Pensar nem sempre é estar doente dos olhos

O maravilhoso heterônimo de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro, diz em um dos poemas que amamos que " pensar é estar doente dos olhos", porque ele quer que seus leitores se ponham a sentir o mundo. Mas, como hoje poucas pessoas fazem qualquer uma das duas coisas ( pensar e sentir), permitimo-nos dizer que sentir é fundamental, mas pensar também. Exercite essas duas capacidades: leia mais, viaje mais, converse mais com gente interessante, gaste seu tempo discutindo ideias e não pessoas.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

As datas comemorativas, a frustração e as possibilidades do amor

É curioso como essas datas comemorativas, tais como o Dia dos Namorados, apesar de puramente comerciais, mexem com as pessoas. Desde quarta -feira tenho acompanhado pelo meu Facebook dezenas de posts frustantes, de bons amigos e amigas que, por estarem solteiros temporariamente, têm se sentido deprimidos nestes dias. Alguns, para esconder este fato, desdenham do amor e suas pieguices deliciosas, outros derramam-se em citações tristonhas acerca de amores que se foram.
Amar, meus amigos, é muito mais do que mandar flores ou comprar presentes ( muitas vezes inúteis) forçados por uma data. Sim, porque várias pessoas presenteiam, saem para jantares em que serão mal atendidas, em lugares lotados, apenas porque se sentem coagidas  a fazê-lo. Amar é estar junto no dia a dia, é fazer pequenas delicadezas ao longo de toda a vida - e não apenas no dia 12 de junho- é rir de bobagens, é compartilhar momentos de silêncio e, também, ser compreensivo nas horas em que estamos chatos. Além disso, ter ou não um parceiro é algo que pode ser passageiro e que só diz respeito a cada um de nós. Não gosto de datas comemorativas, justamente, porque elas pressionam as pessoas a se sentirem felizes, realizadas e, quem não está assim naquele momento, sente-se pior, desmerecido. A questão é que devemos tentar ser felizes porque isso faz bem à alma. Preferencialmente devemos ter uma compania porque envelhecer só é muito triste ( e que me desculpem os que têm filhos, não contem com eles, porque mesmo que estejam lá na sua velhice, não poderão oferecer o mesmo amor, carinho e companheirismo de um parceiro).
Diz a lenda de Eros e Psique que o amor é cego, justamente porque está baseado na confiança- ou deveria estar- e na capacidade de os amantes se arriscarem. Na lenda, o deus Eros(cupido) é enviado por sua mãe, Vênus, para flechar Psique e fazê-la se apaixonar por um monstro. Ocorre que Eros acaba de ferindo com a flecha quando a atira, ficando, assim, ele mesmo apaixonado por Psique. Como ele é a personificação do amor, a ele é vedado viver o amor, mas comoa paixão despertada é avassaladora, ele rapta Psique, venda-a e a leva para um castelo longínquo. Ainda vendada ele lhe diz que ela creia nele, que ele a ama muito e que virá ve-la todas as noites, período em que ambos viverão intensamente seu amor. Porém, ela jamais poderá tirar a venda, terá de confiar nele, porque se tentar fazê-lo ele terá de abandoná-la para sempre. Assim eles vivem felizes durante um bom tempo, entretanto as irmãs invejosas de Psique começam a impingir-lhe ideias: dizem que se o parceiro da irmã se esconde é porque deve ser monstruoso e que talvez até a mate um dia. Finalmente, com a dúvida plantada no coração pela inveja das irmãs, Psique resolve trair a promessa que fizera a Eros. Uma noite, quando ele chega no escuro como sempre, ela espera que ele adentre os aposentos e acende uma vela descobrindo, então, que desposara o próprio Deus do Amor e que ele era lindo! Eros, desapontado, ferido, acusa-a de traição e sai errando pelo mundo.
Pois bem, meus queridos amigos, esse mito explica por que devemos confiar em quem amamos e desconfiar daqueles que falam de nossa relação. É bem verdade que o ser humano é imperfeito e às vezes trai e fere, mas isso não é regra ( e também jamais saberemos sem correr o risco). Além do mais, se dividimos nossa vida com alguém porém confiamos mais nos outros do que me nosso parceiro(a), então nossa relação é realmente problemática. Portanto, sugiro que confiem mais, arrisquem-se mais, amem mais. Arrependam-se, se for o caso, apenas de ter vivido intensamente. "O amor tem feito coisas/que até mesmo Deus duvida/já curou desenganados/já fechou tanta ferida/o amor junta os pedaços/quando um coração se quebra/mesmo que seja de aço, mesmo que seja de pedra/fica tão cicatrizado que ninguém diz que é colado." Ivan Lins

3 comentários:

  1. Quando comecei a ler o teu texto conluí que era exatamente aquilo que pensava quanto ao dia dos namorados (e outras datas comemorativas, como você disse, com "fins lucrativos"). Assim, quando concordo com a senhora, achei melhor nem comentar. Porém, ao refletir um pouco mais sobre o assunto me sinto obrigado a dizer que o seu raciocínio é um equívoco! É certo que datas artificiais como 12/06 tem propósitos comerciais. Mas não quer dizer que não significa nada para nossos corações. Ora! Se gostamos tanto daquele início de namoro, tão gostoso, descobridor, inebriante, qual seria a melhor maneira para relembrá-lo? Acredito que a palavra "inebriante" transmite o meu pensamento.
    Vejamos: independentemente da nossa crença religiosa, do nosso anti-cocacolismo (leia-se antiamericanismo), no Natal todos nos sentimos bem! E não há um sujeito aqui para negar! Posso até tentar me isolar do mundo, mas se o jingle de natal da Coca-Cola tocar ao fundo de crianças felizes festejando o nascimento de Jesus, imediatamente me sinto leve!
    Analogamente, sinto-me contagiado pelo dia dos namorados. É óbvio que, reiterando o que a senhora disse, solteiros sentem-se aquém da felicidade desejada. Evidenciando um "problema". Mas será um problema mesmo? Afinal, a felicidade que senti ontem ao relembrar de momentos passados junto com minha namorada é pura. E, desculpem-me o egoísmo, se alguém tem que ganhar dinheiro com isso, algum solteiro tem que sofrer com isso, ou eu tenho que ser alienado por esse dia, vale a pena um momento saudosista.

    Ian

    ResponderExcluir
  2. Sempre me recuso a sair pra jantar (trânsito, esperar em pé por uma mesa no restaurante e ainda ser mal atendido) ou comprar presentes (super faturados) nessas datas inventadas. Prefiro tentar viver feliz todos os dias (claro que é muito difícil) e procurar dar presentes ou sair para um romance assim meio que de surpresa. Eu acho o Natal uma coisa bem maior que o dia dos namorados para que as duas datas possam ser comparadas. O que importa no entanto é que, independente das opiniões, sigamos nossos impulsos mais verdadeiros.

    ResponderExcluir
  3. E o meu é de dar e receber presentes sem que isso interfira nas minhas convicções a respeito de data alguma. Não faço jantar romântico e não comemoro porque é uma obrigação, mas porque a gente corre tanto que muitas vezes precisa de um dia desses pra dar uma paradinha e curtir o amor...

    ResponderExcluir