Pensar nem sempre é estar doente dos olhos

O maravilhoso heterônimo de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro, diz em um dos poemas que amamos que " pensar é estar doente dos olhos", porque ele quer que seus leitores se ponham a sentir o mundo. Mas, como hoje poucas pessoas fazem qualquer uma das duas coisas ( pensar e sentir), permitimo-nos dizer que sentir é fundamental, mas pensar também. Exercite essas duas capacidades: leia mais, viaje mais, converse mais com gente interessante, gaste seu tempo discutindo ideias e não pessoas.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Pompéia, o Vesúvio e as chuvas no Rio

Um dos locais que mais me impressionou na Itália foi Pompéia, cidade da região da Campanha ( próxima a Nápoles) e que foi devastada pelas cinzas do Vulcão Vesúvio em 24/08 do ano 79 d.C. A visão daquele sítio arqueológico que ironicamente ficou tão preservado por ter sido soterrado é muito impactante: pode-se ver claramente como a cidade era organizada e, aliás, muito mais do que muitas cidades modernas. Quando chegamos a Pompéia chovia forte e a primeira parte da visita foi cumprida mesmo embaixo de chuva, no frio. O curioso é que o guia ( historiador local e pesquisador autorizado deste sítio arquelógico) nos explicava como era a organização da cidade: água encanada, estrutura das ruas com calçadas, sistema de escoamento da água, sistema de esgoto, lojas comerciais com toldos, para que os clientes não se  molhassem à chuva ou se aborrecessem com o sol, enfim uma organização fantástica. Porém, o mais curioso foi que tão logo a chuva torrencial parou, cerca de dez minutos depois, as ruas ( que antes estavam cheias de água) estavam completamente drenadas, coisa que jamais se vê no Brasil atual: qualquer chuva em Sampa alaga tudo e no Rio... bem do Rio vou falar adiante.
Pois bem, mas com todo esse avanço ainda assim os pompeianos foram devastados pelo Vesúvio e é aí que entra minha comparação: de acordo com o historiador Plínio, o jovem, que foi testemunha ocular da tragédia, cerca de duas mil pessoas foram mortas na explosão do vulcão, muitas dela tentando fugir ( modo como foram encontradas, a partir das escavações de 1748, petrificadas); entretanto, é preciso compreender que muitos dos habitantes locais sequer fugiram porque acharam que se protegeriam em suas casas. Em Pompéia isso se justifica, afinal fazia 1500 anos que o Vesúvio não entrava em erupção e ninguém ali sabia que aquela montanha era um vulcão, essa palavra sequer existe no Latim antigo, ou seja, é impossível proteger-se daquilo que não se conhece. As fotos a seguir retratam o horror:

Mas então, por que tragédias como a da região serrana do Rio ocorrem, se TODOS sabem que as chuvas só pioram ao longo dos anos e que regiões de encostas são locais perigosos? Por FALTA DE PLANEJAMENTO E VONTADE POLÍTICA. É tão difícil assim organizar treinamentos para a população ao longo do ano, ensinando-a como proceder em situações como essa? Meu Deus! na guerra já se usava sirene para avisar que haveria bombardeio e, desse modo, a população deveria agir imediatmente da forma como fora instruída, pois então que se coloque as sirenes, que se faça o treinamento, que se escolham locais seguros para onde os moradores de áreas de risco pudessem se dirigir em situações de perigo. E, por fim, que se redesenhe urgentemente o espaço urbano, assentando os moradores pobres em locais dignos( com condições de moradia, saúde, transporte e trabalho) e que se proíba, de uma vez por todas, que os ricos excêntricos construam suas mansões em encostas igualmente irregulares, afinal tragédias não escolhem classe social: que o digam os mortos do Rio e os de Pompéia, já que muitos dos corpos petrificados nessa cidade traziam consigo imensas riquezas e foram junto a elas eternizados.

2 comentários:

  1. Fico indignada a cada dia qdo vejo essas horroridades acontecendo aqui,
    num país como o nosso que já passou por situaçoes parecidas em vários estados. Será muito difícil, planejar um lugar para se morar? ou treinar os moradores para situaçoes extremas? Penso como vc Giovana, que com um pouco de vontade e principalmente responsabilidade, vindas dos responsáveis pela segurança e planejando público pode-se sim, melhorar esse quadro absurdo que se encontram essas cidades. É uma vergonha pensar que se gastam milhões em uma eleiçao e que pouco se faz para a populaçao pobre que nao tem outra escolha, a nao ser morar nos morros, ou próximo a eles. Espero não ver mais a cada ano, no período de chuvas, pessoas sendo enterradas vivas e familias pela metade.

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  2. Incrível Gio...
    Minha mãe acaba de voltar de Machu Picchu onde eles também possuiam essa organização perfeita, com escoamentos de água, a arquitetura em si, o triângulo equilátero formado com Machu Picchu, Cusco e Puno com distância exata de 30 km de uma pra outra. O cálculo corretíssimo das estações, enfim...
    Em tudo eram mais preparados e especializados do que nós com tanta tecnologia e inteligência hoje em dia...Tanto que a cidade de Machu Picchu em si resistiu por cerca de 30 anos os ataques espanhóis mandando ainda mantimentos às outras cidades do triângulo. E não perderam, simplesmente migraram de lá quando perceberam que não resistiriam mais...
    Realmente é de se admirar e se envergonhar!

    Saudades demais Gio!
    Isa Peripolli

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