Pensar nem sempre é estar doente dos olhos

O maravilhoso heterônimo de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro, diz em um dos poemas que amamos que " pensar é estar doente dos olhos", porque ele quer que seus leitores se ponham a sentir o mundo. Mas, como hoje poucas pessoas fazem qualquer uma das duas coisas ( pensar e sentir), permitimo-nos dizer que sentir é fundamental, mas pensar também. Exercite essas duas capacidades: leia mais, viaje mais, converse mais com gente interessante, gaste seu tempo discutindo ideias e não pessoas.

domingo, 11 de julho de 2010

Síndrome de Piquet por Giovana Fontes

É curioso como em tempos de grandes eventos esportivos, como a Copa do Mundo, nos obrigamos ( ou somos levados) a observar o comportamento patológico que o brasileiro apresenta diante das derrotas no esporte. Explico-me: enquanto “los hermanos” recebem suas seleções, igualmente derrotadas, com alegria e fogos, nós recebemos a nossa com críticas nada construtivas. Parece que acatamos, numa espécie de unanimidade burra, o que o arrogante Nelson Piquet dizia em seus tempos de Fórmula 1: “O segundo colocado é o primeiro perdedor”.


Em tempo, Piquet dizia isso até que seu filho, o brilhante lanterninha da Fórmula 1, passou a ocupar esse posto: estranhamente, papai mudou de idéia desde então. Mas, chega de elocubrações e vamos aos fatos: por que a nós, brasileiros, só a vitória interessa? Penso às vezes que desejá-la, e a ela somente, é uma forma de tentar dizimar nossas demais mazelas, ainda que seja por um único dia. A impressão que dá é que somos um povo sem autoestima, que precisa se vangloriar muito daquilo que pensa ser a sua única vocação─ ganhar no futebol─ com o intuito de se sobrepor aos demais.

Entretanto, um país que pretende estar no “primeiro mundo”, como se diz no jargão econômico, precisa ter algo a mais do que um bom PIB, uma balança comercial em superávit, um presidente respeitável (embora esse não seja bem o caso atual), uma política internacional organizada e uma seleção hexacampeã. Quem anseia ocupar este posto necessita, antes de mais nada, saber quem é e ter orgulho de si, em vez de tentar se tornar um simulacro de economia americana amalgamado com a atávica vergonha tupiniquim de quem somos.

O que colocou os países ricos no posto que ocupam, em primeiro lugar, foi o fato de que investiram maciçamente em educação pública de qualidade; em segundo, o orgulho patriótico que seus nativos possuem ─ e que não é bissexto, como nosso ─ e que os move a querer trabalhar em prol de sua nação, auxiliando, portanto, no combate à corrupção. Ademais, esses países também aprenderam, por mais senso comum que a afirmação pareça, que a derrota, quando bem digerida, ensina melhor e mais rápido do que a vitória. Thomas Edison produziu três mil inventos infecundos antes de conseguir, finalmente, criar a lâmpada elétrica, contudo quando questionado sobre o porquê não desistiu, já que havia errado tanto, respondeu singelamente: “Eu não errei, apenas descobri três mil maneiras de como não se faz uma lâmpada.”

Tomemos, portanto, o ensinamento de Edison na tentativa de abolirmos essa medíocre síndrome de Piquet que nos assola. Não perdemos a Copa do Mundo, apenas. Descobrimos, talvez, como não se conduzir uma seleção e por que não se pode concentrar todos os esforços em única tarefa: a de torcer; e, certamente, devemos também descobrir que nossos “ hermanos” têm razão: dar suporte a quem perde é uma forma digna de reconhecer que a falha faz parte do aprendizado e , sobretudo, devemos aprender que se todo o orgulho de uma nação está na ponta de onze chuteiras, então, definitivamente, esse lugar não tem como prosperar.

3 comentários:

  1. Acho pontual e coerente a crítica que você faz.
    Por outro lado, infelizmente, ainda bradamos no deserto quando queremos que o povo brasileiro pense melhor sobre seus atos e atribua valor às propriedades do espírito, como a dignidade da qual você fala.

    No entanto, o fato de ser difícil conscientizar uma nação, não quer, necessariamente dizer que tenhamos de cruzar os nossos braços e deixar que pensem e falem o que quiserem.

    Resta aos educadores, formadores de opinião, romperem esse paradigma da maledicência vazia e trabalharem em prol da construção do pensamento crítico.

    ResponderExcluir
  2. Muito bem escrito - realmente é inegável a crítica feita. Isso é, de fato, uma defiência da sociedade brasileira.

    http://linkthewords.blogspot.com -> se puder ler, agradeço.

    ResponderExcluir
  3. Muito bom... nos faz pensar com uma visão crítica sobre tudo citado no texto.

    Estou gostando muito do blog até então professora ;D

    Vou ler os outros artigos, e aguardo boas leituras daqui pra frente.

    ResponderExcluir