratavam homens fortes, viris ou heróis épicos como Aquiles e Heitor). Contudo, a partir dos anos setenta do século XX - período em que a alta costura já alucinava definitivamente as passarelas do mundo com suas modelos anoréxicas – a moda e suas tendências de cores e formas começaram a assombrar a vida de mulheres e, mais recentemente, de homens também. Todos queriam abandonar Hefestos e encontrar o Adônis adormecido. Estabeleceu-se que para ser aceito socialmente era necessário ostentar aqueles padrões. Parâmetros até então usuais de beleza e comportamento, que respeitavam as individualidades, foram gradativamente sendo substituídos por formas obsessivamente trabalhadas: abdomens transformaram-se em tanques, pernas tornaram-se fotalezas, seios passaram não só a indispensáveis, como são medidos em mililitros e não mais em centímetros.

O que não se levou em conta, nessa nova ditadura, foi que não há perfeição na humanidade, isso já é da natureza. As beyonce-julianapaes-larissariquelme et congeneres, os gianecchinis-bradpitts-roberthuchingsons não nascem feitos, moldam-se à custa de muita abstinência alimentar, excesso de malhação e, até, de alguns medicamentos de uso proibido que trarão sérios prejuízos à saúde no futuro. Esse fenômeno é tão doentio que a repórter Renata Capucci ─ que também não tem silhueta top model ─ sentiu-se à vontade para agredir, no twitter, a cantora Mariah Carey, ironizando-a por estar, na opinião da repórter, gorda. Eu nem gosto de Mariah, mas acho que o talento dela não depende de suas formas serem esguias ou roliças. Comentários dessa natureza só servem para reforçar a tese de que vivemos preocupados com futilidades ou, pior, exercendo nossa maldade e falta de autoestima criticando nos outros aquilo de que não gostamos em nós mesmos. Entretanto, o que nossa querida Capucci não percebe é que nem todos estão dispostos a essa transmutação física ou preparados para ela.

E é aí que nascem os problemas, todos (ou pelo menos a grande maioria) queremos ser aceitos, ser queridos e admirados. Mas como isso é possível se estamos a anos-luz de distância dos ditames impostos? Muito simples, tornamo-nos nossos próprios déspotas: freqüentamos exaustivamente academias (ou morremos de culpa se não podemos fazê-lo); fazemos a dieta do vinagre, do chá, da lua; compramos a cinta modeladora do Dr. Rey; entupimos salas de cirurgiões plásticos e, por fim, lotamos os consultórios psicológicos e psiquiátricos. Sim, pois ao final de tudo isso descobrimos que continuamos sendo nós mesmos e que, infelizmente, a mudança que almejamos tem de acontecer de dentro para fora e não ao contrário, por mais piegas e óbvia que essa constatação seja.

É hora, pois, de pensarmos em quem estamos nos transformando. É tempo de descobrir se aquele que vemos no espelho é realmente quem gostaríamos ou é apenas um produto para a satisfação alheia. Não faço aqui uma apologia contra a boa forma ou a cirurgia estética (mesmo porque estaria sendo hipócrita se o fizesse), chamo apenas a atenção para o fato de que estamos criando neuroses desnecessárias, afinal há mais gente necessitando de plásticas no caráter e no ego do que no corpo e isso, pesarosamente, não se consegue em consultórios médicos. Para a conquista de tal intento é preciso que reformemos nossos conceitos ditatoriais de mundo e, principalmente, que abandonemos nossas pequenezas, afinal criticar o “corpinho” de Mariah não nos faz dormir como Dona Redonda e acordar Angelina Jolie.

Em suma, vemos que a chegada da tão sonhada aceitação social está fundamentalmente ligada à descoberta de quem pretendemos ser e para quê. Só assim poderemos aniquilar esse carrasco interior que nos vitima. E pensar que durante tanto tempo nós temíamos Hitler, como se o grande inimigo estivesse fora e não dentro de nós mesmos.

sábado, 14 de agosto de 2010

Um café para dois só para mim - Fabiano Fontes

Fernando Pessoa criou seus heterônimos baseado em seu universo místico, buscando em outros Eus uma forma de expressão poética.Todos nós vivemos no fundo heterônimos sociais.O resultado foi a completa anulação do eu- eu, e as relações ficaram vazias.Não temos mais tempo para perceber as belezas dos nomes, suas melodias e sentidos sinestésicos :Marias, Anas, Beatriz, tantos nomes eternizados na música popular brasileira.Sozinho com meu vinho percebi que não há algo mais solitário do que um café.Em cada mesa uma conversa solitária povoa a imaginação de cada indivíduo, que procura em seus heterônimo uma válvula de escape, um monólogo interior Lispectoriano que nos salve da solidão.Um café para dois só para  mim é uma composição minha nesses momentos de estranhamento com o mundo!O link abaixo conduz para o vídeo no youtube.



http://www.youtube.com/watch?v=cJo7dPq_rxg



Queria tanto te dizer
que tenho medo de perder você
quando você não está aqui
são coisas fúteis do amor
imaginar quando será o fim
do que apenas começou

O teu sorriso é uma canção
que eu guardei no coração
pra ter você perto de mim
e acreditar que até o fim
que você me completou

Castelos no ar
jogos de azar
um café para dois só para mim

Areia e o mar
eclipse lunar
um café para dois só para mim

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Vou ser deportado de Pasárgada! Giovana Fontes

A recente aprovação da Lei SB 1070, no estado norteamericano do Arizona, reacendeu o debate mundial sobre as questões de imigração. Propondo a criminalização da imigração ilegal, assim como o direito da polícia revistar e abordar – em virtude de uma simples impressão pessoal – qualquer indivíduo que apresentar “suspeita razoável”, a lei se configura não só como uma violação aos direitos humanos ( já que trabalha com uma espécie de presunção de culpa), mas também como uma forma xenofóbica de conter um deslocamento que foi responsável pelo desenvolvimento dos países como um todo, inclusive dos próprios EUA.


O mais interessante é que se pensarmos nas questões históricas relacionadas às mobilidades dos povos chegaremos a algumas conclusões curiosas: a primeira delas é que a própria América é um continente totalmente formado por imigrantes, haja vista que os nativos de nosso continente foram quase completamente dizimados pelos conquistadores que aqui chegaram após Cristovão Colombo. A segunda é que os EUA, que agora rechaçam seus imigrantes (sobretudo os mexicanos) fundaram seu país saindo da Inglaterra para a América; portanto, se os nativos norteamericanos indígenas os tivessem expatriado - como agora querem fazer com os imigrantes ilegais - ou eles teriam voltado para casa e se sujeitado à estrutura religiosa inglesa contra a qual lutavam ou estariam vagando sem rumo, fazendo companhia aos Curdos, que não possuem uma terra própria. A terceira é que muitos dos estados americanos fronteiriços ao México eram pertencentes a este país e foram usurpados, pelos estadunidenses, por meio de batalhas ou acordos escusos.

Não bastasse isso, há que se considerar ainda que os imigrantes, na maior parte dos países para onde vão, executam trabalhos indignos ou, ao menos, realizam tarefas que não são desejadas pelos nativos, tais como serviços domésticos, trabalhos pesados na construção civil, atividades insalubres, dentre outras. Além disso, muitos destes indivíduos, justamente por estarem em situação ilegal, aceitam remunerações pequenas e ausência total de direitos trabalhistas, algo a que um nativo de países desenvolvidos provavelmente jamais se submeteria. Pelo menos não até que estas nações sofressem alguns colapsos financeiros ( como a crise imobiliária norteamericana em 2008) em virtude dos quais seus cidadãos perderam empregos e se viram endividados, passando, então, a perseguir duramente os imigrantes, os quais se tornaram alvo da responsabilidade pela ausência de empregos no país.

É oportuno, contudo, observar que o relatório da ONU de 2009 intitulado “Ultrapassar barreiras: mobilidade e desenvolvimento humanos” constatou, ao contrário do que afirmam os xenófobos segregacionistas, que apenas 37 % do fluxo migratório mundial acontece de países em desenvolvimento para países desenvolvidos e que a mão de obra trazida pelos estrangeiros é, via de regra, responsável pelo crescimento das economias dos Estados que os acolhem e não pelo colapso dela. O próprio Brasil pode e deve ser utilizado como um exemplo: sem a mão de obra dos italianos, alemães, ucranianos, poloneses, japoneses, dentro outros, que para cá vieram em fins do século XIX e início do século XX, certamente nosso desenvolvimento econômico e social teria sido prejudicado, haja vista que os estados do sul foram fundamentalmente colonizados por estes povos e são hoje todos economicamente bem desenvolvidos.

O mais impressionante é que essas medidas de endurecimento em relação ao fluxo migratório estão ganhando adeptos e podem, em pouco tempo, transformar-se em políticas altamente segregacionistas que acabarão por prejudicar também aos que vivem legalmente como imigrantes em um país, posto que elas acabam por incentivar ( e até legitimar) o ódio interracial. Às vezes fico pensando que se essa xenofobia ganhar proporções mais globalizadas e atingir as terras tupiniquins pode ser que em 2108, ao invés de comemorarmos com festa os 200 anos da imigração japonesa ao Brasil estejamos montando postos para deportação de todos os que possuam olhinhos puxados.

Enfim, se este despautério dirfarçado de política migratória (com intento “de diminuir a violência e combater o tráfico de drogas,” como alegam preconceituosamente os estadunidenses) continuar a crescer, temo que, no futuro, o poema “ Vou-me embora pra Pasárgada”, de Manuel Bandeira, se torne leitura proibida nas escolas, pois será uma espécie de ode ao desrespeito a tais políticas . Quanto ao coitado do “eu-lírico”, se ele investisse em sua ida ao paraíso por ele idealizado, em vez de “fazer ginástica, andar de bicicleta e tomar banhos de mar”, provavelmente seria deportado antes mesmo de conhecer as maravilhas locais.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Dividindo a arte esquecida: Poema - Cazuza

Esse texto é um belíssimo poema que o Cazuza fez para a avó dele, quando ela morreu, e que só descoberto depois da morte de Cazuza. A mãe dele, Lucinha Araújo, encontrou o texto e deu para o Ney Matogrosso. O Ney pediu ao Frejat que musicasse e gravou. É uma maravilha! Aí vai o link do youtube para quem quiser conhecer ou rever esta maravilha: http://www.youtube.com/watch?v=xYQDMX-Z9K4

"Eu hoje tive um pesadelo e levantei atento, a tempo


Eu acordei com medo e procurei no escuro

Alguém com seu carinho e lembrei de um tempo

Porque o passado me traz uma lembrança

Do tempo que eu era criança

E o medo era motivo de choro

Desculpa pra um abraço ou um consolo

Hoje eu acordei com medo, mas não chorei

Nem reclamei abrigo

Do escuro, eu via um infinito sem presente

Passado ou futuro

Senti um abraço forte, já não era medo,

era uma coisa sua que ficou em mim, que não tem fim

De repente a gente vê que perdeu

Ou está perdendo alguma coisa

Morna e ingênua

Que vai ficando no caminho

Que é escuro e frio, mas também bonito

Porque é iluminado

Pela beleza do que aconteceu

Há minutos atrás"

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Revolução desarmada por Giovana Marques Fontes

Quando estava na Faculdade, certo dia, tive uma discussão fervorosa com uma colega de sala. Analisávamos, para a aula de Literatura Universal, o romance Madame Bovary, de Gustave Flaubert. Eu defendia a tese de que a referida obra, muito mais do que retratar a traição de Emma ao marido Charles, era um retrato da estupidez humana, pois quase todas as personagens (farmacêutico, dona da pensão, a própria Emma) são interiorianos fofoqueiros, mesquinhos, fúteis e que, na maioria do tempo, ocupam-se de falar da vida alheia. Disse também que Emma não traíra Charles por ser leviana, mas porque, como as mocinhas dos romances românticos, acreditava em príncipe encantado: ou seja, traiu por ser bobinha e crer que alguém possa ser realmente perfeito. Minha colega protestou veementemente: “Todas nós somos um pouco Emma Bovary, não acho que ela seja estúpida!”, ao que eu prontamente retruquei: “ Se você quer se assumir idiota, faça-o sozinha!”. Hoje vejo que, em partes, a moça tinha razão.

Mas o que permitia a duas pessoas lerem a mesma obra, interpretá-la de maneiras opostas e, ao mesmo tempo, corretas? O fato de que a leitura nos propiciou, como aliás é sua função, momentos de fantasia, embevecimento e também capacidade de reflexão sobre o universo em que vivemos. Afinal, ler é a nossa maior arma, pois o conhecimento foi e sempre será o único e genuíno instrumento de poder, daí porque em tempos de guerra e de regimes ditatoriais os intelectuais são sempre os primeiros a serem silenciados.

Na realidade, quando entramos em contato com uma obra literária, revisitamos mundos, culturas, costumes e, sobretudo, enxergamos a alma alheia; e não só a do escritor que nos oferece de maneira tão pródiga suas impressões, mas também a nossa própria, pois reconhecemo-nos nas páginas, a nós e àqueles que nos cercam, fazendo com que repensemos nossa forma de agir e reagir sobre as coisas do mundo. Marcel Proust dizia que “ Na verdade, todo leitor é, quando está lendo, um leitor de si mesmo. O trabalho do escritor é meramente uma espécie de instrumento ótico, que ele oferece ao leitor para capacitá-lo a discernir aquilo que, sem o seu livro, ele talvez jamais experimentaria sozinho”.

Isso nos leva a perceber que quem não lê (sob a alegação de ser chato, ou pior, de que já passou boa parte da vida sem os livros e eles não fizeram falta) abdica da capacidade melhor dos seres humanos: pensar. Quando vemos em Clarice Lispector retratos de mulheres conformadas, como Laura, do conto A imitação da rosa, acabamos por refletir sobre que posição ocupamos. Estaríamos nós também sendo Lauras, nos resignando com a vida de mesmice que levamos? ( ou seríamos Emma Bovary, como queria minha colega?) Se analisamos com cuidado os casamentos frustrados de Lygia Fagundes Telles em Antes do Baile Verde, infelizmente, reconhecemos agir muitas vezes como as personagens ali descritas. Porém, se por um lado isto é trágico, pois pode nos prenunciar o mesmo destino, por outro nos permite rever nossas posições, alterar nossa “rota suicida”.

É interessante notar, contudo, que nossos jovens têm lido cada vez menos e se acham, por isso, altamente transgressores. Creem firmemente que ao negarem a fantasia e o conhecimento trazidos pela literatura estejam afrontando seus pais e professores, reafirmando a sua condição (felizmente passageira) de adolescentes, no sentido mais estrito do termo. Quanta inocência! Não percebem que os únicos prejudicados são eles mesmos, posto que quanto menor sua capacidade de pensar, criar e criticar o mundo em que vivem, mais eles são manipuláveis, tornando-se os alfinetes do Apólogo de Machado de Assis: onde os põem , ficam; pois no mais das vezes nem se dão conta de que estão sendo dirigidos.

Portanto, se queremos realmente transgredir e mudar algo ( como atestam os adolescentes) façamos a revolução desarmada: leiamos, que o melhor remédio para as dores da alma e do consciente é dar a eles a fantasia e a capacidade de reflexão que só a leitura, em sentido amplo, pode nos propiciar.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A reedição do passado: receita de heroi

O recente epísódio na fórmula 1, em que Michael Schumacher mais uma vez trapaceou sobre Rubens Barrichello no GP da Hungria, me fez lembrar que em 2002 eu havia escrito um artigo a propósito de uma situação semelhante: a ordem que a Ferrari dera a Rubinho para, mesmo vencendo a prova, deixar que Schumacher o ultrapassasse na última volta, para que o ilustre alemão tivesse o primeiro lugar no pódio. Pois bem, relendo o artigo, achei-o muito atual ( embora ele se refira  ao tal Cléber Bambam que havia ganho o deplorável Big Brother naquele ano e que, como eu previ na época, foi celebridade miojo)  e resolvi republicá-lo aqui. Espero que gostem.

Receita para fazer um heroi


Giovana Marques Fontes*



Segundo o Moderno Dicionário da Língua Portuguesa Michaellis, herói é : “Homem elevado a semideus após a morte, por seus serviços relevantes à humanidade”. Que o mundo está carente de heróis, é um fato; pois há muito não temos um grande ídolo, honrado, bravo, destemido, que faça por merecer a designação anterior, dando-nos motivo para tomá-lo como espelho. Entretanto, mais deplorável do que não ter alguém em quem nos mirar, é ter de viver para ver a fabricação barata de mitos.

Estamos em um tempo em que as qualidades essenciais aos vencedores típicos, aos heróis natos, vêm sendo deliberadamente abandonadas em detrimento de receitas de fácil digestão. Leia-se a apologia à ignorância e ao mau gosto, aliados à falta de caráter e a uma falsa ingenuidade, representados pelo tal Cleber Bambam, o herói-miojo do momento.

Talvez isso se dê para acompanhar a evolução tecnológica, a qual impôs um ritmo frenético de vida, decretando a morte precoce das coisas e dos valores a serem adotados, criando este estilo novo de personalidade a ser admirada: o herói de preparo instantâneo.

Como se faz um? Vide a receita, é simples: pegue povos carentes de ídolos, dê-lhes uma personalidade, de preferência mundial – um Michael Schumacher, digamos – adicione uma equipe de fórmula um interessada em vencer a qualquer preço; junte a isso a falta de auto-estima (e porque não dizer de vergonha) da figura em questão. Por fim, acrescente um companheiro de equipe que conhece o real significado desse termo e que, preferencialmente, seja oriundo de um país de terceiro mundo. Leve ao fogo brando, por mais ou menos dois anos, e o seu herói triunfará mesmo sem ter vencido.

Nessas horas chego a ficar feliz por nosso verdadeiro ídolo, Airton Senna , estar morto. Pois seria humilhante demais para ele viver para ver tamanho desmerecimento com o posto que um dia ocupou com tanta dignidade e brilhantismo. Que era é essa, em que um herói não é aquele que, como Senna, respeita aos demais, dando-lhes apoio e amizade, mas aquele para quem os fins – a fama – justificam os meios – vencer sem ter vencido.

Em casos como esses, vemo-nos obrigados a concordar que a personagem Brás Cubas, de Machado de Assis, tinha suas razões ao afirmar: “Não tive filhos, não transmiti a ninguém o legado de minha miséria.” Afinal, o que dirá nossa prole, num futuro próximo, quando souber que a geração de seus pais pautou-se em mitos degradados, em personificações do epíteto de Macunaíma: heróis sem nenhum caráter.

Definitiva e finalmente, isso nos leva a crer que qualquer um de nós pode fabricar heróis à sua moda, eximindo-se do peso que isso deveria acarretar. Afinal, qualquer um que tenha uma carinha bonita, um corpinho sarado ou milhões de dólares, pode comprar pra si esse posto, o qual até bem pouco tempo atrás demandava anos de dedicação e comportamento exemplar para ser conseguido.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

República Dominicana: história e abandono

Gente, Santo Domingo, capital da República Dominicana, é um daqueles lugares que nos faz pensar como a falta de investimento em cultura contribui para a manutenção da pobreza. A cidade é, de acordo com eles, a segunda mais antiga das Américas, fundada por Colombo em 1496. Mas, infelizmente, está absolutamente descuidada, assim como muitos sítios históricos brasileiros. Museus fechados em virtude da chuva, monumentos necessitando de reparos, uma tristeza! Dá para ver que com um pouco de boa vontade e muito investimento se poderia ganhar dinheiro e gerar empregos, além de utlizar os monumentos como pontos para aulas de história interessantíssimas. Entretanto, a impressão que se tem é que o país está parado no periodo da Companhia das Índias: vive quase que da monucultura da cana colhida com mão de obra haitiana ( provavelmente semi escrava ou algo que o valha) e de um turismo que, embora crescente, criou pequenas ilhas da fantasia, como Punta Cana, fora das quais a vida não tem glamour algum, mas sim casas pequenas, abafadas, muitas ruas de terra, pouco esgoto e água encanada. É um país curioso! Pensamos muito, durante a viagem, no que foi e no que é o Brasil, sobretudo no interior nordestino. Quando nos perguntam sobre a viagem respondemos: qual país você quer conhecer? O paradisíaco país caribenho, com resorts suntuosos e muitos norteamericanos distribuindo "propinitas" ou o país da gente real, acima descrita? Fizemos as duas viagens, o triste é que a maioria dos turistas fez uma só, sem compreender que viajar, para além de ser uam atividade de relaxamento pode e deve ser um evento de reflexão e entendimento da nossa história.


Palácio do Governo: Santo Domingo

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A Constituição e a Igreja

Tem me incomodado muito recentes notícias que tenho lido com afirmações como " a bancada religiosa do Congresso não concorda com isso". Recentemente, tal alegação foi utilizada para abordar a adoção homoafetiva( assunto de que vou tratar em breve num artigo de opinião), com cardeais, padres e deputados fervorosos alegando motivos religiosos para a proibição deste tipo de adoção. Ora, nossa Constituição diz explicitamente que este país é Leigo, ou seja, as questões religiosas NÃO devem interferir nas questões legais, mas parece que os nossos ilustres congressistas não andam lendo a Carta Magna. Será que estamos destinados ao fundamentalismo?! Tenho medo até de pensar no que essa influência religiosa pode gerar no futuro.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Mia Couto e o sabor da literatura moçambicana

Gente, o vestibular me fez descobrir algo fantástico: o escritor moçambicano Mia Couto. Eu já havia lido vários escritores africanos de língua portuguesa nos tempos do mestrado ( e lá se vão 11 anos), mas confesso que não conhecia o Mia Couto. Estou termindo O outro pé da sereia , que é um romance, e já comprei um livro de contos dele, O fio das missangas, que vou levar em minha viagem, no próximo fim de semana. Alías, estou indo para República Dominicana e vou postar informações de lá sobre as coisas mais interessantes que encontrar. Aproveitem as férias para se divertir com essa saborosa leitura.

domingo, 11 de julho de 2010

Síndrome de Piquet por Giovana Fontes

É curioso como em tempos de grandes eventos esportivos, como a Copa do Mundo, nos obrigamos ( ou somos levados) a observar o comportamento patológico que o brasileiro apresenta diante das derrotas no esporte. Explico-me: enquanto “los hermanos” recebem suas seleções, igualmente derrotadas, com alegria e fogos, nós recebemos a nossa com críticas nada construtivas. Parece que acatamos, numa espécie de unanimidade burra, o que o arrogante Nelson Piquet dizia em seus tempos de Fórmula 1: “O segundo colocado é o primeiro perdedor”.


Em tempo, Piquet dizia isso até que seu filho, o brilhante lanterninha da Fórmula 1, passou a ocupar esse posto: estranhamente, papai mudou de idéia desde então. Mas, chega de elocubrações e vamos aos fatos: por que a nós, brasileiros, só a vitória interessa? Penso às vezes que desejá-la, e a ela somente, é uma forma de tentar dizimar nossas demais mazelas, ainda que seja por um único dia. A impressão que dá é que somos um povo sem autoestima, que precisa se vangloriar muito daquilo que pensa ser a sua única vocação─ ganhar no futebol─ com o intuito de se sobrepor aos demais.

Entretanto, um país que pretende estar no “primeiro mundo”, como se diz no jargão econômico, precisa ter algo a mais do que um bom PIB, uma balança comercial em superávit, um presidente respeitável (embora esse não seja bem o caso atual), uma política internacional organizada e uma seleção hexacampeã. Quem anseia ocupar este posto necessita, antes de mais nada, saber quem é e ter orgulho de si, em vez de tentar se tornar um simulacro de economia americana amalgamado com a atávica vergonha tupiniquim de quem somos.

O que colocou os países ricos no posto que ocupam, em primeiro lugar, foi o fato de que investiram maciçamente em educação pública de qualidade; em segundo, o orgulho patriótico que seus nativos possuem ─ e que não é bissexto, como nosso ─ e que os move a querer trabalhar em prol de sua nação, auxiliando, portanto, no combate à corrupção. Ademais, esses países também aprenderam, por mais senso comum que a afirmação pareça, que a derrota, quando bem digerida, ensina melhor e mais rápido do que a vitória. Thomas Edison produziu três mil inventos infecundos antes de conseguir, finalmente, criar a lâmpada elétrica, contudo quando questionado sobre o porquê não desistiu, já que havia errado tanto, respondeu singelamente: “Eu não errei, apenas descobri três mil maneiras de como não se faz uma lâmpada.”

Tomemos, portanto, o ensinamento de Edison na tentativa de abolirmos essa medíocre síndrome de Piquet que nos assola. Não perdemos a Copa do Mundo, apenas. Descobrimos, talvez, como não se conduzir uma seleção e por que não se pode concentrar todos os esforços em única tarefa: a de torcer; e, certamente, devemos também descobrir que nossos “ hermanos” têm razão: dar suporte a quem perde é uma forma digna de reconhecer que a falha faz parte do aprendizado e , sobretudo, devemos aprender que se todo o orgulho de uma nação está na ponta de onze chuteiras, então, definitivamente, esse lugar não tem como prosperar.