Pensar nem sempre é estar doente dos olhos
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
Férias!!!!!!!!!
"Dois e Dois são Quatro" Ferreira Gullar
Como dois e dois são quatro
Sei que a vida vale a pena
Embora o pão seja caro
E a liberdade pequena
Como teus olhos são claros
E a tua pele, morena
como é azul o oceano
E a lagoa, serena
Como um tempo de alegria
Por trás do terror me acena
E a noite carrega o dia
No seu colo de açucena
- sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
mesmo que o pão seja caro
e a liberdade pequena.
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
John Lennon se foi há 30 anos!
"Quem souber dizer a exata explicação
Me diz como pode acontecer
Um simples canalha mata um rei
Em menos de um segundo
Oh! Minha estrela amiga
Porque você não fez a bala parar
Oh! Nem o tempo amigo
Nem a força bruta
Pode um sonho apagar."
Ou seja, remete-nos ao fato de que a arte não morre mesmo que algum estúpido destrua o artista. Fica a dica: procurem a canção do Beto Guedes e conheçam melhor a obra do Lennon, vale muito a pena.
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
A amizade realmente não tem preço!
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Traduzir-me em Álvaro de Campos
Bicarbonato de Soda - Álvaro de Campos
Súbita, uma angústia...
Ah, que angústia, que náusea do estômago à alma!
Que amigos que tenho tido!
Que vazias de tudo as cidades que tenho percorrido!
Que esterco metafísico os meus propósitos todos!
Uma angústia,
Uma desconsolação da epiderme da alma,
Um deixar cair os braços ao sol-pôr do esforço...
Renego.
Renego tudo.
Renego mais do que tudo.
Renego a gládio e fim todos os Deuses e a negação deles.
Mas o que é que me falta, que o sinto faltar-me no estômago e na
circulação do sangue?
Que atordoamento vazio me esfalfa no cérebro?
Devo tomar qualquer coisa ou suicidar-me?
Não: vou existir. Arre! Vou existir.
E-xis-tir...
E--xis--tir ...
Meu Deus! Que budismo me esfria no sangue!
Renunciar de portas todas abertas,
Perante a paisagem todas as paisagens,
Sem esperança, em liberdade,
Sem nexo,
Acidente da inconseqüência da superfície das coisas,
Monótono mas dorminhoco,
E que brisas quando as portas e as janelas estão todas abertas!
Que verão agradável dos outros!
Dêem-me de beber, que não tenho sede!
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Diga não à volta da CPMF
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Violência gratuita, homofobia, intolerância...
domingo, 21 de novembro de 2010
Placas Bizarras!

Essa placa encontrada na China vem gerando muitas polêmicas acerca do significado que encerra. Alguns dizem que ela se refere a um provérbio chinês, mas eu acho que os organizadores do trânsito tentaram tirar uma onda com quem atravessa fora da faixa, alertando com uma mensagem do tipo: " até um macaco sabe que deve usar a faixa, seu tonto!". Rss. Sugiram suas interpretações...

Pasmem! Essa placa fica no shopping Bourbon em São Paulo. Como o estabelecimento faz divisa com o Parque Antárctica, estádio do Palmeiras, a administração do shopping teve a brilhante ideia de por a placa para evitar confusões em dias de jogos. Pode?!
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Pintura Mural - Muito bom!
Gente minha querida ex- aluna Michelle, que hoje está cursando Direito, me mandou este vídeo e eu resolvi compartilhá-lo. Espero que gostem tanto quanto eu.
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Poesia – Fabiano Fontes
o cavalo de minha torre
feriu sua princesa
e o rei equivocado
cantou uma nota dó
a si mesmo.
Poesia – Fabiano Fontes
No sol do meio dia
Os gatos cantam mais
Se pássaros habitam minha túnica,
foi do verão passado
que passei
Só.
Animações geniais!!!
A animação anterior é fantástica e eu a descobri porque minha aluna Katerin me mandou um link http://www.youtube.com/watch?v=aee0s7gddnw que eu adorei, sobre o Mondrian. Então postei o video acima aqui e deixo o link enviado para que vejam o outro no youtube. A propósito o quadro dessa animação é do Kandinski.
terça-feira, 9 de novembro de 2010
Iman Maleki, um pintor iraniano

domingo, 7 de novembro de 2010
ENEM 2010 e Ministério da (des) Educação!
Há momentos em que não só me sinto impotente como muda! Quando o órgão oficial responsável pela Educação se comporta dessa forma, o que esperar dos estudantes? Quanto à temeridade do gabarito trocado, dispensa muitos comentários. Os alunos se preparam, dedicam seu tempo e depois são surpreendidos com erros grotescos. Como diria Boris Casoy: "É uma vergonha!"
sábado, 6 de novembro de 2010
Xenofobia é deplorável!!!!
you can shine you're shoes você pode polir seus sapatos
and wear a suit e usar um terno
you can comb your hair você pode pentear o cabelo
and look quite cute e ficar bem bonitinho
you can hide your face você pode esconder sua cara
behind a smile atrás de um sorriso
one thing you can't hide uma coisa que você não pode esconder
is when you're crippled inside é quando você é aleijado internamente
you wear a mask você usa uma máscara
and paint your face e pinta o rosto
you can call yourself pode se chamar
the human race de raça humana
you can wear a collar pode usar um colarinho
and a tie e uma gravata
but the one thing you mas a úncia coisa
can't hide is when you're que não pode esconder
crippled inside é quando é aleijado internamente
well now you know that your bom agora você sabe que
cat has nine lives babe seu gato tem nove vidas
nine loves to itself nove amores
but you only got one mas você só tem um
and a dog life ain't no fun e uma vida de cachorro não tem graça
mamma take a look outside. mamãe olhe ao seu redor
you can go to church você pode ir à igreja
and sing a hymn e cantar um hino
judge me by the color julgar-me pela cor
of my skin da minha pele
you can live a lie until you die pode viver uma mentira até morrer
one thing you can't hide uma coisa que não pode esconder
is when you're crippled inside. é quando é aleijado internamente
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
poesia sílaba II
Equili
Brada
na corda bamba
o
fio
da
vi
da
se
te
ce
no
es
cu
ro
Ima
Culada
dois corpos no espaço
atrai ação
o
filho
dá
á
vi
da
a
luz
no
es
cu
ro
Equa
Cionada
O binômio de Newton
e o poema que é sujo.
terça-feira, 2 de novembro de 2010
Manifesto da Poesia Sílaba – Fabiano Fontes
poesia sílaba não é concreta mesmo sendo.Gullar pulverizou a poesia, restou apenas a sílaba.a sílaba é o fotoelétron do organismo palavra de Chamie.
poesia sílaba = criogenia poética.
o manifesto não é autêntico, é SÍ – Lábia.o poema Si basta diminuto. desconstrução do acorde-nota pura sem artifício- o limite poético é a ausência do traste.A música é som e silêncio, a poesia é sílaba Joãobosqueada.
Multifacetada pangeia urbem.o semáforo é sí-
la-
ba - o pedestre pede passagem cantarolando a música já existente: Abbey Road.Beatles.Beat.Beat it.Na essência a pop art é sílaba.Bas Qui At é sílaba parede do metrô poesia.O edifício é sílaba andar.
Hai cai é fotografia Sí -
Lábi
ca.
poesia sílaba acaso do menos.encontro de dois Si-Lá:escala de notas poéticas.
sílaba ; bala missíl perdida.tiro cultural.(poesia sílaba não é vanguarda é retaguarda).trilha caminhos explorados – minas palavras – campo minado – palavra explosão.
domingo, 31 de outubro de 2010
Agora é oficial!
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Eleições no Halloween

Hoje tive um insight! Acho que entendi porque o segundo turno foi marcado para o dia 31/10. Presumo que o PT imaginou: se houver segundo turno, pelo menos o Dia das Bruxas pode favorecer nossa candidata, afinal as irmãzinhas dela poderão contribuir como cabos eleitorais na boca de urna, assombrando os eleitores do Serra. Uhauhauha!
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Um imbecil incomoda muita gente, dois imbecis...
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Tropa de Elite 2 - Uma obra imperdível
sábado, 9 de outubro de 2010
Um bom texto de uma aluna
Uma aluna minha, figura muito inteligente e também bastante resguardada, me mostrou o texto a seguir. Gostei muito da construção e pedi a ela que me permitisse publicá-lo aqui. Eis o texto, resguardado o anonimato da autora, conforme ela me pediu. Aproveitem!
Passei um fio imaginário, costurando as duas metades do corpo onde podia sentir as costelas. Já tinha esfarelado os ossos da mão direita contra a parede novamente, num relâmpago lúcido e ardido. E a dor vinha. Tirei a camiseta que vestia para, num abraço, rasgar o corpo todo com as unhas. Da coluna até os seios, eu ia desenhando estradas avermelhadas, rabiscando o braço. Só me deixei em paz quando as unhas já não aguentavam se dobrar a carne macia e mal-tratada. Mas queria a dor. Queria a dor para me sentir menos miserável, menos ridícula. Com uma caneta preta escrevi "dor" nas costelas esquerdas. A tinta falhava, entao risquei só com a pressao da ponta. As letras saltaram em relevo, concretas enfim em alguma parte de mim. Aí achei um lápis para continuar escrevendo o que sentia ali, intervalos de razão bem conduzidos. Recoloquei a camiseta preta e fui buscar algo para passar nas feridas enquanto forjava uma cara de normal para caminhar pela sala sem ser notada. Álcool. Despejei, apagando a mal-feita palavra e sentindo o líquido queimando as paralelas dos braços. Quando percebi que doía mais isso do que espalhar pelo corpo, encharquei as mãos e deixei que o ar gelado após a evaporação me desse um prazer ilhado nesses momentos. E me descobri novamente sem blusa e, sentada no chão do quarto, puxei o cobertor para me cobrir do frio que chegava. Nada no quarto justificava aquela garrafa de álcool ali. Nada no dia justificava essa tristeza. Tudo havia corrido bem e, mesmo assim, terminava rompendo as cordas da sanidade. Ainda não aprendi a desenhar diários e confissões sem ter destinatário, um grito de socorro que seja. Dei voltas e mais voltas na agenda do celular para ligar para alguém, dizer que as coisas não estavam legais, mas os nomes que eu via não atenderiam. Não entenderiam. As pessoas vêm e vão, vêm em vão. Mas meu otimismo de armário, infantil, não me deixa em paz durante o dia. E é nas horas claras em que eu me confesso, em sons e notas, em verso e prosa.
terça-feira, 5 de outubro de 2010
Um ótimo poema, infelizmente pouco lido!
FUMO - Florbela Espanca
Longe de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há luar nem rosas,
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!
Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces, plenas de carinhos!
Os dias são Outonos: choram... choram...
Há crisântemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...
Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!...
domingo, 3 de outubro de 2010
Eleições 2010 – A farsa das pesquisas
Parafraseando Shakespeare, há algo de podre nos Institutos de Pesquisa brasileiros. Mais uma vez o resultado das urnas comprova que as pesquisas eleitorais estavam erradas. Não estaria então mais do que em tempo de se revisar como é que IBOPE, DATAFOLHA e os demais ainda colhendo seus resultados? Não é possível que eleição após eleição esses números sejam falhos e tudo continue como está. É preciso que, urgentemente, os métodos destas pesquisas sejam não só alterados, para que os resultados divulgados sejam mais coerentes, como é necessário que o eleitor saiba EXATAMENTE como são realizados este levantamentos, afinal os tais pesquisadores são como cabeça de bacalhau, cabelo de freira e Roberto Carlos de bermuda, existe, mas nunca se viu! Mais transparência, é só que queremos.
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
De quando a boa educação se torna uma falha
Os recentes episódios envolvendo o abusadinho Neymar, jogador do Santos Futebol Clube, me levam a crer que os valores educacionais estão realmente sendo substituídos por interesses comerciais, por mais que isto seja óbvio. Como pode um garoto mimado, sem educação, grosseiro, que se acha melhor do que os demais porque enriqueceu, conseguir derrubar um técnico que, corretamente, o puniu para educá-lo? Desde quando impor limites é crime?
Casos como este, ao contrário do que pensam muitos, não dizem respeito apenas ao universo do futebol: eles ilustram a incapacidade de muitos pais de darem limites e valores morais a seus filhos. A demissão de Dorival Dias, por ter punido Neymar, da ao protegidinho projeto de craque a sensação de que a vida correrá sempre de acordo com aquilo que ele quiser e mais: que ele tinha razão, como é rico, pode tudo. E eu ainda vejo pessoas defendo o garoto: ele é adolescente, são coisas da idade. Sim e daí? Errou, tem de ser punido, precisa saber que o mundo tem regras que não são as dele, que respeito é bom e todos gostam. Além disso, precisa saber que existe algo chamado hierarquia , respeito àqueles que são nossos superiores em cargos; além de entender uma lição que deveria ter trazido de casa: se não respeitou o técnico por ser seu superior hieráquico que pelo menos o respeitasse por ser mais velho, assim manda a boa educação. Eu realmente temo viver num mundo povoado por esses reizinhos mandões intocáveis, “umbigocêntricos”, sem poder de frustração. Quando magoados, eles liberam uma agressividade difícil de conter.
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
Um conto novo
AT LAST – GIOVANA MARQUES FONTES
Já passava das seis da tarde quando ela entrou no taxi. Nova Iorque naquela época do ano costumava ser um pouco abafada ou talvez, nem isso, sufocante mesmo. Exageros de turistas deslumbrados transitando na quinta avenida, loucos por fotos do Rockefeller Center, da Catedral St. Patrick. Gente barulhenta! Nova Iorque definitivamente não era mais a mesma. Quando Beatriz chegara ali, no início dos anos 90, a cidade tinha mais glamour, embora fosse também menos segura. Não que a Big Aplle perdera todo o seu charme, mas aquela avalanche de novos ricos a incomodava. Uma gente sem modos, que gargalhava alto, chamando a atenção das pessoas. Umas mulherzinhas magras, de voz estridente, desfilando suas recém aquisições de Louis Vuitton e Prada, alardeando sua riqueza insignificante ( sim, porque perto dos verdadeiros ricos de Manhattan, não passavam de pobres metidinhas a besta, as quais mal falavam português, que dirá inglês), tendo espasmos em frente à vitrine da Tiffanny & CO, sonhando com “diamond rings”, crendo que Marilyn Monroe tinha razão: “ Diamonds are a girl’s best friend”. Gente tonta!
Quando o taxi dirigido pelo mesmo homem indiano habitual, muito atencioso, a deixou na esquina da quinta com a 42 ela se sentiu aliviada. Já via a Grand Central Station, certamente um metrô bem menos barulhento e cheio de turistas a levaria para casa. Mas onde afinal estava o aviso da linha que ela queria pegar? Estranho não haver informação sobre ele, fazia dias que ela não encontrava o Metrô e acabava rumando a pé para Lower Manhattan, a caminho da Liberty St com a Church St. Quando deixou o Brasil para estudar música na Julliard School, Beatriz pensava em voltar, ela gosta de ser brasileira, tem orgulho do seu país, com todos os defeitos que ele possui, mas com o tempo ela foi se sentindo tão local que já não tinha mais como retroceder. De mais a mais a família dela vivia no interior de São Paulo, num local onde não poderia viver de sua arte – violoncelista em Pirapozinho? Nem como piada tinha graça. Bem, isso a obrigaria a mudar para a capital do estado ou pro Rio. O que ocorre é que do Rio, como toda boa paulista, ela não gostava, não iria para lá nem morta! E Sampa, o que dizer de Sampa, é um superlugar, porém NY também era e ela já estava estabelecida lá, tocava com grandes músicos, enfim... o sacrifício não valeria a pena, por isso foi ficando.
Agora, 11 anos depois, certamente não haveria retrocesso, ela conseguira o Green Card e já aprendera a amar Manhattan, sentia-se quase uma personagem do Sex and the City, não fosse pela ausência do sex, afinal namorados e afins tinham passado longe dela pelo menos nos últimos seis meses ou mais, já perdera a conta. Ou talvez, ela até fosse mesmo como a Charlotte, a mais romântica das quatro amigas. Acho que precisava de um pouco de Samantha, às vezes, mas suas incucações com o próprio corpo a impediam de ser tão impetuosa e segura de si como a personagem ninfomaníaca.
Tudo naquele dia corria como de costume: o mesmo taxista, o mesmo trem que não vinha, porém algo a incomodava sobremaneira, embora Bia não tivesse percebido que o taxista indiano observava de longe, há dias, o ritual cumprido por ela. Ela que sempre fora tão solícita, que sempre se interessara pelas pessoas e seus costumes, ela percebeu, pela primeira vez, que havia meses era levada à estação pelo mesmo taxista, só que nada sabia dele, a não ser que era indiano. Por que estaria ele em NYC? Pobreza em sua terra natal? Desilusão amorosa, seria ele um assassino procurado? Às vezes a cabeça de Bia pensava como os seriados de policiais que ela adorava: CSI, Criminal Minds, Law and Order... quando criança ela era aficcionada pelos livros de mistério da série vaga-lume, deliciou-se várias vezes com a releitura de O mistério do Cinco Estrelas, O rapto do garoto de ouro e Spharion, dentre outros. Já adolescente, devorou os livros de Agatha Christie, os romances e contos de Rubem Fonseca, também gostava de Maupassant, Conan Doyle e até Stephen King, lido no original nos tempos de curso de inglês. Claro que suas leituras iam muito além disso, Beatriz era uma mulher notável, com uma vasta cultura geral e um especial interesse pela música e as demais artes. É que esse passado todo ligado aos livros de mistério, somado aos seriados atuais, a tornavam investigativa e, por vezes, meio paranóica (teria ficado ainda mais se percebesse que o homem a observa constantemente). Fora isso precisamente que a fizera pensar no taxista: ele sabia todos os seus hábitos, ouvira diversas vezes suas conversas ao celular com os amigos, horários de encontros marcados. Pela primeira vez ela pensara que poderia ser ele o homem que vinha insistentemente tentando abordá-la sem se mostrar.
No primeiro dia em que recebeu as tulipas brancas ficou feliz, pensou que podiam ser de Jurgen, um alemão belíssimo, muito discreto, que dividira o palco com ela em diversas ocasiões. Havia tempo que ela o paquerava, mas não sabia como marcar um encontro, ele era tão reservado... só quando aquelas flores vieram seu lado adolescente sonhou que o príncipe a percebera, porém não havia cartão. Ela então esperou um sinal, mas nada. Eis que três dias depois, no mesmo horário, mais um buquê de tulipas brancas chegava, desta vez acompanhado por uma caixa. Bia teve medo abri-la. Depois do 11 de setembro todos ficaram um pouco paranóicos. E se fosse uma bomba? Sabe-se lá que tipo de malucos estão por aí. A curiosidade feminina, contudo, a consumia e ela arriscou: bem, dentro da caixa havia apenas um cd de Etta James, cujo encarte trazia grifada a música At Last. É claro que ela gostava tanto de Etta quando da canção e por isso a conhecia bem, mesmo assim resolveu ouvi-la novamente, atentando com cuidado para a letra: “ Enfim meu amor apareceu/ meus dias de solidão acabaram/e a vida é como uma canção/ enfim o céu acima está azul...” Era óbvio que o remetente das flores a amava, mas o que queria ele com tanto mistério? Por que não se apresentava ( ou se revelava)?
Como adorava simbologia, resolveu ver se encontrava um significado para as tulipas brancas. Encontrou um site que afirmava serem estas flores símbolo da declaração de amor e, como o branco é símbolo de pureza e paz, ela pressupôs estar diante de um admirador recatado e um pouco estranho, entretanto inofensivo. Contudo, ao fim de um mês de ritual, ela começou a se preocupar. Falou sobre isso com as amigas, que a aconselharam a ir à polícia. Para dizer o quê? O que eles poderiam fazer? Estariam interessados em um caso como esse tendo tantos crimes graves para resolver? Decidiu bancar Sherlock e descobrir por si mesma. Mas, até aquele fatídico dia, não havia suspeitado do taxista indiano. No dia seguinte, levou ao ensaio uma das tulipas e resolveu exibi-la consigo ao pegar o táxi: queria investigar a reação do homem ao ver a flor. Na verdade, como o trabalho acabara mais cedo, Bia ficou 25 minutos esperando até que aquele taxista passasse pela quinta avenida. Ninguém espera tanto por um veículo em NY, a menos que tenha um motivo: a cidade tem uma frota imensa de táxis. Mas eis que quando passavam cinco minutos das seis da tarde ele apareceu. “Good afterrrrnoon”, disse ele com seu sotaque inconfundível. Só que dessa vez ela perguntara algo a ele, em vez de simplesmente responder. Num misto de felicidade e pasmo ele respondeu: “vim para cá porque perdi minha família num acidente de avião. O choque me fez querer mudar de vida, abandonei minhas empresas em Kalyan, região metropolitana de Mumbai, e sai sem rumo pelo mundo. Após dois anos viajando cheguei a NYC: esse era o sonho de Shobba, porém eu não tinha coragem de concretizá-lo sozinho, por fim entendi que devia isso a ela.” “Ah, sim, ainda recebo dinheiro todos os meses e dividendos no final do ano, o taxi é apenas uma distração, achei que seria uma forma de conhecer pessoas longe das convenções sociais com que fui criado. Trabalho poucas horas por dia, só que gosto de estar aqui quando a senhorita passa”. Ao ouvir isso Bia estremeceu, seu sexto sentido a fez pensar que não sairia viva do táxi, contudo sua razão lhe disse que ela era tola e raciocinava como personagem de filme B .
Quando chegaram à rua 42, a pergunta de Anando ( esse era o nome dele) surpreendeu Beatriz: por que a senhorita nunca me pede que a deixe em seu destino final? Levaríamos menos tempo daqui até a Liberty com a Church St de táxi do que a senhorita leva a pé. Se sua preocupação é o preço eu cobro o mesmo, assim a senhorita não tem desgastes nem custos adicionais. Desculpe-me se a assustei, mas é que ouço tantas ligações suas que já intui para qual direção vai, porém não quis ser invasivo, só que tenho pena de vê-la caminhar tanto. Beatriz pagou a tarifa usual e desceu do taxi muda, atônita. Ao sair da Grand Central a pé, em direção ao 10006 Lower Manhattan, cuidou para ver se não era seguida. E era, mas o indiano se disfarçava bem na multidão, ela não pode percebê-lo. Naquela noite, sonhou que era seqüestrada e que sofria muito nas mãos de Anando antes que ele a matasse. Na manhã seguinte, ela foi diretamente à delegacia e reportou à autoridade de plantão tudo o que sucedera no último mês. O delegado ficou muito bravo com Bia, disse que ela deveria tê-los procurado antes, porque o perfil descrito por ela combinava com o de serial killers. Decidiu, então, sair da cidade sem deixar muitos vestígios. Bia ligou para o maestro com quem ensaiava para um novo concerto e disse que estava doente e se ausentaria por uns dias. Pegou apenas uma mala pequena, sua imensa nécessaire, o violoncelo e foi para o aeroporto. Já que teria de “fugir” iria para a praia, não havia nada de que ela gostasse mais do que o mar.
Chegando ao Maine, ligou para o Agente Hills, encarregado do caso dela. Ele disse que localizara Anando e que o estava seguindo, porém era impossível prendê-lo apenas por suspeita, a história dele sobre a família e as empresas era real. Além disso, Anando jamais tivera passagem pela polícia: que ela ficasse calma ─ lhe pediu Hills ─ longe de NYC Bia estaria a salvo. Ela então vagou despreocupadamente pela orla, tomou um pouco de sol, coisa que não fazia há mais de um ano e, finalmente, sorveu vagarosamente uma Heineken, gostava de cerveja, porém só no Brasil se costumava conseguir uma realmente gelada. Aquela estava como de costume, fresca, da maneira como preferem os americanos. Cansada, voltou ao hotel para um descanso, mas sequer teve coragem de entrar no quarto: a visão das tulipas na porta do 288, seu aposento, lhe provocou arrepios e uma crise de choro. Sem saber a quem recorrer, saiu desorientada: os faróis dos carros naquele lusco-fusco a entorpeciam ainda mais, sua cabeça pesava, ouvia as gargalhadas estridentes das turistas da quinta avenida ecoarem. Quando deu por si estava rodeada de pedestres, não sabia dizer quem era, de onde viera. Então os paramédicos do 911 chegaram, a examinaram e a encaminharam para a delegacia. Lá, pelo número do social security, conseguiram identificar a procedência dela. Como Beatriz estivesse sozinha em Harbor Beach, os policiais a acompanharam ao hotel, pegaram as coisas dela, fizeram o check out e a mandaram novamente para NYC.
Ao chegar à Big Apple, Bia reconheceu o Agente Hills: ele a esperava no aeroporto para conduzi-la para casa. Quando lá chegaram, a senhoria, aos prantos, a abraçou soluçando muito. O Agente Hills ajudou a dona da casa em que Bia alugava um quarto a fazer as malas dela e eles a levaram ao St. James Hospital. Desde a morte do noivo, no 11 de setembro, essa era sua nona internação psiquiátrica. Pensando em Jurgen estirado no chão, em frente o World Trade Center, na esquina da Liberty com a Church St. ela rememorava seu desespero. E, carregando as tulipas brancas bem junto ao corpo, ela repetia as últimas coisas que Jurgen, seu noivo, lhe dissera ao celular, pouco antes que os paramédicos o declarassem morto: “ eu estou bem querida. O susto foi grande, há muita agitação aqui e a poeira dificulta a respiração, mas tenho apenas ferimentos leves, só a dor de cabeça me incomoda. Serei encaminhado para o hospital e em uma semana estarei pronto para nos casarmos. Ache as mais bonitas tulipas brancas, como as que sempre lhe dou, e mantenha-as com você, onde elas estiverem eu estarei. I Love you, at last my Love has come along, my lonely days are over and life is like a song...
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
Algarismar - Fabiano Fontes
Algo ali a rimar
Algo ri além mar
All Gagarin a na gar
ve
Algo vi e pus-me a chorar
Algo em mim quer matar
Algo.
Ode Urbem - Fabiano Fontes
que me molhe a garganta.
Não quero o certo,
nem o errado,
nem tão pouco a medida
exata do ser.
Quero sim:
a fumaça das narinas
dos carros apressados
vomitando restos de cinzas
pelas janelas.
E a estupidez racional
dos pontos de ônibus.
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
Essa é boa! Divirtam-se
Quando Deus fez o mundo, para que os homens prosperassem decidiu dar-lhes apenas duas virtudes. Assim:
- Aos Suíços os fez estudiosos e respeitadores da lei.
- Aos Ingleses, organizados e pontuais..
- Aos argentinos, chatos e arrogantes.
- Aos Japoneses, trabalhadores e disciplinados.
- Aos Italianos, alegres e românticos.
- Aos Franceses, cultos e finos.
- Aos Brasileiros, inteligentes, honestos e petistas.
O anjo anotou, mas logo em seguida, cheio de humildade e de medo, indagou:
- Senhor, a todos os povos do mundo foram dadas duas virtudes, porém, aos brasileiros foram dadas três! Isto não os fará soberbos em relação aos demais povos da terra?
- Muito bem observado, bom anjo! exclamou o Senhor.
- Isto é verdade!
- Façamos então uma correção! De agora em diante, os brasileiros, povo do meu coração, manterão estas três virtudes, mas nenhum deles poderá utilizar mais de duas simultaneamente, como os demais povos!
- Assim, o que for petista e honesto, não pode ser inteligente.
- O que for petista e inteligente , não pode ser honesto.
- E o que for inteligente e honesto, não pode ser petista.!!!!!!
Palavras do Senhor !!!.
Nota de esclarecimento
Fico triste quando usam a Internet para espalhar informações que não procedem! Enviaram-me hoje um e-mail dizendo que o sangue do nosso presidente é do tipo A-peritivo, e o dos que votaram nele dele é do tipo O-tário.
É muita sacanagem e falta de ética passar esse tipo de coisa.... Temos que divulgar informações corretas! O sangue do presidente é do tipo B-bum e o dos eleitores AB-estalhados.
Não esqueça:
A mentira tem perna curta, língua presa, barba branca e um dedo a menos...
P.S. - NÃO VOTEI NO "CARA" E NÃO VOU VOTAR NA "COROA".
terça-feira, 14 de setembro de 2010
PROFESSOR ESTÁ SEMPRE ERRADO Jô Soares
Não sei se o etxtoa seguir é realmente do Jô, recebi por e-mail, mas de qualquer forma achei curioso, por isso resolvi postar. Boa leitura!
O material escolar mais barato que existe na praça é o professor!
É jovem, não tem experiência.
É velho, está superado.
Não tem automóvel, é um pobre coitado.
Tem automóvel, chora de "barriga cheia'.
Fala em voz alta, vive gritando.
Fala em tom normal, ninguém escuta.
Não falta ao colégio, é um 'caxias'.
Precisa faltar, é um 'turista'.
Conversa com os outros professores, está 'malhando' os alunos.
Não conversa, é um desligado.
Dá muita matéria, não tem dó do aluno.
Dá pouca matéria, não prepara os alunos.
Brinca com a turma, é metido a engraçado.
Não brinca com a turma, é um chato.
Chama a atenção, é um grosso.
Não chama a atenção, não sabe se impor.
A prova é longa, não dá tempo.
A prova é curta, tira as chances do aluno.
Escreve muito, não explica.
Explica muito, o caderno não tem nada.
Fala corretamente, ninguém entende.
Fala a 'língua' do aluno, não tem vocabulário.
Exige, é rude.
Elogia, é debochado.
O aluno é reprovado, é perseguição.
O aluno é aprovado, deu 'mole'.
É, o professor está sempre errado, mas, se conseguiu ler até aqui,
agradeça a ele!
Esta é para ser repassada mesmo.
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
Eleições chegando
Vi, na semana passada, a ótima Lucia Hypolito ( jornalista e comentarista da CBN) explicando ao eleitores um dúvida que, creio, seja de muitos, por isso resolvi repassar os ensinamentos dela aqui: Corre, sempre que há eleições, um boato de que se mais de 50% dos eleitores votarem branco ou nulo a eleição é anulada. Porém, só o TSE tem o poder de anular uma eleição caso algo nela tenha saído em desconformidade com a lei, por exemplo: compra de votos, transporte ilegal de eleitores, alimentação de eleitores paga pelo candidato, dentre outros. Quanto aos votos brancos e nulos, eles não são válidos e, por isso, não entram na contagem, ou seja, o cadidato eleito terá de ter percentual adequado apenas dos votos válidos. Portanto, meus amigos, VOTEM CORRETAMENTE, ESCOLHAM SEUS CANDIDATOS COM BASE EM PESQUISAS FEITAS POR VOCÊS MESMOS. NÃO CONFIEM CEGAMENTE NOS INSTITUTOS DE PESQUISA E, MUITO MENOS, VOTEM EM ALGUÉM PORQUE ACHAM QUE A CRIATURA VAI GANHAR. A FIM DE NÃO PERDER O VOTO. Lembrem-se de que o Brasil até pagou o FMI, mas nossa dívida interna está pelas alturas e os cargos comissionados, no governo Lula, aumentaram para 64000, contra 11000 no período de FHC, o que já era uma exorbitância.
terça-feira, 7 de setembro de 2010
Vestígios do Nada- Giovana Fontes
Vestígios do nada
São definitivamente tortuosos os caminhos pelos quais a vida nos conduz. A pequena cidade de Sezelândia ainda não havia percebido algo de diferente naquela manhã. Mas eu, como sempre, esperava que uma coisa qualquer fantástica acontecesse e nos tirasse daquele marasmo em que vivíamos, eterno finados em dia de chuva!
Quando os moradores se reuniram diante da praça, espantados, falando muito, tergiversando sobre as possibilidades do ocorrido, ninguém de fato tinha idéia do que havia realmente se passado ali. Era treze de janeiro, um calor africano, sem vento, que desanimava até os refrigeradores de ar, havia se instaurado na cidade. Fato típico do período, porém dessa vez viera ainda mais intenso, como se uma caldeira imensa aquecesse o local sem que nada pudesse refrescá-lo.
Em meio à balburdia, seu Nicolino gritou que o neto dele havia desaparecido sem deixar rastros. Na mesma melodia monocórdica, em tom de ladainha, vieram os demais lamentos: D. Juvelina e D. Natalina também haviam perdido os netos; D. Suzana gritava pela filha; Até o bebê de 8 meses havia estranhamente desaparecido do ventre de Ernestina sem deixar rastros, como diabos isso era possível? Parto sem corte, sem dor, sem ser percebido pela mãe? Só podia mesmo ser coisa do demo, do tinhoso, do três dedos, dizia D. Juvelina se benzendo com galhos de arruda e guiné e fazendo o sinal da cruz.
Enquanto isso, Ernestina estava sentada na sarjeta, catatônica, repetindo sempre a mesma história: saíra de casa às 7 da noite com o marido para ir ao circo. A lona havia sido montada no dia anterior, aquela era a estréia, nenhuma alma da cidade havia faltado, estavam todos lá: inclusive os futuros desaparecidos. Quando ela e Geraldo voltaram para casa, por volta das 11 da noite tudo estava como de costume, mas eis que na manhã seguinte, ela, que dormira grávida, acordara como o ventre seco, como se o Augusto ( seu agora ex-futuro filho) nunca tivesse existido!
Num lampejo, Sezefredo – o Sherlock Holmes local,como era conhecido – teve a brilhante idéia: vamos refazer os passos de todos, nesse processo de reconstituição do acontecido não era possível que não encontrassem uma falha, um fato despercebido até então, um detalhe qualquer que os conduzisse a uma explicação!
O curioso era que nenhum dos envolvidos se via capaz de reproduzir seus próprios passos, parecia que houvera uma amnésia coletiva: lembravam-se de ter ido ao circo, porém esqueceram-se de todo o resto. Por mais que se esforçassem, nada vinha à memória, nem mesmo Sezefredo, cuja memória era de elefante, conseguia se recordar do que fizera. Salomão, o único que se mantinha calmo, pacientemente começou a proferir sua teoria, ouvida atentamente por todos, já que sua sapiência era notória. “Eu”, disse ele, “creio que estamos diante da mais pura manifestação sobrenatural. Muitos aqui devem se recordar do que aconteceu na cidade vizinha, Torvelinho, quando estranhos fenômenos levaram toda a cidade a mudar de atitude em relação à vida. Talvez seja isso que precisemos, quem sabe alguém não nos está dando uma oportunidade de repensarmos quem somos e como vivemos.”
As sábias palavras de Salomão ecoaram fundo nos moradores de Sezelândia, ninguém sabia o que dizer. Fazia sentido, mas por que eles? Era o que todos silenciosamente se perguntavam! Apenas Ernestina, ainda em transe, não ouvira nada do que foi dito. Ela só fazia repetir o nome de Augusto e depois fazia murmúrios incompreensíveis. Só muito mais tarde Salomão compreendeu que ela entoava versos de Castro Alves, que ele lhe ensinara, repetindo sempre a mesma triste parte: “todas têm os seus amores/eu não tenho mãe nem filhos/nem irmão, nem lar, nem flores”.
Por aquelas paragens era comum se ouvirem histórias de acontecidos misteriosos. Eu me lembro que quando era pequena minha avó costumava contar a história de Rosalva, uma menina que, de um dia para o outro, desapareceu sem deixar rastros. Ela me punha medo, dizia que moça direita não dava trela a qualquer rapaz, que aquela menina, a desaparecida, tinha sido levada pelo demo, porque ele ( o capeta) em noites de lua cheia aparecia todo vestido de branco, alinhado em seu terno, com um bonito chapéu, cortejando as moças namoradeiras. Depois, ele as tomava nos braços e saía rodopiando pela praça, valsando, gargalhando. Quando a moça estava completamente seduzida, ele retirava a alma dela e desaparecia com o corpo da pobre coitada, assim havia sido com Rosalva, repetia a vó. Mas depois que cresci, eu descobri que, na verdade, muitas dessas “sumidas”, inclusive a Rosalva, tinham era fugido com algum vendedor, acreditando que levariam uma vida melhor longe de Sezelândia, porém no fundo, na maioria das vezes, acabavam em algum prostíbulo de Belo Horizonte, abandonadas pelos “ noivos” que as deixavam lá com a promessa de vi-las buscar depois, o que jamais acontecia. No fundo, era esse o temor de minha avó. Só que comigo isso não se daria, estava para nascer o homem que me poria numa situação dessa, eu quero me casar sim, mas com alguém que me respeite. Vou sair desse fim de mundo, mas meu destino é o estudo. Quero ser normalista. Vou dedicar minha vida a desemburrecer as pessoas.
Bem enquanto eu me perdia nesses devaneios, a cidade se organizava para as buscas. Todos sabiam que o ocorrido de agora nada tinha a ver com essas memórias que eu evoquei e que muitos ali conheciam. O caso era completamente outro, até porque todos os desaparecidos eram crianças - e ainda tinha o Augusto...esse era o maior mistério, sumido do ventre da mãe...nem Salomão tinha resposta para isso, ainda!
De repente, em meio à multidão, ouviu-se Ernestina gritando: foi ele, eu sabia que aquele malabarista tinha algo de estranho, aqueles olhos fundos, as mãos alongadas demais, ele tocou minha barriga antes do espetáculo, disse que sempre sonhara em ser pai, mas que Deus não lhe dera essa graça. “Desgraçado”, bradava ela, “aquele maldito levou meu filho”. Porém, apesar de compadecidos com a dor de Ernestina, nenhum dos moradores dava crédito às palavras dela: como diabos o homem teria tirado Augusto de seu ventre sem deixar rastros...Muitos já começavam a pensar que a gravidez dela fosse falsa, psicológica, coisa de gente louca, porque bebê não some assim. Só que o Dr. Fausto, homem muito respeitado, afirmou que acompanhara a gravidez e que a criança estava sim no ventre dela, ele próprio ouvira o coração do bebê bater. A única sandice de tudo isso era Ernestina insistir em chamar a criança de Augusto, como se ela pudesse mesmo saber o sexo, coisa que era impossível naquele tempo, por aquelas bandas. Mas todos já estavam tão acostumados com isso que nem mesmo se davam conta dessa barbaridade.
Enquanto todos se desesperavam, afinal nada haviam lembrado, Salomão sugeriu uma nova tentativa: deveriam todos voltar ao circo naquela noite, iriam atentos não ao espetáculo, mas sim ao que acontecia na platéia durante a apresentação. Vieram os cães amestrados, o macaco com os palhaços e seu carro de bombeiro, o homem-cobra, os trapezistas... e nada, tudo parecia normal. Enfim, surgiu o malabarista: olhos fundos, pálpebras pintadas de negro e, em vez de trazer os tradicionais malabares, nesta noite ele trazia três ursos de pelúcia falantes. Todos ficaram espantados, jamais tinham visto coisa semelhante, apenas Sezefredo afirmou que vira numa fita de cinema algo parecido, segundo ele era coisa de americano, só podia ser. O malabarista então começou suas evoluções com os ursos, que gritavam e riam ( como se fossem animados) durante a apresentação. Ao final, ele passou os bichinhos de mão em mão e qual não foi o espanto quando as pessoas perceberam que eram bonecos comuns, como quaisquer outros, não possuiam orifícios muito menos algum equipamento que lhes possibilitasse falar. Assim absortos com os brinquedos nenhum dos moradores de Sezelândia percebeu que o tempo passara e que a noite se tornara dia. Quando saíram daquela espécie de transe, nada podiam dizer sobre o ocorrido. Quanto ao circo, desaparecera como que por encanto e nunca mais se soube se ele realmente estivera ali naquelas paragens ou não: a mente de todos estava esvaziada dos acontecimentos referentes àquele período, apenas uma estranha melodia ecoava na cabeça dos moradores quando os esforços se voltavam para as lembranças.
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
Duas bolas, por favor! Danuza Leão
Duas bolas, por favor!
Não há nada que me deixe mais frustrada do que pedir sorvete de sobremesa, contar os minutos até ele chegar e aí ver o garçom colocar na minha frente uma bolinha minúscula do meu sorvete preferido.
Uma só? Quanto mais sofisticado o restaurante, menor a porção da sobremesa.
Aí a vontade que dá é de passar numa loja de conveniência, comprar um litro de sorvete bem cremoso e saborear em casa com direito a repetir quantas vezes a gente quiser, sem pensar em calorias, boas maneiras ou moderação.
O sorvete é só um exemplo do que tem sido nosso cotidiano.
A vida anda cheia de meias porções, de prazeres meia-boca, de aventuras pela metade. A gente sai pra jantar, mas come pouco.
Vai à festa de casamento, mas resiste aos bombons.
Conquista a chamada liberdade sexual, mas tem que fingir que é difícil (a imensa maioria das mulheres continua com pavor de ser rotulada de 'fácil').
Adora tomar um banho demorado, mas se contém pra não desperdiçar os recursos do planeta.
Quer beijar aquele cara 20 anos mais novo, mas tem medo de fazer papel ridículo.
Tem vontade de ficar em casa vendo um DVD, esparramada no sofá, mas se obriga a ir malhar. E por aí vai.
Tantos deveres, tanta preocupação em 'acertar', tanto empenho em passar na vida sem pegar recuperação...
Aí a vida vai ficando sem tempero, politicamente correta e existencialmente sem-graça, enquanto a gente vai ficando melancolicamente sem tesão...
Às vezes dá vontade de fazer tudo 'errado'. Deixar de lado a régua, o compasso, a bússola, a balança e os 10 mandamentos.
Ser ridícula, inadequada, incoerente e não estar nem aí pro que dizem e o que pensam a nosso respeito. Recusar prazeres incompletos e meias porções.
Até Santo Agostinho, que foi santo, uma vez se rebelou e disse uma frase mais ou menos assim: 'Deus, dai-me continência e castidade, mas não agora'...
Nós, que não aspiramos à santidade e estamos aqui de passagem, podemos (devemos?) desejar várias bolas de sorvete, bombons de muitos sabores, vários beijos bem dados, a água batendo sem pressa no corpo, o coração saciado.
Um dia a gente cria juízo. Um dia. Não tem que ser agora!
Por isso, garçom, por favor, me traga: cinco bolas de sorvete de chocolate, um sofá pra eu ver 10 episódios do 'Law and Order', uma caixa de trufas bem macias e o Richard Gere, nu, embrulhado pra presente. OK? Não necessariamente nessa ordem!
Depois a gente vê como é que faz pra consertar o estrago...
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
A música e o moedor de carnes - Fabiano Fontes
Muita coisa mudou, e para pior!!Não quero acreditar(nem ser saudosista) que o ouvinte piorou ou extinguiu o bom gosto musical.O resultado da premiação e a falta de preparo para apresentações ao vivo beirou o vexatório.Foi constragedor olhar as expressões de Arnaldo Antunes e Nando Reis ouvindo a banda feminina( e não por ser composta por mulheres) executar clássicos dos Titãs perdidas no palco procurando a vocalista ou um roteiro para se seguido.Fui obrigado a aceitar que os melhores são : Cine, Restart, Luan Santana ou Rodrigo Tavares(baixista do Fresno).
É certo o fim está próximo, a música morreu.O pouco que restava de música foi moída pela indústria e embalada com calças coloridas e riffs chicletes.A culpa é do Dadaísmo mal compreendido!isso mesmo, que gerou tardiamente na nova geração a sensação que para fazer arte não é preciso entendê la.Que sofrimento!
sábado, 28 de agosto de 2010
Otário Eleitoral 2 : A missão
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Otário Eleitoral Gratuito
domingo, 22 de agosto de 2010
E nós que temíamos Hitler - Giovana Marques Fontes
É claro que o apreço pela beleza faz parte da existência, desde os clássicos greco-romanos ela é colocada num patamar de excelência (vide as esculturas daquele período que retratavam homens fortes, viris ou heróis épicos como Aquiles e Heitor). Contudo, a partir dos anos setenta do século XX - período em que a alta costura já alucinava definitivamente as passarelas do mundo com suas modelos anoréxicas – a moda e suas tendências de cores e formas começaram a assombrar a vida de mulheres e, mais recentemente, de homens também. Todos queriam abandonar Hefestos e encontrar o Adônis adormecido. Estabeleceu-se que para ser aceito socialmente era necessário ostentar aqueles padrões. Parâmetros até então usuais de beleza e comportamento, que respeitavam as individualidades, foram gradativamente sendo substituídos por formas obsessivamente trabalhadas: abdomens transformaram-se em tanques, pernas tornaram-se fotalezas, seios passaram não só a indispensáveis, como são medidos em mililitros e não mais em centímetros.
O que não se levou em conta, nessa nova ditadura, foi que não há perfeição na humanidade, isso já é da natureza. As beyonce-julianapaes-larissariquelme et congeneres, os gianecchinis-bradpitts-roberthuchingsons não nascem feitos, moldam-se à custa de muita abstinência alimentar, excesso de malhação e, até, de alguns medicamentos de uso proibido que trarão sérios prejuízos à saúde no futuro. Esse fenômeno é tão doentio que a repórter Renata Capucci ─ que também não tem silhueta top model ─ sentiu-se à vontade para agredir, no twitter, a cantora Mariah Carey, ironizando-a por estar, na opinião da repórter, gorda. Eu nem gosto de Mariah, mas acho que o talento dela não depende de suas formas serem esguias ou roliças. Comentários dessa natureza só servem para reforçar a tese de que vivemos preocupados com futilidades ou, pior, exercendo nossa maldade e falta de autoestima criticando nos outros aquilo de que não gostamos em nós mesmos. Entretanto, o que nossa querida Capucci não percebe é que nem todos estão dispostos a essa transmutação física ou preparados para ela.
E é aí que nascem os problemas, todos (ou pelo menos a grande maioria) queremos ser aceitos, ser queridos e admirados. Mas como isso é possível se estamos a anos-luz de distância dos ditames impostos? Muito simples, tornamo-nos nossos próprios déspotas: freqüentamos exaustivamente academias (ou morremos de culpa se não podemos fazê-lo); fazemos a dieta do vinagre, do chá, da lua; compramos a cinta modeladora do Dr. Rey; entupimos salas de cirurgiões plásticos e, por fim, lotamos os consultórios psicológicos e psiquiátricos. Sim, pois ao final de tudo isso descobrimos que continuamos sendo nós mesmos e que, infelizmente, a mudança que almejamos tem de acontecer de dentro para fora e não ao contrário, por mais piegas e óbvia que essa constatação seja.
É hora, pois, de pensarmos em quem estamos nos transformando. É tempo de descobrir se aquele que vemos no espelho é realmente quem gostaríamos ou é apenas um produto para a satisfação alheia. Não faço aqui uma apologia contra a boa forma ou a cirurgia estética (mesmo porque estaria sendo hipócrita se o fizesse), chamo apenas a atenção para o fato de que estamos criando neuroses desnecessárias, afinal há mais gente necessitando de plásticas no caráter e no ego do que no corpo e isso, pesarosamente, não se consegue em consultórios médicos. Para a conquista de tal intento é preciso que reformemos nossos conceitos ditatoriais de mundo e, principalmente, que abandonemos nossas pequenezas, afinal criticar o “corpinho” de Mariah não nos faz dormir como Dona Redonda e acordar Angelina Jolie.
Em suma, vemos que a chegada da tão sonhada aceitação social está fundamentalmente ligada à descoberta de quem pretendemos ser e para quê. Só assim poderemos aniquilar esse carrasco interior que nos vitima. E pensar que durante tanto tempo nós temíamos Hitler, como se o grande inimigo estivesse fora e não dentro de nós mesmos.
sábado, 14 de agosto de 2010
Um café para dois só para mim - Fabiano Fontes
http://www.youtube.com/watch?v=cJo7dPq_rxg
Queria tanto te dizer
que tenho medo de perder você
quando você não está aqui
são coisas fúteis do amor
imaginar quando será o fim
do que apenas começou
O teu sorriso é uma canção
que eu guardei no coração
pra ter você perto de mim
e acreditar que até o fim
que você me completou
Castelos no ar
jogos de azar
um café para dois só para mim
Areia e o mar
eclipse lunar
um café para dois só para mim
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Vou ser deportado de Pasárgada! Giovana Fontes
O mais interessante é que se pensarmos nas questões históricas relacionadas às mobilidades dos povos chegaremos a algumas conclusões curiosas: a primeira delas é que a própria América é um continente totalmente formado por imigrantes, haja vista que os nativos de nosso continente foram quase completamente dizimados pelos conquistadores que aqui chegaram após Cristovão Colombo. A segunda é que os EUA, que agora rechaçam seus imigrantes (sobretudo os mexicanos) fundaram seu país saindo da Inglaterra para a América; portanto, se os nativos norteamericanos indígenas os tivessem expatriado - como agora querem fazer com os imigrantes ilegais - ou eles teriam voltado para casa e se sujeitado à estrutura religiosa inglesa contra a qual lutavam ou estariam vagando sem rumo, fazendo companhia aos Curdos, que não possuem uma terra própria. A terceira é que muitos dos estados americanos fronteiriços ao México eram pertencentes a este país e foram usurpados, pelos estadunidenses, por meio de batalhas ou acordos escusos.
Não bastasse isso, há que se considerar ainda que os imigrantes, na maior parte dos países para onde vão, executam trabalhos indignos ou, ao menos, realizam tarefas que não são desejadas pelos nativos, tais como serviços domésticos, trabalhos pesados na construção civil, atividades insalubres, dentre outras. Além disso, muitos destes indivíduos, justamente por estarem em situação ilegal, aceitam remunerações pequenas e ausência total de direitos trabalhistas, algo a que um nativo de países desenvolvidos provavelmente jamais se submeteria. Pelo menos não até que estas nações sofressem alguns colapsos financeiros ( como a crise imobiliária norteamericana em 2008) em virtude dos quais seus cidadãos perderam empregos e se viram endividados, passando, então, a perseguir duramente os imigrantes, os quais se tornaram alvo da responsabilidade pela ausência de empregos no país.
É oportuno, contudo, observar que o relatório da ONU de 2009 intitulado “Ultrapassar barreiras: mobilidade e desenvolvimento humanos” constatou, ao contrário do que afirmam os xenófobos segregacionistas, que apenas 37 % do fluxo migratório mundial acontece de países em desenvolvimento para países desenvolvidos e que a mão de obra trazida pelos estrangeiros é, via de regra, responsável pelo crescimento das economias dos Estados que os acolhem e não pelo colapso dela. O próprio Brasil pode e deve ser utilizado como um exemplo: sem a mão de obra dos italianos, alemães, ucranianos, poloneses, japoneses, dentro outros, que para cá vieram em fins do século XIX e início do século XX, certamente nosso desenvolvimento econômico e social teria sido prejudicado, haja vista que os estados do sul foram fundamentalmente colonizados por estes povos e são hoje todos economicamente bem desenvolvidos.
O mais impressionante é que essas medidas de endurecimento em relação ao fluxo migratório estão ganhando adeptos e podem, em pouco tempo, transformar-se em políticas altamente segregacionistas que acabarão por prejudicar também aos que vivem legalmente como imigrantes em um país, posto que elas acabam por incentivar ( e até legitimar) o ódio interracial. Às vezes fico pensando que se essa xenofobia ganhar proporções mais globalizadas e atingir as terras tupiniquins pode ser que em 2108, ao invés de comemorarmos com festa os 200 anos da imigração japonesa ao Brasil estejamos montando postos para deportação de todos os que possuam olhinhos puxados.
Enfim, se este despautério dirfarçado de política migratória (com intento “de diminuir a violência e combater o tráfico de drogas,” como alegam preconceituosamente os estadunidenses) continuar a crescer, temo que, no futuro, o poema “ Vou-me embora pra Pasárgada”, de Manuel Bandeira, se torne leitura proibida nas escolas, pois será uma espécie de ode ao desrespeito a tais políticas . Quanto ao coitado do “eu-lírico”, se ele investisse em sua ida ao paraíso por ele idealizado, em vez de “fazer ginástica, andar de bicicleta e tomar banhos de mar”, provavelmente seria deportado antes mesmo de conhecer as maravilhas locais.
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Dividindo a arte esquecida: Poema - Cazuza
"Eu hoje tive um pesadelo e levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo e procurei no escuro
Alguém com seu carinho e lembrei de um tempo
Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou um consolo
Hoje eu acordei com medo, mas não chorei
Nem reclamei abrigo
Do escuro, eu via um infinito sem presente
Passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo,
era uma coisa sua que ficou em mim, que não tem fim
De repente a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua
Que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio, mas também bonito
Porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu
Há minutos atrás"
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Revolução desarmada por Giovana Marques Fontes
Mas o que permitia a duas pessoas lerem a mesma obra, interpretá-la de maneiras opostas e, ao mesmo tempo, corretas? O fato de que a leitura nos propiciou, como aliás é sua função, momentos de fantasia, embevecimento e também capacidade de reflexão sobre o universo em que vivemos. Afinal, ler é a nossa maior arma, pois o conhecimento foi e sempre será o único e genuíno instrumento de poder, daí porque em tempos de guerra e de regimes ditatoriais os intelectuais são sempre os primeiros a serem silenciados.
Na realidade, quando entramos em contato com uma obra literária, revisitamos mundos, culturas, costumes e, sobretudo, enxergamos a alma alheia; e não só a do escritor que nos oferece de maneira tão pródiga suas impressões, mas também a nossa própria, pois reconhecemo-nos nas páginas, a nós e àqueles que nos cercam, fazendo com que repensemos nossa forma de agir e reagir sobre as coisas do mundo. Marcel Proust dizia que “ Na verdade, todo leitor é, quando está lendo, um leitor de si mesmo. O trabalho do escritor é meramente uma espécie de instrumento ótico, que ele oferece ao leitor para capacitá-lo a discernir aquilo que, sem o seu livro, ele talvez jamais experimentaria sozinho”.
Isso nos leva a perceber que quem não lê (sob a alegação de ser chato, ou pior, de que já passou boa parte da vida sem os livros e eles não fizeram falta) abdica da capacidade melhor dos seres humanos: pensar. Quando vemos em Clarice Lispector retratos de mulheres conformadas, como Laura, do conto A imitação da rosa, acabamos por refletir sobre que posição ocupamos. Estaríamos nós também sendo Lauras, nos resignando com a vida de mesmice que levamos? ( ou seríamos Emma Bovary, como queria minha colega?) Se analisamos com cuidado os casamentos frustrados de Lygia Fagundes Telles em Antes do Baile Verde, infelizmente, reconhecemos agir muitas vezes como as personagens ali descritas. Porém, se por um lado isto é trágico, pois pode nos prenunciar o mesmo destino, por outro nos permite rever nossas posições, alterar nossa “rota suicida”.
É interessante notar, contudo, que nossos jovens têm lido cada vez menos e se acham, por isso, altamente transgressores. Creem firmemente que ao negarem a fantasia e o conhecimento trazidos pela literatura estejam afrontando seus pais e professores, reafirmando a sua condição (felizmente passageira) de adolescentes, no sentido mais estrito do termo. Quanta inocência! Não percebem que os únicos prejudicados são eles mesmos, posto que quanto menor sua capacidade de pensar, criar e criticar o mundo em que vivem, mais eles são manipuláveis, tornando-se os alfinetes do Apólogo de Machado de Assis: onde os põem , ficam; pois no mais das vezes nem se dão conta de que estão sendo dirigidos.
Portanto, se queremos realmente transgredir e mudar algo ( como atestam os adolescentes) façamos a revolução desarmada: leiamos, que o melhor remédio para as dores da alma e do consciente é dar a eles a fantasia e a capacidade de reflexão que só a leitura, em sentido amplo, pode nos propiciar.
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
A reedição do passado: receita de heroi
Receita para fazer um heroi
Giovana Marques Fontes*
Segundo o Moderno Dicionário da Língua Portuguesa Michaellis, herói é : “Homem elevado a semideus após a morte, por seus serviços relevantes à humanidade”. Que o mundo está carente de heróis, é um fato; pois há muito não temos um grande ídolo, honrado, bravo, destemido, que faça por merecer a designação anterior, dando-nos motivo para tomá-lo como espelho. Entretanto, mais deplorável do que não ter alguém em quem nos mirar, é ter de viver para ver a fabricação barata de mitos.
Estamos em um tempo em que as qualidades essenciais aos vencedores típicos, aos heróis natos, vêm sendo deliberadamente abandonadas em detrimento de receitas de fácil digestão. Leia-se a apologia à ignorância e ao mau gosto, aliados à falta de caráter e a uma falsa ingenuidade, representados pelo tal Cleber Bambam, o herói-miojo do momento.
Talvez isso se dê para acompanhar a evolução tecnológica, a qual impôs um ritmo frenético de vida, decretando a morte precoce das coisas e dos valores a serem adotados, criando este estilo novo de personalidade a ser admirada: o herói de preparo instantâneo.
Como se faz um? Vide a receita, é simples: pegue povos carentes de ídolos, dê-lhes uma personalidade, de preferência mundial – um Michael Schumacher, digamos – adicione uma equipe de fórmula um interessada em vencer a qualquer preço; junte a isso a falta de auto-estima (e porque não dizer de vergonha) da figura em questão. Por fim, acrescente um companheiro de equipe que conhece o real significado desse termo e que, preferencialmente, seja oriundo de um país de terceiro mundo. Leve ao fogo brando, por mais ou menos dois anos, e o seu herói triunfará mesmo sem ter vencido.
Nessas horas chego a ficar feliz por nosso verdadeiro ídolo, Airton Senna , estar morto. Pois seria humilhante demais para ele viver para ver tamanho desmerecimento com o posto que um dia ocupou com tanta dignidade e brilhantismo. Que era é essa, em que um herói não é aquele que, como Senna, respeita aos demais, dando-lhes apoio e amizade, mas aquele para quem os fins – a fama – justificam os meios – vencer sem ter vencido.
Em casos como esses, vemo-nos obrigados a concordar que a personagem Brás Cubas, de Machado de Assis, tinha suas razões ao afirmar: “Não tive filhos, não transmiti a ninguém o legado de minha miséria.” Afinal, o que dirá nossa prole, num futuro próximo, quando souber que a geração de seus pais pautou-se em mitos degradados, em personificações do epíteto de Macunaíma: heróis sem nenhum caráter.
Definitiva e finalmente, isso nos leva a crer que qualquer um de nós pode fabricar heróis à sua moda, eximindo-se do peso que isso deveria acarretar. Afinal, qualquer um que tenha uma carinha bonita, um corpinho sarado ou milhões de dólares, pode comprar pra si esse posto, o qual até bem pouco tempo atrás demandava anos de dedicação e comportamento exemplar para ser conseguido.
quarta-feira, 28 de julho de 2010
República Dominicana: história e abandono
quinta-feira, 15 de julho de 2010
A Constituição e a Igreja
terça-feira, 13 de julho de 2010
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Mia Couto e o sabor da literatura moçambicana
domingo, 11 de julho de 2010
Síndrome de Piquet por Giovana Fontes
Em tempo, Piquet dizia isso até que seu filho, o brilhante lanterninha da Fórmula 1, passou a ocupar esse posto: estranhamente, papai mudou de idéia desde então. Mas, chega de elocubrações e vamos aos fatos: por que a nós, brasileiros, só a vitória interessa? Penso às vezes que desejá-la, e a ela somente, é uma forma de tentar dizimar nossas demais mazelas, ainda que seja por um único dia. A impressão que dá é que somos um povo sem autoestima, que precisa se vangloriar muito daquilo que pensa ser a sua única vocação─ ganhar no futebol─ com o intuito de se sobrepor aos demais.
Entretanto, um país que pretende estar no “primeiro mundo”, como se diz no jargão econômico, precisa ter algo a mais do que um bom PIB, uma balança comercial em superávit, um presidente respeitável (embora esse não seja bem o caso atual), uma política internacional organizada e uma seleção hexacampeã. Quem anseia ocupar este posto necessita, antes de mais nada, saber quem é e ter orgulho de si, em vez de tentar se tornar um simulacro de economia americana amalgamado com a atávica vergonha tupiniquim de quem somos.
O que colocou os países ricos no posto que ocupam, em primeiro lugar, foi o fato de que investiram maciçamente em educação pública de qualidade; em segundo, o orgulho patriótico que seus nativos possuem ─ e que não é bissexto, como nosso ─ e que os move a querer trabalhar em prol de sua nação, auxiliando, portanto, no combate à corrupção. Ademais, esses países também aprenderam, por mais senso comum que a afirmação pareça, que a derrota, quando bem digerida, ensina melhor e mais rápido do que a vitória. Thomas Edison produziu três mil inventos infecundos antes de conseguir, finalmente, criar a lâmpada elétrica, contudo quando questionado sobre o porquê não desistiu, já que havia errado tanto, respondeu singelamente: “Eu não errei, apenas descobri três mil maneiras de como não se faz uma lâmpada.”
Tomemos, portanto, o ensinamento de Edison na tentativa de abolirmos essa medíocre síndrome de Piquet que nos assola. Não perdemos a Copa do Mundo, apenas. Descobrimos, talvez, como não se conduzir uma seleção e por que não se pode concentrar todos os esforços em única tarefa: a de torcer; e, certamente, devemos também descobrir que nossos “ hermanos” têm razão: dar suporte a quem perde é uma forma digna de reconhecer que a falha faz parte do aprendizado e , sobretudo, devemos aprender que se todo o orgulho de uma nação está na ponta de onze chuteiras, então, definitivamente, esse lugar não tem como prosperar.